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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA LEÃO XIV
À TÜRKIYE E AO LÍBANO COM PEREGRINAÇÃO A İZNIK (TÜRKIYE)
POR OCASIÃO DO 1700º ANIVERSÁRIO DO I CONCÍLIO DE NICEIA
(27 DE NOVEMBRO - 2 DE DEZEMBRO DE 2025)

CONFERÊNCIA DE IMPRENSA DO SANTO PADRE 
NO VOO DE REGRESSO A ROMA

Voo papal
Terça-feira, 2 de dezembro de 2025

[Multimídia]

____________________________________

Matteo Bruni

Bom dia, Santidade! E bom dia a todos!

Obrigado por se juntar a nós aqui atrás para uma entrevista. Obrigado por estes dias que pudemos passar acompanhando a viagem pelos dois países que visitou. Para este último país, o Líbano, há algumas perguntas dos jornalistas, mas antes gostaria de dizer algumas palavras. Há uma jornalista que trabalhou por muitos anos acompanhando a Santa Sé, o Vaticano, o Papa, e que em dezembro se aposentará: Cindy Wooden, que trabalha com a CNS. A convivência foi preciosa e amigável durante todos esses anos.

Em vez disso, em relação às perguntas, a primeira será feira por um jornalista libanês, caso o senhor não queira dizer nada primeiro...

Papa Leão XIV

Só uma palavra. Bom dia a todos! Em primeiro lugar, quero agradecer a todos vós, que trabalhastes tanto, e gostaria que transmitísseis esta mensagem também aos outros jornalistas, tanto na Turquia como no Líbano, aos muitos que trabalharam para comunicar as importantes mensagens desta viagem. Então, obrigado a vós, todos vós mereceis um forte aplauso pelo vosso trabalho. Obrigado, obrigado!

Matteo Bruni

A primeira pergunta é de Joseph Farchakh, da Televisão pública libanesa (LBC International).

Joseph Farchakh - Televisão pública libanesa (LBC International)

Em primeiro lugar, muito obrigado por nos conceder esta oportunidade como o único meio de comunicação libanês a acompanhá-lo na sua primeira viagem ao estrangeiro. Antes da minha pergunta, este é um presente da família LBCI. Foi desenhado ao vivo na televisão enquanto o senhor se deslocava de um local para outro. Este é o senhor e estes são os diferentes locais. O senhor pode ver Nossa Senhora do Líbano, São Charbel, o porto de Beirute, todos os locais, todos os locais notáveis.

Então, realmente, agradecemos muito por nos abençoar com esta oportunidade. No verso, pode encontrar uma sincera mensagem de agradecimento do nosso Presidente do Conselho e sua esposa — Pierre e Randa Daher — Eles estão muito gratos por esta oportunidade. Foi pintado ao vivo, enquanto o senhor se deslocava de um ponto para outro.

Voltando à minha pergunta, Santidade: o senhor é um Papa americano que lidera um processo de paz, que está numa missão de paz na região. A minha pergunta é: o senhor usará as suas relações com o Presidente Donald Trump, com o Primeiro-ministro Benjamin Nethanyau, e antes o senhor declarou no avião que o Vaticano é amigo de Israel? O senhor abordará a necessidade de deter as agressões israelitas contra o Líbano? É possível alcançar uma paz sustentável na região?

Papa Leão XIV

Primeiramente, sim, acredito que a paz sustentável é possível. Penso que quando falamos sobre esperança, sobre paz e olhamos para o futuro, fazemo-lo porque acredito que é possível que a paz volte à região e ao seu país, o Líbano. Na realidade, já iniciei, de forma muito modesta, algumas conversas com alguns dos líderes dos locais que mencionou e pretendo continuar a fazê-lo, pessoalmente ou através da Santa Sé; porque a verdade é que temos relações diplomáticas com a maioria dos países da região e é certamente nossa esperança continuar a lançar aquele apelo à paz de que falei no final da Missa de hoje.

Matteo Bruni

Obrigado, Santidade. A próxima pergunta é de Imad Atrach, da Sky News Arabia.

Imad Atrach - Sky News Arabia

Santidade, sou libanês, por isso, se me permite, falarei em italiano. Santidade, no seu último discurso, que considero muito importante, havia uma mensagem clara para as autoridades libanesas: que deveriam negociar. Portanto, negociar, dialogar, construir. O Vaticano fará algo concreto nesse sentido? Ontem à noite, o senhor também se encontrou com um representante xiita. Antes da sua viagem, o Hezbollah enviou-lhe uma mensagem: não sei se o senhor a recebeu, se a leu e o que poderia nos dizer a esse respeito. Muito obrigado por visitar o Líbano, pois isso era um sonho para nós.

