BBC THOUGHT FOR THE DAY
MENSAGEM EM ÁUDIO DO PAPA FRANCISCO
POR OCASIÃO DA COP 26
[Glasgow, 31 de outubro - 12 de novembro de 2021]
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Caros ouvintes da BBC, bom dia!
As alterações climáticas e a pandemia de Covid-19 expõem a vulnerabilidade radical de todos e de tudo, e levantam muitas questões e dúvidas sobre os nossos sistemas económicos e a forma como as nossas sociedades estão organizadas.
A nossa segurança colapsou, o nosso apetite de poder e a nossa ânsia de controlar está a desmoronar-se.
Descobrimo-nos fracos e cheios de medo, imersos numa série de “crises”: sanitária, ambiental, alimentar, económica, social, humanitária, ética. Estas crises são transversais, fortemente interligadas e prenúncio de uma “tempestade perfeita”, capaz de quebrar os “laços” que unem a nossa sociedade dentro do precioso dom da Criação.
Cada crise requer visão, capacidade de planeamento e rapidez de execução, repensando o futuro da nossa casa e projeto comum.
Estas crises confrontam-nos com escolhas radicais, que não são fáceis. Cada momento de dificuldade também contém oportunidades, que não podem ser desperdiçadas.
Podem ser enfrentadas deixando prevalecer atitudes de isolamento, protecionismo, exploração; ou podem representar uma verdadeira oportunidade de transformação, um verdadeiro ponto de conversão , e não apenas em sentido espiritual.
Este último caminho é o único que conduz a um horizonte “luminoso” e só pode ser prosseguido através de uma corresponsabilidade global renovada, uma nova solidariedade baseada na justiça, na partilha de um destino comum e na consciência da unidade da família humana, projeto de Deus para o mundo.
Este é um desafio de civilização a favor do bem comum e de uma mudança de perspetiva, na mente e na visão, que deve colocar no centro de todas as nossas ações a dignidade de todos os seres humanos de hoje e de amanhã.
A lição mais importante que estas crises nos transmitem é que é necessário construir em conjunto , pois não há fronteiras, não há barreiras, não há muros políticos dentro dos quais se possam esconder. E nós sabemos: não se pode sair de uma crise sozinho.
Há alguns dias, a 4 de outubro, encontrei-me com líderes religiosos e cientistas para assinar um apelo conjunto apelando a ações mais responsáveis e coerentes, tanto de nós próprios como dos nossos líderes. Nessa ocasião, fiquei impressionado com o testemunho de um dos cientistas que disse: «A minha neta, que acaba de nascer, terá que viver num mundo inabitável dentro de 50 anos, se as coisas continuarem assim».
Não podemos permitir isto!
O empenho de cada indivíduo numa mudança tão urgente é fundamental; um empenho que também deve ser alimentado pela própria fé e espiritualidade. No Apelo conjunto recordamos a necessidade de trabalhar responsavelmente a favor de uma “cultura do cuidado” da nossa casa comum e também de nós mesmos, procurando arrancar as “sementes do conflito: ganância, indiferença, ignorância, medo, injustiça, insegurança e violência”.
A humanidade nunca teve tantos meios como hoje para alcançar este objetivo. Os políticos que participarão na cop 26 em Glasgow são urgentemente chamados a oferecer respostas eficazes à crise ecológica em que vivemos e, desta forma, uma esperança concreta para as gerações futuras. Mas todos nós — é preciso repetir, quem quer que seja e onde quer que estejamos — podemos desempenhar um papel na mudança da nossa resposta coletiva à ameaça sem precedentes das alterações climáticas e da degradação da nossa casa comum.
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