DISCURSO DO PAPA FRANCISCO
AOS PENITENCIEIROS DO VATICANO
Sala do Consistório
Quinta-feira, 24 de outubro de 2024
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Queridos irmãos e irmãs, Eminência, bom dia!
Saúdo o Padre Vincenzo Cosatti e todos vós. Estou feliz por me encontrar convosco por ocasião do 250º aniversário da atribuição do ministério das confissões na Basílica de São Pedro aos Frades Menores Conventuais (cf. Clemente XIV, Motu proprio Miserator Dominus, 10 de agosto de 1774). Foi Clemente XIV que o fez, talvez uma das coisas boas que fez. Mas, pobrezinho, as outras fê-las por inspiração desse vosso confrade, Bontempi, que julgo estar ainda no inferno [risos], mas não tenho a certeza. Quando Clemente XIV morreu, Bontempi foi refugiar-se na embaixada de Espanha, porque tinha medo. Passados alguns meses, quando foi restabelecida a paz, foi ter com o General e disse-lhe: “Padre Geral, trago aqui três Bulas. [Em troca peço] primeiro, que possa ter dinheiro – franciscano! –; segundo, que possa viver fora da comunidade; e terceiro, que possa viajar para onde eu quiser”. E o Geral, um sábio Conventual, pegou nas Bulas: “Mas, meu caro, falta uma” – “Qual, Padre?” “Aquela que assegure a salvação da tua alma!” Isto é histórico, pois ele tinha enganado o Papa Ganganelli com todas estas coisas. Bontempi era um espertalhão!
Todos os dias, a Basílica de São Pedro é visitada por mais de quarenta mil pessoas. Todos os dias! Muitas vêm de longe e enfrentam viagens, despesas e longas filas para conseguirem chegar; a maioria vem por turismo. Mas entre elas, são numerosas as que vêm para rezar junto do túmulo do Primeiro dos Apóstolos, para confirmar a sua fé e a sua comunhão com a Igreja e confiar importantes intenções ao Senhor ou para cumprir promessas que fizeram. Outras pessoas, mesmo de diferentes credos, entram nela “como turistas”, atraídas pela beleza, pela história e pelo encanto da arte. Mas em todos, consciente ou inconscientemente, há uma grande busca: a busca de Deus, Beleza e Bem eterno, cujo desejo vive e pulsa no coração de cada homem e mulher que se encontra neste mundo. O desejo de Deus.
A vossa presença neste contexto é importante. Para os fiéis e os peregrinos, porque lhes permite encontrar o Senhor da misericórdia no Sacramento da Reconciliação. Caríssimos, perdoai tudo, tudo, tudo. Fazei-o sempre: perdoai tudo! Nós estamos para perdoar; um outro qualquer estará para discutir! E para todos os outros [também a vossa presença é importante], porque lhes testemunha que a Igreja os acolhe antes de mais como comunidade daqueles que foram salvos, perdoados, e que acreditam, esperam e amam à luz e com a força da ternura de Deus. Detenhamo-nos, pois, por um momento, a refletir sobre o ministério que desempenhais, sublinhando nele três aspetos particulares: a humildade, a escuta e a misericórdia.
Primeiro: a humildade. Ensina-no-la o apóstolo Pedro, discípulo perdoado, que chega a derramar o seu sangue no martírio, mas só depois de ter chorado humildemente os seus pecados (Lc 22, 56-62). Ele recorda-nos que cada Apóstolo – e cada Penitencieiro – leva num vaso de barro o tesouro de graça que distribui, «para que se veja que este extraordinário poder é de Deus e não é nosso» (2 Cor 4, 7). Portanto, queridos irmãos, para sermos bons confessores, comecemos «nós mesmos, por nos fazer penitentes em busca do perdão» (Bula Misericordiae Vultus, 17), difundindo sob as imponentes abóbadas da Basílica Vaticana o perfume de uma oração humilde, que implora e suplica piedade.
