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MENSAGEM DO SANTO PADRE
AO FÓRUM ECONÓMICO MUNDIAL 2025
[Davos-Klosters (Suíça), 20-24 de janeiro de 2025]
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O tema do encontro do Fórum económico mundial deste ano, “Collaboration for the Intelligent Age”, oferece uma boa oportunidade para refletir sobre a Inteligência artificial como instrumento não apenas de cooperação, mas inclusive para unir os povos.
A tradição cristã considera o dom da inteligência um aspeto fundamental da pessoa humana, criada “à imagem de Deus”. Ao mesmo tempo, a Igreja católica foi sempre protagonista e defensora do progresso da ciência, da tecnologia, das artes e de outras formas de iniciativa humana, considerando-os âmbitos de «colaboração do homem e da mulher com Deus no aperfeiçoamento da criação visível» (Catecismo da Igreja Católica, 378).
A IA é concebida para imitar a inteligência humana que a projetou, levando assim a uma singular série de interrogações e desafios. Ao contrário de muitas outras invenções humanas, a IA é treinada tendo como base os resultados da criatividade humana, o que lhe permite gerar novos artefatos com um grau de habilidade e rapidez que muitas vezes emulam ou até excedem as capacidades humanas, suscitando preocupações importantes sobre o seu impacto no papel da humanidade no mundo. Além disso, os resultados que a IA é capaz de atingir são quase indistinguíveis daqueles alcançados pelos seres humanos, levantando interrogações sobre o seu efeito na crescente crise da verdade no fórum público. E esta tecnologia foi concebida para aprender e fazer determinadas escolhas com autonomia, adaptando-se a novas situações e dando respostas não previstas pelos seus programadores, apresentando assim questões importantes relativas à responsabilidade ética, à segurança humana e às implicações mais vastas destes desenvolvimentos para a sociedade.
Embora a IA seja uma extraordinária conquista tecnológica, capaz de imitar determinados resultados associados à inteligência humana, esta tecnologia faz «uma escolha técnica entre várias possibilidades, baseando-se em critérios bem definidos ou em inferências estatísticas. Pelo contrário, o ser humano não só escolhe como, no seu coração, é capaz de decidir» (Discurso na Sessão do G7 sobre a Inteligência artificial, Borgo Egnazia [Apúlia], 14 de junho de 2024).
Com efeito, a própria utilização da palavra “inteligência” ligada à IA é inapropriada, uma vez que a IA não é uma forma artificial da inteligência humana, mas um produto dela. Quando é utilizada corretamente, a IA ajuda a pessoa humana a realizar a sua vocação, em liberdade e responsabilidade.
Como qualquer outra atividade humana e desenvolvimento tecnológico, a IA deve visar a pessoa humana e fazer parte dos esforços para alcançar «mais justiça, mais fraternidade e uma organização mais humana das relações sociais», que «valem mais do que os progressos técnicos» (Gaudium et spes, 35; cf. Catecismo da Igreja Católica, 2293).
No entanto, existe o perigo de que a IA seja utilizada para promover o “paradigma tecnocrático”, segundo o qual todos os problemas do mundo só podem ser resolvidos com os meios tecnológicos. Neste paradigma, a dignidade e fraternidade humanas são frequentemente subordinadas à procura da eficiência, como se a realidade, o bem e a verdade emanassem intrinsecamente do poder da tecnologia e da economia. Contudo, a dignidade humana nunca deve ser violada em prol da eficiência. Os desenvolvimentos tecnológicos que não melhoram a vida de todos, mas que, pelo contrário, criam ou aumentam desigualdades e conflitos, não podem ser definidos um verdadeiro progresso. Por conseguinte, a IA deve ser posta ao serviço de um desenvolvimento mais saudável, mais humano, mais social e mais integral.
O progresso representado pelo nascimento da IA exige uma redescoberta da importância da comunidade e um renovado compromisso de cuidar da casa comum, que nos foi confiada por Deus. Para gerir as complexidades da IA, os governos e as empresas devem exercer a devida diligência e vigilância. Devem avaliar criticamente as aplicações individuais da IA em contextos específicos, a fim de determinar se a sua utilização promove a dignidade humana, a vocação da pessoa humana e o bem comum. Assim como acontece com muitas tecnologias, os efeitos das diferentes utilizações da IA nem sempre são previsíveis desde o início. Na medida em que a aplicação da IA e o seu impacto social se tornam mais evidentes ao longo do tempo, é necessário adotar respostas adequadas a todos os níveis da sociedade, de acordo com o princípio da subsidiariedade, com utilizadores individuais, famílias, sociedade civil, empresas, instituições, governos e organizações internacionais a trabalhar ao próprio nível para garantir que a IA vise o bem de todos. Hoje existem grandes desafios e oportunidades, quando a IA se insere num quadro de inteligência relacional, em que todos partilham a responsabilidade pelo bem-estar integral dos outros.
Com estes sentimentos, formulo os meus votos orantes para as deliberações do Fórum e invoco de bom grado abundantes bênçãos divinas sobre todos os participantes.
Vaticano, 14 de janeiro de 2025
Francisco
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