DISCURSO DO PAPA FRANCISCO
AOS PARTICIPANTES NA PLENÁRIA
DA SECRETARIA PARA A COMUNICAÇÃO
Sala do Consistório
Quinta-feira, 4 de maio de 2017
Senhores Cardeais
Caros irmãos e irmãs!
É-me deveras grato receber-vos por ocasião da primeira Assembleia plenária da Secretaria para a Comunicação, que vos vê comprometidos no aprofundamento do conhecimento recíproco e na análise dos passos dados até agora pelo Dicastério, que eu quis para um renovado sistema comunicativo da Santa Sé, assim como na reflexão sobre uma temática muito atual e sugestiva como a da cultura digital.
Agradeço ao Prefeito, Monsenhor Viganò, a sua introdução e desejo manifestar o meu reconhecimento a ele e a vós aqui presentes, bem como a quantos contribuíram de várias formas para a preparação do trabalho destes dias.
O tema tratado na Assembleia Plenária é um daqueles que me estão deveras a peito; já o enfrentei em diferentes ocasiões. Trata-se de estudar novos critérios e modalidades para comunicar o Evangelho da misericórdia a todos os povos, no cerne das diversas culturas, através dos meios de comunicação que o renovado contexto cultural digital põe à disposição dos nossos contemporâneos.
Este Dicastério, que no próximo dia 17 de junho completará dois anos — duas velas — apresenta-se em plena reforma. E não devemos ter medo desta palavra. Reforma não quer dizer «caiar» um pouco as coisas: reforma significa dar outra forma às coisas, organizá-las de outro modo. E é preciso fazê-lo com inteligência e mansidão, mas também, também — permiti-me a palavra — com um pouco de «violência», mas positiva, violência boa, para reformar as coisas. Está em plena reforma, dado que é uma realidade nova, que já começa a dar passos irreversíveis. Com efeito, neste caso não se trata de uma coordenação, nem de uma fusão de Dicastérios precedentes, mas sim de criar uma verdadeira instituição ex novo, como eu já escrevi no Motu proprio de instituição: «O atual contexto comunicativo, caraterizado pela presença e pelo desenvolvimento dos meios de comunicação digitais, pelos fatores da convergência e da interatividade, exige uma revisão do sistema informativo da Santa Sé, comprometendo-a numa reorganização que, valorizando aquilo que ao longo da história se desenvolveu no interior da estrutura da comunicação da Sé Apostólica, proceda decididamente rumo a uma integração e gestão unitária. Por estes motivos — eu acrescentava — determinei que todas as realidades que, de vários modos, até hoje se ocuparam da comunicação, sejam reunidas num novo Dicastério da Cúria Romana, que será denominado Secretaria para a Comunicação. Desta forma, o sistema comunicativo da Santa Sé responderá cada vez melhor às exigências da missão da Igreja».
Este novo sistema comunicativo nasce da exigência da chamada «convergência digital». Com efeito, no passado cada modalidade comunicativa dispunha dos seus próprios canais. Cada forma de expressão contava com o seu próprio medium: as palavras escritas, o jornal ou os livros; as imagens, as fotografias; as reproduções em movimento, o cinema e a televisão; as palavras proferidas e a música, a rádio e os cds. Hoje em dia, todas estas formas de comunicação são transmitidas mediante um único código, que desfruta do sistema binário. Portanto, nesta contexto, «L’Osservatore Romano», que a partir do próximo ano começará a fazer parte do novo Dicastério, deverá encontrar uma modalidade nova e diferente, para poder alcançar um número de leitores superior ao que consegue fazer com o formato de papel. Também a Rádio Vaticano, que há anos se tornou um conjunto de portais, deve ser repensada em conformidade com novos modelos e adaptada às tecnologias modernos e às exigências dos nossos contemporâneos. A propósito do serviço radiofónico, faço questão de salientar o esforço que o Dicastério envida em vantagem dos países com pouca disponibilidade tecnológica (penso, por exemplo, na África), para a racionalização das ondas curtas que nunca foram abandonadas. E quero sublinhar isto: nunca foram abandonadas! Daqui a alguns meses também a Libreria Editrice Vaticana, a antiga Tipografia Poliglotta Vaticana e, como eu disse, «L’Osservatore Romano», começarão a fazer parte da grande comunidade de trabalho do novo Dicastério, e isto exigirá a disponibilidade a harmonizar-se com um novo projeto de produção e distribuição. O trabalho é grande, o desafio é enorme; contudo, podemos e devemos enfrentá-lo.
Indubitavelmente, a história é uma herança de experiências preciosas que devem ser conservadas e usadas como impulso para o futuro. Caso contrário, ficaria reduzida a um museu, interessante e bonito para visitar, mas incapaz de incutir força e coragem para continuar o caminho.
Além disso, neste horizonte de construção de um novo sistema comunicativo deve ser inserido o exigente esforço de formação e de atualização do pessoal.
Caros irmãos e irmãs, o trabalho que vos espera é vasto e articulado. Com a contribuição de cada um, levaremos a cabo esta reforma que, «valorizando tudo o que na história se foi desenvolvendo no âmbito da sistematização da comunicação da Sé Apostólica», tem em vista «uma integração e gestão unitária» (Estatuto da Secretaria para a Comunicação, 6 de setembro de 2016).
Por conseguinte, encorajo-vos a trabalhar nas comissões de estudo, com análises detalhadas e, uma vez identificados os percursos, a decidir e proceder intrepidamente segundo os critérios escolhidos.
Além disso, peço-vos que o critério-guia seja o apostólico, missionário, com uma atenção especial às situações de desventura, de pobreza e de dificuldade, conscientes de que hoje também elas devem ser enfrentadas com soluções adequadas. Só assim se torna possível anunciar o Evangelho a todos, valorizar os recursos humanos, sem se substituir à comunicação das Igrejas locais e, ao mesmo tempo, apoiando as comunidades eclesiais mais necessitadas.
Não nos deixemos vencer pela tentação do apego a um passado glorioso; ao contrário, façamos um grande jogo de grupo para responder melhor aos desafios da comunicação que hoje a cultura exige de nós, sem ter medo nem imaginar cenários apocalíticos.
Enquanto vos renovo a minha gratidão por terdes decidido trabalhar neste âmbito tão importante e delicado da missão da Igreja, desejo transmitir a minha saudação e o meu agradecimento inclusive aos Consultores há pouco nomeados. Exorto-vos a dar testemunho de colaboração e de partilha fraternal, enquanto invoco sobre todos vós a Bênção do Senhor, por intercessão de Maria Santíssima Mãe da Igreja que, com a sua ternura, vela sempre sobre nós.
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