Segundo: a escuta de todos, mas sobretudo dos jovens e dos mais pequenos. É o testemunho de Pedro pastor, que caminha no meio do seu rebanho e cresce na escuta do Espírito através da voz dos seus irmãos (Act 10, 34-48). Com efeito, escutar não é apenas ouvir o que as pessoas dizem, mas é, antes de mais, acolher as suas palavras como dom de Deus para a própria conversão, com docilidade, como o barro nas mãos do oleiro (cf. Is 64, 7). A este respeito, far-nos-á bem nunca esquecer que «Ouvindo deveras o irmão no diálogo sacramental, nós ouvimos o próprio Jesus, pobre e humilde; […] tornamo-nos ouvintes da Palavra» (Discurso aos participantes no Curso sobre o Foro íntimo organizado pela Penitenciaria Apostólica, 9 de março de 2018), e que só assim podemos esperar oferecer-lhe o maior serviço: o de o pôr «em contacto com o próprio Jesus» (ibid.). Ouvir, não tanto perguntar. Não faças de psiquiatra, por favor: ouvir, ouvir sempre, com mansidão. E quando vires que há um penitente que começa a ter alguma dificuldade, porque tem vergonha, diz: “Compreendi”; não compreendi nada, mas compreendi. Deus compreendeu e isso é que é importante. Foi um grande Cardeal penitenciário que mo ensinou: “Compreendi”; o Senhor compreendeu. Mas, por favor, não faças de psiquiatra; quanto menos falares, melhor: escuta, consola e perdoa. Tu estás ali para perdoar!
Por fim, em terceiro lugar: a misericórdia. Como dispensadores do perdão de Deus, é importante ser “homens de misericórdia”, homens radiantes, generosos, prontos a compreender e a consolar, com palavras e atitudes. Também neste aspeto Pedro é um exemplo para nós, com os seus discursos impregnados de perdão (cf. At 3, 12-20). O confessor – vaso de barro, como dissemos – só tem um remédio para derramar sobre as feridas dos seus irmãos: a misericórdia de Deus. Aqueles três aspetos de Deus: proximidade, misericórdia e compaixão. O confessor deve ser próximo, misericordioso e compassivo. Quando um confessor começa a perguntar... Não! Estás a fazer de psiquiatra; por favor, pára. Era o que ensinava São Leopoldo Mandić, que tanto gostava de repetir: «Porque havemos de humilhar ainda mais as almas que vêm prostrar-se aos nossos pés? Não estão já suficientemente humilhadas? Porventura, Jesus humilhou o publicano, a adúltera, Madalena?», e acrescentava: «Se o Senhor me censurar por eu ter usado de demasiada largueza, poderei dizer-lhe: “Padre bendito, fostes vós que, movido pela vossa divina caridade, me destes este mau exemplo, morrendo na cruz pelas almas”» (cf. Lorenzo da Fara, Leopoldo Mandic. L'umanità la santità, Velar, 1989). Que o Senhor nos dê a graça de poder repetir as mesmas palavras!
Já contei algumas vezes a história daquele Capuchinho que é confessor em Buenos Aires, porém não sei se já vo-la contei a vós. Fi-lo Cardeal, não desta vez, mas da outra. Tem 96 anos e continua a confessar; eu ia ter com ele, ele perdoa tudo! Uma vez veio dizer-me que tinha medo de perdoar demasiado. “E o que é que tu fazes?”, disse-lhe eu. “Vou ter com o Senhor: Senhor, perdoais-me? Desculpai-me, perdoei demasiado! Mas atenção, fostes Vós que me destes o mau exemplo!”. Perdoar sempre, tudo e sem perguntar muita coisa. E se eu não compreendo? Deus compreende; tu segue em frente! Que sintam a misericórdia.
Queridos irmãos, obrigado pelo vosso serviço, pela vossa assiduidade e paciência, pela vossa fidelidade! O meu confessor morreu há alguns meses; agora, vou confessar-me a vós, em São Pedro. Fazei bem! Obrigado por serdes, no coração da Igreja, ministros da presença sacramental de Deus-amor. Continuai o vosso ministério assim: na humildade – eu sou pior que tu –; na escuta e não tanto nas perguntas; e na misericórdia.
Por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. E sempre que for ter convosco, perdoai-me, compreende-se…
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