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MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO
AO PRESIDENTE DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL DA ESPANHA
POR OCASIÃO DO CONGRESSO NACIONAL DOS LEIGOS

 

Ao Eminentíssimo Cardeal Ricardo Blázquez Pérez
Presidente da Conferência Episcopal Espanhola

Caro irmão!

Dirijo-me a Vossa Eminência, assim como ao amado Cardeal Carlos Osoro Sierra, Arcebispo de Madrid, e a todos os irmãos bispos, sacerdotes, religiosos e, de forma especial, aos fiéis leigos, por ocasião do Congresso Nacional que celebrais com o tema: “Povo de Deus em saída”.

Para chegar a esta celebração percorrestes um longo caminho de preparação, e isto é bom, caminhar juntos, fazer “sínodo”, compartilhando ideias e experiências a partir das diferentes realidades nas quais estais presentes, a fim de enriquecer e fazer crescer a comunidade na qual viveis.

É significativo que comeceis este Congresso no dia em que a Igreja comemora os Santos Cirilo e Metódio, padroeiros da Europa. Eles deram impulso a uma grande evangelização neste continente, levando a mensagem do Evangelho àqueles que não a conheciam, tornando-a compreensível e próxima do povo do seu tempo, com uma linguagem e formas novas. Com o seu engenho e testemunho, conseguiram levar a luz e a alegria do Evangelho a um mundo complexo e hostil. O fruto foi ver quantos creram e aderiram à fé, formando uma comunidade; uma porção do Povo de Deus começou a caminhar naquela vasta região do continente, e continua a fazê-lo hoje sob a proteção daqueles dois irmãos evangelizadores.

Isto indica-nos — como diz o lema do Congresso — que somos o Povo de Deus, convidados a viver a fé, não de forma individual e isolada, mas na comunidade, como um povo amado e querido a Deus. Nós pertencemos a Ele, e isso implica não só sermos incorporados a Ele através do batismo, mas também viver coerentemente com este dom recebido. Portanto, é essencial tomar consciência de que fazemos parte de uma comunidade cristã. Não somos um grupo qualquer, nem sequer uma ONG, mas a família de Deus reunida em volta do mesmo Senhor. Recordar isto leva-nos a aprofundar cada dia a nossa fé: um dom que se vive na ação litúrgica, na oração comum de toda a Igreja, e que deve ser proclamado. São as pessoas convocadas por Deus, que caminham sentindo o impulso do Espírito, que as renova e as faz retornar a Ele, todas as vezes, para nos sentirmos algo Seu.

E este Povo de Deus em saída vive numa história concreta, que ninguém escolheu, mas que lhes é dada, como uma página em branco na qual se escreve. Ele é chamado a deixar para trás as próprias comodidades e a dar um passo em direção ao outro, procurando dizer a razão da esperança (cf. 1 Pd 3, 15), não com respostas pré-fabricadas, mas encarnadas e contextualizadas para tornar compreensível e acessível a Verdade que, como cristãos, nos move e nos faz felizes.

Para isso precisamos daquela liberdade interior capaz de nos deixar tocar pela realidade do nosso tempo e ter a coragem de ir ao seu encontro. O mandato missionário é sempre atual e volta para nós com a força de sempre, para fazer ressoar a voz sempre nova do Evangelho neste mundo em que vivemos, especialmente nesta velha Europa, onde a Boa Nova é sufocada por tantas vozes de morte e desespero.

A Palavra viva de Deus precisa de ser pregada com paixão e alegria através do testemunho cristão, para que possa abater inclusive os muros mais altos que isolam e excluem. É a vossa hora, é a hora dos homens e mulheres engajados no mundo da cultura, da política, da indústria... que pelo seu modo de vida são capazes de levar a novidade e a alegria do Evangelho onde quer que estejam. Encorajo-vos a viver a vossa vocação imersos no mundo, ouvindo, com Deus e com a Igreja, as pulsações dos vossos contemporâneos, do povo. E peço-vos, por favor, que eviteis a todo o custo as “tentações” do leigo dentro da Igreja, que podem ser: o clericalismo, que é um flagelo e vos fecha na sacristia, bem como a competitividade e o carreirismo eclesial, a rigidez e a negatividade..., que asfixiam a especificidade da vossa chamada à santidade no mundo de hoje.

Portanto, não tenhais medo de percorrer as ruas, de entrar em todos os aspetos da sociedade, de alcançar os limites da cidade, de tocar as feridas do nosso povo... esta é a Igreja de Deus, que arregaça as mangas para ir ao encontro do outro, sem o julgar nem condenar, mas estendendo a mão para o apoiar e encorajar, ou simplesmente para o acompanhar na sua vida. Que o mandato do Senhor ressoe sempre em vós: «Ide e pregai o Evangelho» (cf. Mt 28, 19).

Encorajo-vos na vossa tarefa e compromisso, e peço ao Senhor para que este Congresso possa dar frutos abundantes.

E, por favor, peço-vos que rezeis por mim.

Que Jesus vos abençoe e a Virgem Maria vos ampare.

Fraternalmente,

Francisco

Roma, São João de Latrão 14 de fevereiro de 2020 Festa dos Santos Cirilo e Metódio, Padroeiros da Europa.

 



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