Papa Leão XIV

Bem, obrigado. Esse é um aspecto desta viagem que não foi, digamos, a causa principal, porque a viagem em si surgiu pensando em questões ecuménicas, com o tema de Nicéia, o encontro com os Patriarcas católicos e ortodoxos, e buscando a unidade na Igreja. Contudo, durante esta viagem, também tive encontros pessoais com representantes de diferentes grupos que, na realidade, representam autoridades políticas, pessoas ou grupos que também têm algo a ver com os conflitos internos ou mesmo internacionais na região. O nosso trabalho não é principalmente algo público que anunciamos nas ruas, é um pouco «nos bastidores». É algo que, efetivamente, já fizemos e continuaremos a fazer para tentar, digamos, convencer as partes a largarem as armas, a violência, e a sentarem-se à mesa do diálogo. Procurar respostas e soluções que não sejam violentas, mas que possam ser mais eficazes e melhores para o povo.

Imad Atrach - Sky News Arabia

O senhor viu a mensagem do Hezbollah?

Papa Leão XIV

Sim, eu vi. Evidentemente, há, por parte da Igreja, a proposta de que eles larguem as armas e que busquemos o diálogo. Mas, além disso, prefiro não comentar neste contexto.

Matteo Bruni

Obrigado, Santidade. A outra pergunta é de Cindy Wooden, da CNS (Catholic News Service).

Cindy Wooden - CNS

Santo Padre, há alguns meses, o senhor disse que há uma curva de aprendizagem para ser Papa. Quando chegou ontem a Harissa, com as calorosas boas-vindas, parecia que o senhor disse «uau». Pode contar-nos o que está a aprender? Para o senhor, o que é mais difícil de aprender para ser Papa? E também não nos contou nada sobre como se sentiu no Conclave quando ficou claro o que estava a acontecer. Pode contar-nos um pouco sobre isso?

Papa Leão XIV

Bem, o meu primeiro comentário seria que, há apenas um ou dois anos, eu também pensava em me aposentar algum dia. Parece que você recebeu esse presente. Alguns de nós continuaremos a trabalhar.

Quanto ao Conclave em si, acredito firmemente no sigilo do Conclave, embora saiba que houve entrevistas públicas em que algumas coisas foram reveladas. No dia anterior à minha eleição, uma repórter abordou-me na rua, quando eu ia almoçar no restaurante dos Agostinianos, e perguntou-me: «O que acha? O senhor tornou-se um dos candidatos!». E eu simplesmente respondi: “Tudo está nas mãos de Deus”. E acredito profundamente nisso. Um de vós, há um jornalista alemão aqui que me disse outro dia: “Indique-me um livro, além de Santo Agostinho, que possamos ler para entender quem é Prevost”. E pensei em vários, mas um deles é um livro chamado “A prática da presença de Deus”. É um livro muito simples, escrito por alguém que nem sequer revela o seu apelido, o irmão Lawrence. Li-o há muitos anos.

Mas descreve, se assim quiserem, um tipo de oração e espiritualidade em que a pessoa simplesmente entrega a sua vida ao Senhor e permite que Ele a guie. Se quereis saber algo sobre mim, essa tem sido a minha espiritualidade há muitos anos. No meio de grandes desafios, vivendo no Peru durante anos de terrorismo, sendo chamado a servir em lugares onde nunca pensei que seria chamado a servir. Confio em Deus e essa mensagem é algo que partilho com todas as pessoas. Então, como foi [o momento do Conclave]? Resignei-me à realidade quando vi como as coisas estavam a correr e disse que isso poderia ser uma possibilidade real. Respirei fundo e disse: “Aqui vamos nós, Senhor, Vós estais no comando e Vós conduzis o caminho”.

Cindy Wooden repete a primeira parte da sua pergunta.

