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CELEBRAÇÃO MATUTINA TRANSMITIDA AO VIVO
DA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

HOMILIA DO PAPA FRANCISCO

«Com o "coração nu"»

Sábado, 21 de março de 2020

[Multimídia]


 

Introdução à Santa Missa

Hoje gostaria de recordar as famílias que não podem sair de casa. Talvez o único horizonte que tenham é a varanda. E ali dentro, a família com as crianças, os jovens, os pais: para que saibam encontrar o modo de se comunicar bem, de construir relações de amor em família, e saibam vencer as angústias deste tempo juntos, em família. Oremos pela paz nas famílias hoje, nesta crise, e pela criatividade.

Homilia

Eis a Palavra do Senhor que ouvimos ontem: “Volta, volta para casa”. Também no mesmo livro do profeta Oseias encontramos a resposta: “Vinde, voltemos ao Senhor”. É... a resposta, quando toca o coração, aquele “volta para casa”, “voltemos ao Senhor”. “Ele feriu-nos e há de curar-nos. “Ele feriu-nos e há de curar-nos. Apressemo-nos a conhecer o Senhor: a sua vinda é tão certa como a aurora”. A confiança no Senhor é segura: “Virá a nós como as primeiras chuvas, como as chuvas tardias que regam o solo”. E com esta esperança o povo começa a percorrer o caminho para retornar ao Senhor. E uma das maneiras, dos modos de encontrar o Senhor é a oração. Rezemos ao Senhor, voltemos a Ele.

No Evangelho Jesus ensina-nos a rezar. Há dois homens, um é arrogante e vai rezar, mas para dizer que é bom, como se dissesse a Deus: “Olha, sou tão bom, se precisares de algo, diz-me, eu resolvo o teu problema”. Assim se dirige a Deus: presunção. Talvez fizesse tudo o que a Lei determina; e di-lo: “Jejuo duas vezes por semana, dou o dízimo de toda a minha renda... sou bom”. Isto recorda-nos também outros dois homens. Recorda-nos o filho mais velho da parábola do filho pródigo, quando vai ter com o pai e diz: “Para mim, que sou tão bom, não organizas uma festa, mas para ele, que é um infeliz, organizas uma festa...”. Arrogante. O outro, que ouvimos estes dias, é a história do homem rico, um sem-nome, mas era rico, incapaz de ter um nome, mas era rico... nada lhe importava da miséria dos outros. São aqueles que têm a segurança em si mesmos, no dinheiro ou no poder...

Depois há outro, o publicano. Que não se põe diante do altar, não: permanece à distância. “Mantendo-se à distância, não ousava nem sequer elevar os olhos para o céu. Batia a mão no peito dizendo: “Deus, tende piedade de mim, pecador”. Também ele nos leva à recordação do filho pródigo: deu-se conta dos pecados cometidos, do mal que tinha feito; também ele batia no peito: “Voltarei ao meu pai e direi: pai, pequei”. Humilhação. Recorda-nos o outro, o mendigo Lázaro, à porta do rico, que vivia a sua miséria diante da presunção daquele senhor. Há sempre esta combinação de pessoas no Evangelho.

Neste caso, o Senhor ensina-nos a rezar, a aproximar-nos do Senhor: com humildade. Há uma bonita imagem no hino litúrgico da festa de São João Batista. Diz que o povo se aproximava do Jordão para receber o batismo, “com a alma nua e descalço”: rezar com a alma despida, sem pinturas, sem se disfarçar com as próprias virtudes. Como lemos no início da Missa, ele perdoa todos os pecados, mas é preciso que eu lhos mostre com a minha nudez. Rezar assim, nus, com o coração despido, sem cobrir, sem confiar nem sequer naquilo que aprendi sobre o modo de rezar... Rezar, tu e eu, face a face, com a alma nua. É isto que o Senhor nos ensina. Ao contrário, quando nos aproximamos do Senhor demasiado seguros de nós mesmos, caímos na presunção deste homem ou do filho mais velho, ou do rico ao qual nada faltava. Temos a nossa segurança algures. “Vou ao Senhor para... mas quero ir, para ser educado... e praticamente trato-lhe por tu...”: não é este o caminho. O caminho é abaixar-se. Abaixar-se. O caminho é a realidade. E o único homem desta parábola que entendeu a realidade foi o publicano: “Tu és Deus e eu sou pecador”. Esta é a realidade. Mas digo que sou pecador, não com os lábios: com coração. Sentir-se pecador.

Não esqueçamos o que o Senhor nos ensina: justificar a si mesmo é soberba, é orgulho, é exaltar a si próprio. É disfarçar-se com aquilo que não sou. E as misérias permanecem dentro. O fariseu justificava-se a si mesmo. Confessar os próprios pecados, sem os justificar, sem dizer: “Mas não, fiz isto, mas a culpa não era minha...”. A alma despida. A alma despida!

O Senhor ensina-nos a entender isso, esta atitude, para começar a oração. Quando começamos a oração com as nossas justificações e seguranças, não é uma prece: é falar com o espelho. Ao contrário, quando começo a oração com a verdadeira realidade – “sou pecador, sou pecador” – é um bom passo avante para me deixar olhar pelo Senhor. Que Jesus nos ensine isto!

 



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