PAPA FRANCISCO
MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA
Contra as curiosidades negativas
Segunda-feira, 30 de abril de 2018
Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 19 de 10 de maio de 2018
As crianças são particularmente curiosas e encontram nos telemóveis, assim como em todo o mundo virtual, também «muitas coisas negativas», correndo o risco de se tornarem «prisioneiras destas curiosidades negativas», admoestou o Papa Francisco pedindo que se ajudem os jovens a saber discernir entre as numerosas propostas do dia a dia, o Pontífice indicou no Espírito Santo «a grande certeza» que resolve todas «as nossas curiosidades»: e fá-lo como «companheiro de viagem, companheiro da memória e companheiro-mestre», não certamente apresentando-se a nós «com um pacote de respostas» já prontas.
Para a sua reflexão o Papa inspirou-se no Evangelho de João. «Neste longo discurso de despedida, à mesa com os discípulos, há trechos que podemos denominar “o diálogo entre as curiosidades e a certeza”» afirmou. «Os discípulos não se sentem seguros, não sabiam o que teria ocorrido e questionavam-se sobre o que ia acontecer com este, com aquele». E «Jesus explica», mas «eles sentem-se mais inseguros: “Não pode ser, vais-te embora, vais-nos deixar sozinhos e o que faremos?”». Assim «Jesus explica: “voltarei, vou preparar-vos um lugar, depois levar-vos-ei comigo”». Em síntese, «dá certezas às curiosidades dos discípulos».
Aliás, reconheceu o Pontífice, «a vida, a nossa vida está repleta de curiosidades». E deste modo «quando somos crianças, na idade dos porquês» perguntamos «pai, porquê? Mãe porquê, porquê, porquê?». Isto acontece precisamente «porque a criança cresce, dá-se conta de coisas que não compreende, e questiona-se: é curiosa, procura explicações». Mas «esta é uma curiosidade boa, porque é uma curiosidade que serve para crescer, para se desenvolver, para ter mais autonomia». E «é também uma curiosidade contemplativa, porque as crianças veem, contemplam, não entendem e perguntam».
«Há outras curiosidades que não são tão boas» advertiu contudo o Papa. «Por exemplo, a de “se intrometer” na vida de outras pessoas». Talvez «alguém diga “mas é coisa de mulheres”. Não, a bisbilhotice não é um património de mulheres e de homens». A ponto que «alguém afirma que os homens são mais bisbilhoteiros do que as mulheres: não sei, mas é um património de todos, é algo ruim porque significa fazer com que a curiosidade não chegue ao lugar certo de uma reposta verdadeira». Ao contrário, consiste «em procurar ir aos lugares que afinal de contas mancham as outras pessoas».
Portanto, «há curiosidades más», insistiu o Pontífice, ou curiosidades que, por fim, me fazem compreender algo que eu não tenho o direito de saber». O Papa sugeriu o «exemplo» de quanto aconteceu «em Tiberíades: Jesus já estava prestes a ir embora, depois da ressurreição, e pergunta três vezes a Pedro se o ama, e Pedro afirma que o ama; e Ele confere-lhe todo o poder, e Pedro, quando termina tudo isto, questiona “e o que acontecerá com ele?” perguntando por João». E «isto significa “intrometer-se”, meter-se na vida dos outros», explicou Francisco: «Esta não é uma curiosidade boa, mas acompanha-nos por toda a vida. É uma tentação que sempre teremos».
Na realidade, garantiu o Papa, «não vos assusteis, mas prestai atenção» dizendo a vós mesmos «não pergunto isto, não olho para isto, não quero isto». E depois há «muitas curiosidades, por exemplo, no mundo virtual, com os telemóveis e outros meios: as crianças vão ali e estão curiosas para ver o que há ali e encontram coisas ruins». Mas «não existe uma disciplina naquela curiosidade». Portanto, «devemos ajudar as crianças a viver neste mundo, para que o desejo de saber não seja a vontade de ser curiosos, acabando prisioneiros desta curiosidade».
«Mas voltemos a refletir sobre estas boas curiosidades dos Apóstolos», insistiu o Pontífice. Na realidade «querem saber acerca de Jesus, saber o que vai acontecer». E assim «inclusive no último momento, quando Jesus estava para subir ao céu, dizem “agora chega a revolução, agora construirá o reino”». É «a curiosidade de conhecer e a certeza: o diálogo entre curiosidades e certezas». Eis, com efeito, que «Jesus responde dando certezas: “Não olheis, isto é assim, eu vou lá”». Há «muitas respostas neste longo discurso à mesa, e não é apenas um discurso: é uma conversa entre eles». Mas «Jesus responde sempre com certezas: nunca, nunca engana. Nunca!».
«Pequenas certezas, mas certezas», repetiu Francisco. E «a certeza é resumida no final do excerto do Evangelho que lemos e ouvimos» explicou o Papa, referindo-se ao trecho de João (14, 21-26), que Francisco definiu «a grande certeza». Com efeito, refere João, «Jesus diz: Disse-vos estas coisas enquanto estou convosco. Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito». E deste modo, explicou o Pontífice, «a certeza ser-nos-á conferida pelo Espírito Santo na vida».
Certamente, «o Espírito Santo não vem com um pacote de certezas» e diz «toma». Mas «nós sigamos em frente com a nossa vida e, abrindo o nosso coração, questionemos o Espírito Santo e ele nos dará a certeza para aquele momento, a resposta para aquele momento».
«O Espírito Santo — explicou o Papa — é o companheiro de viagem do cristão, é aquele que constantemente nos ensina “não, isto é assim”, aquele que sempre nos recorda “pensa no que disse o Senhor, que era assim”». E «recorda-nos as palavras do Senhor, iluminando-as». No nosso «caminho rumo ao encontro com Jesus é o Espírito quem nos acompanha», quem «confere certeza às nossas curiosidades».
«Assim, este diálogo entre curiosidades humanas e certezas — afirmou o Papa — conclui-se com esta frase de Jesus» a propósito do Paráclito: «Ele ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito».
O Paráclito é «o companheiro da memória, o companheiro-mestre», que «nos dá luz e nos conduz onde está a felicidade fixa, aquela que não se move, como rezamos na oração da coleta».
«Vamos aonde há alegria verdadeira, aquela que está enraizada precisamente em Deus, mas com o Espírito Santo para não errar» concluiu o Pontífice. E por esta razão «peçamos hoje ao Senhor duas coisas». Em primeiro lugar, «que nos purifique ao aceitar as curiosidades — existem curiosidades boas e outras menos boas — e saber discernir» dizendo a nós mesmos «não, isto não o devo ver, isto não o devo perguntar». E a «segunda graça» que devemos pedir ao Senhor é a de saber «abrir o coração ao Espírito Santo, porque ele é a certeza: confere-nos a certeza, como companheiro de viagem, das coisas que Jesus nos ensinou, e recorda-nos tudo».
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