MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO
AOS PARTICIPANTES DA CONFERÊNCIA INTERNACIONAL
"O BEM COMUM NOS NOSSOS MARES" EM COPENHAGUE
Ao meu venerável Irmão Cardeal Peter Turkson
Prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral
Por ocasião da conferência «O bem comum nos nossos mares comuns», que se realiza em Copenhage de 3 a 5 de maio, peço-lhe que transmita os meus cordiais bons votos a todos os participantes, garantindo-lhes as minhas orações por um encontro fecundo.
O vosso congresso reúne os representantes de diferentes tradições religiosas e organizações internacionais, e também dos âmbitos dos negócios, da ciência e da educação, a fim de explorar os desafios e as oportunidades que os nossos mares, oceanos e litorais devem enfrentar, assim como quantos dependem deles para o próprio sustento. Enquanto vos dedicais a este tema vital, dois elementos parecem particularmente importantes, ou seja, a justiça intergeracional e o diálogo.
Antes de tudo, encorajo-vos a considerar a «solidariedade intergeracional» (cf. Laudato si’, nn. 159-162) como um imperativo moral primordial para responder aos problemas do nosso tempo. Se pusermos no centro dos nossos esforços pelo cuidado da criação as exigências dos nossos contemporâneos, especialmente dos jovens, poder-se-á promover e proteger o bem comum de todos, «pois a terra que recebemos pertence também àqueles que hão de vir» (cf. ibid., n. 159).
Com base na justiça intergeracional e na integridade da vida que abrange o tempo e o espaço (cf. Lumen fidei, n. 57), espero que a solidariedade e a solicitude fraterna que estende a mão da amizade e da compaixão aos mais pobres entre os nossos irmãos e irmãs encontrem expressão concreta no apoio às comunidades litorâneas e a quantos trabalham nos nossos mares, os quais com muita frequência são atingidos de maneira desproporcional pela mudança climática e pelas injustiças de modelos de desenvolvimento insustentável.
Em segundo lugar, estou confiante de que ao examinar as ameaças produzidas pela gestão injusta dos nossos mares e pela manipulação criminosa das indústrias marítimas — e não menos importante a chaga do tráfico de seres humanos — uma abordagem cada vez mais interdisciplinar e dialógica promoverá uma série de respostas mais eficazes aos complexos desafios que devemos enfrentar.
O diálogo não é um mero método nem uma estratégia para obter resultados, ao contrário, ele reflete a própria natureza do cosmos, pois Deus cria o mundo e tudo o que ele contém não de modo abstrato nem distante, mas pronunciando a sua palavra: «Deus disse: “Que as águas sejam povoadas de inúmeros seres vivos, e que por cima da terra voem aves, sob o firmamento dos céus”» (Gn 1, 20). Por conseguinte, refletindo a qualidade essencial da ordem criada, o diálogo não só é desejável mas essencial: diálogo entre religiões, diálogo entre nações, diálogo entre crentes e não crentes, diálogo entre as ciências, diálogo entre ricos e pobres, diálogo para todos! Certamente não é uma tarefa simples, mas «a gravidade da crise ecológica obriga-nos, a todos, a pensar no bem comum e a prosseguir pelo caminho do diálogo que requer paciência, ascese e generosidade» (cf. Laudato si’, n. 201).
Enquanto refletis sobre estas importantes questões, de bom grado ofereço estes pensamentos como contributo para as vossas deliberações, que confio à intercessão de Nossa Senhora Estrela do Mar. Sobre quantos participam nesta conferência internacional invoco as bênçãos divinas da sabedoria e da fortaleza.
Vaticano, 16 de abril de 2019
Francisco
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