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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA

A Igreja é mulher e mãe

Segunda-feira, 21 de maio de 2018

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 22 de 31 de maio de 2018

O Papa Francisco celebrou pela primeira vez a missa na memória da bem-aventurada Virgem Maria mãe da Igreja: com efeito, a partir deste ano a festa comemora-se, no calendário romano geral, na segunda-feira depois do Pentecostes, como estabelecido pelo Pontífice com o decreto Ecclesia mater da Congregação para o culto divino e a disciplina dos sacramentos (11 de fevereiro de 2018), precisamente para «favorecer o crescimento do sentido materno da Igreja nos Pastores, nos religiosos e nos fiéis, como, também, da genuína piedade mariana».

«Nos Evangelhos todas as vezes que se menciona Maria fala-se da “mãe de Jesus”» observou imediatamente Francisco na homilia, referindo-se ao trecho evangélico de João (19, 25-34). Embora «na Anunciação não se profira a palavra “mãe”, o contexto é de maternidade: a mãe de Jesus» afirmou o Papa, sublinhando que «esta atitude de mãe acompanha a sua ação durante toda a vida de Jesus: é mãe». A ponto que, prosseguiu, «no final Jesus a oferece como mãe aos seus, na pessoa de João: “Eu vou-me embora, mas eis aí a tua mãe”». Eis, portanto, «a maternalidade de Maria».

«As palavras de Nossa Senhora são palavras de mãe» explicou o Papa. E «todas o são: após as, inicialmente, de disponibilidade à vontade de Deus e de louvor a Deus no Magnificat, todas as palavras de Nossa Senhora são palavras de mãe». Ela está sempre «com o Filho, também nas atitudes: acompanha o Filho, segue o Filho». E muito «antes, em Nazaré, fá-lo crescer, cria-o, educa-o, mas depois o segue: “A tua mãe está ali”». Maria «é mãe desde o início, a partir do momento em que aparece nos Evangelhos, do momento da Anunciação até ao fim, ela é mãe». Referindo-se a ela «não se diz “a senhora” ou “a viúva de José”» — e na realidade «poderiam chamá-la assim» — mas Maria é sempre «mãe».

«Os padres da Igreja compreenderam bem isto — afirmou o Pontífice — e entenderam também que a maternalidade de Maria não termina com ela; vai além». Os padres «afirmam sempre que Maria é mãe, a Igreja é mãe e a sua alma é mãe: há algo de feminino na Igreja, que é «maternal». Por conseguinte, explicou Francisco, «a Igreja é feminina porque é “igreja”, “esposa”: é feminina e é mãe, dá à luz». Portanto, é «esposa e mãe», mas «os padres vão além e dizem: “Inclusive a sua alma é esposa de Cristo e mãe”».

«Nesta atitude que vem de Maria que é mãe da Igreja — evidenciou o Papa — podemos compreender esta dimensão feminina da Igreja: quando esta vem a faltar, a Igreja perde a verdadeira identidade e torna-se uma associação de beneficência ou uma equipe de futebol ou qualquer coisa, mas não Igreja».

«A Igreja é “mulher” — relançou o Papa — e quando pensamos no papel da mulher na Igreja devemos remontar a esta fonte: Maria, mãe». E «a Igreja é “mulher” porque é mãe, pois é capaz de “dar à luz filhos”: a sua alma é feminina porque é mãe, é capaz de gerar atitudes de fecundidade».

«A maternidade de Maria é algo grande» insistiu o Pontífice. De facto, Deus «quis nascer de uma mulher para nos ensinar este caminho». Mais ainda, «Deus apaixonou-se pelo seu povo como um esposo pela sua esposa: afirma-se isto no Antigo Testamento. E é «um grande mistério». Como consequência, prosseguiu Francisco, «podemos pensar» que «se a Igreja é mãe, as mulheres deverão ter cargos na Igreja: sim, é verdade, deverão desempenhar funções, tantos cargos e graças a Deus são cada vez mais as funções que as mulheres ocupam na Igreja».

Mas «este não é o aspeto mais significativo» advertiu o Papa, porque «é importante que a Igreja seja mulher, que tenha esta atitude de esposa e de mãe». Cientes de que «quando nos esquecemos disto, sem esta dimensão torna-se uma Igreja masculina, torna-se tristemente uma Igreja de solteirões, que vivem neste isolamento, incapazes de amar, incapazes de fecundidade». Portanto, afirmou o Pontífice, «sem a mulher a Igreja não vai em frente, porque ela é mulher, e esta atitude de mulher provém de Maria, porque Jesus quis assim».

A este propósito, Francisco quis indicar também «o gesto, diria a atitude, que distingue principalmente a Igreja como mulher, a virtude que mais a carateriza como mulher». E sugeriu que a reconheçamos no «gesto de Maria no momento do nascimento de Jesus: “Deu à luz o seu filho primogénito, envolveu-o em faixas e colocou-o numa manjedoura”». Uma imagem em que se releva «precisamente a ternura de qualquer mãe com o seu filho: cuidar dele com ternura, para que não se fira, para que esteja bem coberto». E, por conseguinte, «a ternura» é também «a atitude da Igreja que se sente mulher e se sente mãe».

«São Paulo — ouvimo-lo ontem, rezamo-lo também no breviário — recorda-nos as virtudes do Espírito e fala-nos da mansidão, da humildade, destas virtudes chamadas “passivas”», afirmou o Papa, frisando que, ao contrário, «são as virtudes fortes, as virtudes das mães». Eis que, acrescentou, «uma Igreja que é mãe anda pelo caminho da ternura; conhece a linguagem da grande sabedoria das carícias, do silêncio, do olhar de compaixão, de silêncio». E «também uma alma, uma pessoa que vive esta pertença à Igreja, sabendo também que é mãe deve percorrer o mesmo caminho: uma pessoa meiga, terna, sorridente, cheia de amor».

«Maria, mãe; a Igreja, mãe; a nossa alma, mãe» repetiu Francisco, convidando a pensar «nesta grande riqueza da Igreja e nossa; e deixemos que o Espírito Santo nos fecunde, a nós e à Igreja, a fim de que nos tornemos também mães dos outros, com atitudes de ternura, de mansidão, de humildade. Certos de que este é o caminho de Maria». E, na conclusão, o Papa observou também como é «curiosa a linguagem de Maria nos Evangelhos: quando fala ao Filho, é para lhe indicar as coisas das quais os outros precisam; e quando fala aos outros, é para lhes dizer: “fazei tudo o que Ele vos disser”».

 



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