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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO
 AOS PARTICIPANTES NO XVII SEMINÁRIO INTERNACIONAL
 DOS CAPELÃES DA AVIAÇÃO CIVIL

 Sala Clementina
Segunda-feira, 10 de junho de 2019

[Multimídia]


 

Eminência, Excelência Amados Irmãos e Irmãs!

Recebo-vos no início deste Seminário Mundial sobre o tema: «Os Capelães católicos e os agentes de pastoral da Aviação Civil ao serviço do desenvolvimento humano integral». Saúdo o Cardeal Turkson e agradeço-lhe as suas gentis palavras.

Por ocasião das minhas Viagens Apostólicas tive a oportunidade de passar por muitos aeroportos, onde vós, estimados Capelães e agentes aqui presentes, prestais o serviço pastoral em situações complexas e específicas. O desenvolvimento tecnológico, o frenesi do trabalho, o trânsito contínuo de pessoas favorece nos aeroportos uma atmosfera de anonimato e de indiferença, tornando-os grandes periferias humanas. Milhões de pessoas de diversas nacionalidades, culturas, religiões e línguas neles se cruzam todos os dias; cada uma delas é uma história, que só Deus conhece: alegrias, sofrimentos, expetativas, preocupações... Nestes lugares vós sois chamados a levar a palavra e a presença de Cristo, o Único que conhece o que há no coração de cada homem; a levar a todos, fiéis e “gentios”, o Evangelho da ternura, da esperança e da paz. Pode-se semear tanta paz com um gesto, com uma palavra, com um olhar.

Nos aeroportos vós sois antes de tudo uma presença gratuita: representais a gratuidade do amor de Deus num ambiente no qual todos se encontram por motivos de trabalho ou viajando por diversos interesses. É verdade, a cultura dos aeroportos, não é, infelizmente, uma cultura de gratuidade. Não é. É o contrário, sempre. E vós abris as portas a espaços e também a diálogos de gratuidade. Naquele contexto, ofereceis — de maneira muito respeitadora e discreta — a possibilidade de cruzar “o agora de Deus”. Pois aquele dia, aquele momento de passagem, na realidade é irrepetível, e vós sabeis aproveitar as oportunidades que se vos apresentam para vos aproximardes das pessoas com a fantasia da caridade pastoral: quer dos dirigentes, quer dos empregados e dos diversos agentes, quer dos passageiros. O vosso testemunho e a mensagem que dais, “aqui e agora”, pode deixar uma marca que dura toda a vida, precisamente com a força da gratuidade.

E permito-me contar-vos uma história que ouvi de uma pessoa. Um homem de negócios, sempre preocupado com os seus assuntos, estava no aeroporto. Foi à capela à procura de uma tomada da corrente para o seu computador. Encontrou-a e ligou o computador. Estava ali, aguardando que o computador carregasse, repousando... quando um capelão leigo se aproximou e lhe disse: “Precisa de alguma coisa?” — “Não” — “Ah... Fez bem, pois a corrente é como a corrente de Deus, é de todos”. Começou assim, e depois uma palavra puxa outra... e aquele homem sentiu que no seu coração algo tinha mudado. Aquele homem disse-me: “Naquele momento encontrei Jesus”. Foi imediatamente comprar um Evangelho e a partir de então — isto, há anos — até hoje, todos os dias lê o Evangelho, para encontrar de novo aquele Jesus que encontrara no aeroporto. Esta é uma história verdadeira, contada pela própria pessoa.

Sinto prazer em verificar que o desenvolvimento humano integral está no centro dos vossos trabalhos destes dias. Por isso gostaria de partilhar convosco algumas reflexões a este propósito.