Papa Leão XIV

Não sei se disse “uau” ontem à noite. No sentido de que… o meu rosto é muito expressivo, mas muitas vezes acho engraçado como os jornalistas interpretam a minha expressão facial. A sério, acho isso interessante. Às vezes recebo ideias realmente ótimas de todos vós, porque pensais que podeis ler a minha mente ou a minha expressão facial. E não é assim; nem sempre estais certos. Quero dizer, eu estava no Jubileu dos Jovens, onde havia mais de um milhão de pessoas. Ontem à noite, a multidão era pequena. Para mim, é sempre maravilhoso. Quero dizer, penso comigo mesmo que essas pessoas estão aqui porque querem ver o Papa; mas digo a mim mesmo que elas estão aqui porque querem ver Jesus Cristo e, neste caso em particular, querem ver um mensageiro da paz. Então, apenas ouvir o seu entusiasmo e ouvir a resposta delas a essa mensagem é algo que eu acho que é… esse entusiasmo é inspirador. Só espero nunca me cansar de apreciar tudo o que todos esses jovens estão a demonstrar.

Matteo Bruni

Obrigado, Santidade. A próxima pergunta é de Gian Guido Vecchi, do Corriere della Sera.

Gian Guido Vecchi – Corriere della Sera

São momentos de grande tensão entre a NATO e a Rússia; fala-se de guerra híbrida, perspectivas de ciberataques e coisas do género. O senhor vê o risco de uma escalada, ou seja, de um conflito levado adiante com novos meios, como denunciado pelos líderes da NATO? E, neste clima, pode haver uma negociação para uma paz justa sem a Europa, que tem sido sistematicamente excluída pela administração americana nestes últimos meses?

Papa Leão XIV

Este é um tema evidentemente importante para a paz no mundo, mas a Santa Sé não tem uma participação direta, porque não somos membros da NATO e de todos os diálogos até agora. Embora muitas vezes tenhamos pedido o cessar-fogo, o diálogo e não a guerra. É uma guerra com muitos aspectos agora, mesmo com o aumento das armas, toda a produção que existe, os ciberataques, a energia. Agora que o inverno está a chegar, há também uma questão muito séria ali. É evidente que, por um lado, o presidente dos Estados Unidos pensa que pode promover um plano de paz que gostaria de fazer e que, pelo menos num primeiro momento, foi sem a Europa. No entanto, a presença da Europa é, na realidade, importante, e essa primeira proposta foi alterada também devido ao que a Europa estava a dizer. Especificamente, penso que o papel da Itália poderia ser muito importante. Precisamente, digamos cultural e historicamente, pela capacidade que a Itália tem de ser mediadora num conflito que existe entre diferentes partes. Também a Ucrânia, a Rússia, evidentemente, os Estados Unidos... Nesse sentido, eu poderia sugerir que a Santa Sé também incentive esse tipo de mediação e que se busque, juntos, uma solução que realmente possa oferecer paz, uma paz justa, neste caso, na Ucrânia. Obrigado!

Matteo Bruni

Obrigado, Santidade! A próxima pergunta é de Elisabetta Piqué, do La Nación, que também está aqui à frente.

Elisabetta Piqué - La Nación

Santo Padre, antes de mais, obrigado por esta primeira viagem internacional. Depois, bem, a bandeira do Líbano tem as mesmas cores da bandeira do Peru: é um sinal de que o senhor vai fazer esta viagem à América Latina, teoricamente na segunda metade do próximo ano, com a Argentina e o Uruguai, que ficaram pendentes? Brincadeiras à parte, na verdade gostaríamos de perguntar quais viagens está a preparar para o próximo ano. Quanto à América Latina, há uma grande preocupação, há muita tensão pelo que está a acontecer na Venezuela. Há um ultimato do Presidente Trump a Maduro para que ele se vá embora, para que deixe o poder, e uma ameaça de derrubá-lo com uma operação militar. Gostaríamos de perguntar o que o senhor pensa sobre isso. Obrigado.

Papa Leão XIV

Quanto às viagens, não há nada de certo. Espero fazer uma viagem a África. Seria possivelmente a próxima viagem.

Elisabetta Piqué

Onde?

Papa Leão XIV

África, África. Pessoalmente, espero ir à Argélia para visitar os locais da vida de Santo Agostinho, mas também para continuar o caminho do diálogo, da construção de pontes entre o mundo cristão e o mundo muçulmano. Já no passado, noutra função, tive a oportunidade de falar precisamente sobre este tema. É interessante: a figura de Santo Agostinho ajuda muito como ponte, porque na Argélia ele é muito respeitado como filho da pátria. Esse é um. Estamos a trabalhar em alguns outros países. Evidentemente, gostaria muito de visitar a América Latina, a Argentina e o Uruguai, que estão à espera da visita do Papa. Peru… acho que eles vão me receber bem! Então, se eu for ao Peru, também poderei visitar muitos países vizinhos… Mas ainda é um projeto, o projeto não está definido…

Elisabetta Piqué

2026 o 2027?

