MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO
PARA O LANÇAMENTO DA DÉCADA DE RESTAURAÇÃO DE ECOSSISTEMAS
PROMOVIDA PELA ONU
4 de junho de 2021
Excelências!
Amanhã celebramos o Dia Mundial do Meio Ambiente. Esta comemoração anual encoraja-nos a recordar que tudo está ligado. A genuína «preocupação pelo meio ambiente, [deve ser] unida ao amor sincero pelos seres humanos e a um compromisso constante com os problemas da sociedade» (Carta Encíclica Laudato si’ , 24 de maio de 2015, n. 91)
Entretanto a celebração de amanhã terá um significado especial, pois será realizada no ano em que se inicia a Década das Nações Unidas para a Restauração de Ecossistemas. Esta década convida-nos a assumir compromissos de dez anos destinados a cuidar da nossa casa comum, «apoiando e aumentando os esforços para prevenir, interromper e reverter a degradação dos ecossistemas em todo o mundo e sensibilizando para a importância de uma restauração bem-sucedida dos ecossistemas» (Resolução 73/284 da Assembleia Geral das Nações Unidas adotada a 1 de março de 2019: «Década das Nações Unidas para a Restauração de Ecossistemas (2021-2030)», p.o. 1).
Na Bíblia, lemos: «Os céus proclamam a glória de Deus, o firmamento anuncia as obras das suas mãos. Um dia transmite ao outro a palavra; uma noite à outra noite dá a notícia. Não são ditos nem discursos, de que não se perceba a voz (Sl 18[19], 2-4).
Todos nós fazemos parte deste dom da criação. Somos parte da natureza, não estamos separados dela. É o que a Bíblia nos diz.
A atual situação ambiental exige que tomemos medidas urgentes para nos tornarmos cada vez mais responsáveis pela criação e restituir à natureza o que danificámos e explorámos durante demasiado tempo. Caso contrário, arriscamos destruir os próprios alicerces de que dependemos. Arriscamos inundações, fome e graves consequências para nós próprios e para as gerações futuras. É o que muitos cientistas nos dizem.
Devemos cuidar uns dos outros, e dos mais fracos entre nós. Continuar por este caminho de exploração e destruição — do ser humano e da natureza — é injusto e imprudente. Eis o que nos diria uma consciência responsável.
Temos a responsabilidade de deixar um lar comum habitável para os nossos filhos e para as gerações vindouras.
No entanto, quando olhamos à nossa volta, o que vemos? Vemos crises que conduzem a crises. Vemos a destruição da natureza, bem como uma pandemia global que está a causar a morte de milhões de pessoas. Vemos as consequências injustas de alguns aspetos dos nossos sistemas económicos atuais e muitas crises climáticas catastróficas que estão a ter sérios efeitos nas sociedades humanas e até a extinção em massa de várias espécies.
Todavia, há esperança. «A liberdade humana é capaz de limitar a técnica, orientá-la e colocá-la ao serviço doutro tipo de progresso, mais saudável, mais humano, mais social, mais integral» (Carta Encíclica Laudato si’ , 24 de maio de 2015, n. 112).
Assistimos a uma nova atenção e novo compromisso por parte de muitos Estados e atores não governamentais: autoridades locais, sector privado, sociedade civil, jovens... esforços no sentido de promover aquilo a que poderíamos chamar “ecologia integral”, que é um conceito complexo e multidimensional: exige uma visão a longo prazo; salienta a inseparabilidade da «preocupação pela natureza, a justiça para com os pobres, o empenhamento na sociedade e a paz interior» (Ibidem , n. 10); visa «recuperar os distintos níveis de equilíbrio ecológico: o interior consigo mesmo, o solidário com os outros, o natural com todos os seres vivos, o espiritual com Deus» (Ibidem , n. 210). Torna cada um de nós consciente da própria responsabilidade como ser humano para consigo, para com o próximo, para com a criação e para com o Criador.
No entanto, somos advertidos de que nos resta pouco tempo — os cientistas dizem que os próximos dez anos, o período desta Década das Nações Unidas — para restaurar os ecossistemas, o que significará a recuperação integral da nossa relação com a natureza.
As muitas “advertências” que estamos a viver, entre as quais podemos identificar a Covid-19 e o aquecimento global, incitam-nos a agir com urgência. Espero que a cop 26 sobre as alterações climáticas, a ser realizada em novembro próximo em Glasgow, nos ajude a dar as respostas certas para restaurar os ecossistemas, tanto através de uma maior ação climática como acrescentando a sensibilidade e a consciência.
Estamos também a ser impelidos a reconsiderar as nossas economias. Precisamos de «uma nova e profunda reflexão sobre o sentido da economia e dos seus fins , bem como de uma revisão profunda e clarividente do modelo de desenvolvimento, para se corrigirem as suas disfunções e desvios» (Bento xvi, Carta Encíclica Caritas in Veritate , 29 de junho de 2009, n. 32). A degradação do ecossistema é um resultado claro da disfunção económica.
Restaurar a natureza que danificámos significa, antes de mais, restaurarmo-nos a nós próprios. Ao congratularmo-nos com esta Década das Nações Unidas para a Restauração de Ecossistemas, sejamos compassivos, criativos e ousados. Que possamos ocupar o nosso devido lugar como “Geração da Restauração”.
Francisco
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