No contexto do vosso trabalho pastoral, o desenvolvimento humano integral inclui os vários elementos que o tornam deveras tal: a pessoa na sua totalidade, o trabalho, a cultura, a vida familiar, a religião, a economia, a política... Exorto-vos a desempenhar o vosso ministério com dedicação e paixão, olhando para os mil rostos que passam diante de vós com o coração de Cristo, para que cada um possa sentir a proximidade de Deus. Com este olhar, os aeroportos tornam-se “portas” e “pontes” para o encontro com Deus e com os irmãos, filhos do único Pai. Podem tornar-se até lugares privilegiados nos quais a ovelha tresmalhada pode voltar a encontrar-se com o seu verdadeiro Pastor. Com efeito, nestes lugares de partida e de chegada, cria-se muitas vezes uma espécie de “zona franca”, na qual a pessoa no anonimato consegue abrir o próprio coração, começando um processo de cura e de retorno à casa do Pai, talvez abandonada há tempos por várias circunstâncias da vida.

Depois sabemos que para as tripulações, pilotos e assistentes de voo, gerir a própria vida pessoal e familiar não é fácil: também para eles é importante a vossa presença, a vossa escuta! A amizade, a proximidade e o tempo que dedicais a eles e, direta ou indiretamente, às suas famílias são de grande ajuda.

Além disso, conheço a vossa solicitude para que nos aeroportos não falte a possibilidade de encontrar Deus na oração e nos Sacramentos. Partilho convosco o desejo, o “sonho” pastoral que também no aeroporto se possa formar uma comunidade de crentes, que venha a ser fermento, sal e luz naquele ambiente humano particular.

E aqui não posso deixar de mencionar os migrantes e os refugiados que chegam aos maiores aeroportos com a esperança de poder pedir asilo ou encontrar um refúgio, ou que ficam bloqueados na sua viagem. Convido sempre as Igrejas locais ao devido acolhimento e solicitude em relação a eles, mesmo quando se trata de uma responsabilidade direta das Autoridades civis. Faz parte também da vossa solicitude pastoral vigiar por que seja sempre tutelada a sua dignidade humana e salvaguardados os seus direitos, no respeito da dignidade e das crenças de cada um. As obras de caridade em relação a eles constituem um testemunho da proximidade de Deus a todos os seus filhos.

Alguns de vós, talvez todos, sois chamados a desempenhar vários serviços na vossa realidade eclesial. Isto pode causar cansaço físico e espiritual, e talvez inclusive desânimo, insatisfação ou desconforto. Por isso é bom que, de acordo com os vossos Bispos, possais engajar na vossa missão algumas pessoas, ou pessoal aeroportuário ou da comunidade eclesial local, preocupando-vos também pela sua formação. Por conseguinte, sinto-me muito feliz por ver entre vós tantos leigos e religiosos com os quais já colaborais: encorajo-vos a procurar juntos novas vias de ação pastoral, partilhando os pesos e sobretudo a alegria de evangelizar. E gostaria de frisar este aspeto. Apraz-me que haja tantos leigos engajados nisto. E, por favor, não caiamos na tentação de “clericalizar” os leigos. Os leigos são mensageiros, são missionários de pleno direito.

A qualidade do vosso serviço pastoral — assim como do meu — é proporcional à qualidade da vida espiritual e da oração; mas também o vosso sentir-vos participantes da missão da Igreja universal. A missionariedade é a atitude fundamental do nosso ministério. O Senhor Ressuscitado vos conceda mantê-la sempre activa e renovada, com a força do Espírito Santo.

Amados irmãos e irmãs, celebrámos há pouco a festa de Pentecostes. O Espírito Santo vos ilumine e vos cumule dos seus dons, para que possais retomar o vosso ministério com renovado impulso e vigor. Confio-vos todos a Maria, Mãe da Igreja, cuja festa celebramos hoje. Em particular, invocamo-la como Virgem de Loreto, padroeira da aviação, para que vos ajude a oferecer a chama da fé a cada pessoa que encontrades nos vossos lugares de trabalho, a fim de que a salvação possa deveras chegar aos extremos confins da terra. Obrigado.

 

 



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