Papa Leão XIV

2026 o 2027, estamos vendo.

Elisabetta Piqué

Obrigado.

Papa Leão XIV

Sobre a Venezuela, ao nível da Conferência Episcopal, com o Núncio, estamos a procurar formas de acalmar a situação, procurando acima de tudo o bem do povo, porque muitas vezes quem sofre nestas situações é o povo, não são as autoridades. As vozes que vêm dos Estados Unidos mudam, e com certa frequência; às vezes, é preciso ver. Por um lado, parece que houve uma conversa por telefone entre os dois presidentes. Por outro lado, existe esse perigo, essa possibilidade de haver alguma atividade, alguma operação, inclusive invadindo o território da Venezuela. Já não sei mais; novamente, acredito que é, digamos, melhor buscar maneiras de diálogo, talvez pressão, inclusive pressão económica, mas buscando outra maneira de mudar, se é isso que os Estados Unidos decidirem fazer.

Matteo Bruni

Obrigado, Elisabetta. Santidade, a outra pergunta é de Mikael Corre, do La Croix.

Mikael Corre - La Croix

Olá, Santidade. Obrigado por esta viagem tão interessante. O senhor acabou de falar sobre continuar a construir pontes entre mundos diferentes, e eu gostaria de perguntar uma coisa. Alguns católicos na Europa acreditam que o Islão é uma ameaça à identidade cristã do Ocidente. Eles estão certos? E o que o senhor diria a eles?

Papa Leão XIV

Todas as conversas que tive durante a minha estadia, tanto na Turquia como no Líbano, incluindo com muitos muçulmanos, concentraram-se precisamente no tema da paz e do respeito pelas pessoas de diferentes religiões. Sei, realmente, que nem sempre foi assim. Sei que na Europa existem muitas vezes receios, mas muitas vezes gerados por pessoas que são contra a imigração e tentam manter afastadas pessoas que podem ser de outro país, outra religião, outra raça. E, nesse sentido, diria que todos precisamos trabalhar juntos. Um dos valores desta viagem é precisamente chamar a atenção do mundo para a possibilidade de diálogo e amizade entre muçulmanos e cristãos. Penso que uma das grandes lições que o Líbano pode ensinar ao mundo é precisamente mostrar uma terra onde o Islão e o Cristianismo estão ambos presentes e são respeitados, e que existe a possibilidade de vivermos juntos, de sermos amigos. Histórias, testemunhos e relatos que ouvimos nos últimos dois dias sobre pessoas a ajudarem-se mutuamente, cristãos com muçulmanos, ambos com aldeias destruídas, por exemplo, diziam que podemos unir-nos e trabalhar juntos. Penso que essas são lições que também seria importante ouvir na Europa ou na América do Norte. Que talvez devêssemos ser um pouco menos receosos e procurar formas de promover o diálogo autêntico e o respeito.

Matteo Bruni

A próxima pergunta vem da jornalista da ARD Radio, Anna Giordano.

Anna Giordano - ARD Radio

A Igreja no Líbano também é apoiada pela Igreja alemã. Existem, por exemplo, algumas agências de ajuda humanitária alemãs muito ativas no Líbano. Portanto, desse ponto de vista, é importante que a Igreja alemã seja forte. Como provavelmente o senhor sabe, existe o Caminho Sinodal, que chamamos de Synodaler Weg, um processo de mudança em curso na Igreja alemã. O senhor acha que esse processo pode ser uma forma de fortalecer a Igreja na Alemanha? Ou é o contrário? E por quê?

Papa Leão XIV

O Caminho Sinodal não é exclusivo da Alemanha, já que toda a Igreja celebrou um sínodo e a sinodalidade nos últimos anos. Existem algumas grandes semelhanças, mas também algumas diferenças marcantes entre a forma como o Synodale Weg foi levado adiante na Alemanha e como ele poderá continuar na Igreja universal. Por um lado, diria que há certamente espaço para o respeito pela inculturação. A circunstância de, num determinado lugar, a sinodalidade ser vivida de uma determinada maneira e, noutro lugar, ser vivida de forma diferente, não significa que haja uma ruptura ou uma fratura. Penso que é muito importante recordar isso. Ao mesmo tempo, estou ciente de que muitos católicos na Alemanha acreditam que certos aspetos do Caminho Sinodal que tem sido celebrado na Alemanha até agora não representam a sua própria esperança para a Igreja, nem a sua própria maneira de viver a Igreja. Portanto, é necessário continuar o diálogo e a escuta dentro da própria Alemanha, para que nenhuma voz seja excluída, para que a voz dos mais poderosos não silencie ou sufoque a voz daqueles que também podem ser muito numerosos, mas não têm um lugar para se expressar e para que as suas próprias vozes e expressões de participação na Igreja sejam ouvidas. Além disso, como certamente sabem, nos últimos dois anos os bispos alemães têm-se reunido com um grupo de cardeais da Cúria Romana. Há também um processo em curso para tentar garantir que o Caminho Sinodal Alemão não se afaste, por assim dizer, do que deve ser considerado como o caminho da Igreja universal. Tenho a certeza de que isso irá continuar. Suspeito que haverá alguns ajustes a serem feitos por ambos os lados na Alemanha, mas tenho esperança de que as coisas se resolvam de forma positiva.

Matteo Bruni

Obrigado, Santidade, obrigado, Anna. E a última pergunta, Santidade, é de Rita El-Mounayer (Sat-7 International), outra jornalista que vem do Líbano.

Rita El-Mounayer - Sat-7 International

Somos quatro canais cristãos distintos que transmitem no Médio Oriente e no Norte de África, dois em árabe, um em farsi e um em turco. Em primeiro lugar, gostaria de agradecer por disponibilizar tempo para o povo libanês. Eu mesma sou uma criança da guerra e sei o quanto significa receber um abraço de Vossa Santidade, um tapinha no ombro e ouvir: «Tudo vai ficar bem». E o que me impressionou foi o seu lema, Santidade, que diz «n'Aquele que é uno, somos um». Este lema fala da construção de pontes entre diferentes denominações cristãs, entre religiões e também entre vizinhos, o que por vezes pode ser um pouco difícil.

Portanto, a minha pergunta é: desde o seu próprio ponto de vista, que dom singular a Igreja no Médio Oriente — com todas as suas lágrimas, feridas, desafios e história passada — tem para oferecer à Igreja no Ocidente e ao mundo?

Papa Leão XIV

Deixe-me começar a minha resposta dizendo que hoje em dia as pessoas que cresceram numa sociedade muito individualista — jovens que passaram muito tempo isolados durante a pandemia da COVID e cujas relações pessoais são frequentemente muito restritas, na realidade porque se limitam aos ecrãs dos computadores ou smartphones — às vezes perguntam: «Por que devemos querer ser um só? Eu sou um indivíduo e não me importo com os outros.» E penso que há aqui uma mensagem muito importante que deve ser transmitida a todas as pessoas: que a unidade, a amizade, as relações humanas, a comunhão, são extremamente importantes e valiosas. Se não for por outra razão, pelo menos pelo exemplo que mencionaste sobre o quanto um abraço pode significar para alguém que viveu uma guerra ou sofreu e ainda está sentindo dores. O que essa expressão muito humana, real e saudável de cuidado pessoal pode fazer para curar o coração de outra pessoa. Uma relação pessoal, que pode tornar-se, se quiser, uma relação comum, uma relação comunitária que nos une a todos e nos ajuda a compreender que o respeito mútuo vai muito além de «mantenha distância, eu fico aqui, você fica ali e não teremos nenhuma interação». Significa construir relações que enriquecem todas as pessoas. Certamente também com essa mensagem, o meu lema é principalmente por causa de Cristo «in illo» é «em Cristo, que é Uno, todos nós somos um». Mas não é definido, por assim dizer, apenas para os cristãos. É, na verdade, um convite a todos nós e aos outros para que digamos: quanto mais pudermos promover a unidade e a compreensão autênticas, o respeito e as relações humanas de amizade e diálogo no mundo, maior será a possibilidade de deixarmos de lado as armas da guerra, de deixarmos de lado a desconfiança, o ódio, a animosidade que tantas vezes se acumulou e de encontrarmos formas de nos unirmos e sermos capazes de promover a paz e a justiça autênticas em todo o mundo.

Matteo Bruni

Obrigado, Santidade, por esta e por todas as suas respostas. Obrigado pela disponibilidade durante esta viagem.

Papa Leão XIV

Boa viagem a todos e obrigado a vós!

Matteo Bruni

Obrigado!