PAPA FRANCISCO
MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA
O conselho da memória
Segunda-feira, 16 de abril de 2018
Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 17 de 26 de abril de 2018
«Como sigo Jesus?». É a simples pergunta que cada cristão deveria fazer para compreender se a sua fé é autêntica e sincera, ou de qualquer forma «interesseira». Com efeito, o risco consiste em enfraquecer a própria adesão a Cristo com os cálculos da conveniência, sublinhou o Papa Francisco nesta homilia. Comentando a liturgia da palavra, o Pontífice identificou dois possíveis caminhos que se abrem diante de qualquer batizado: a do protomártir Estêvão que, «cheio de graça e de Espírito Santo» agia «sem pesar as consequências» das suas escolhas, e a da multidão que se deixava conquistar pelos milagres. Portanto, explicou Francisco, há «diversos modos, formas de seguir Jesus». De facto, as pessoas descritas no Evangelho de João (6, 22-29), que tinham acabado de assistir ao milagre da multiplicação dos pães, seguiam Jesus não só «porque tinham fome da palavra de Deus e sentiam que Jesus chegava ao coração, aquecia o coração», mas também «porque Jesus fazia alguns milagres; seguiam-nos ainda para ser curados, para ter alguma visão nova da vida». A ponto que, recordou o Papa, noutro trecho do mesmo evangelista (4, 48) Jesus admoesta: «Se não virdes milagres e prodígios, não credes». Como a querer sublinhar que «o importante não são os milagres; mas a palavra de Deus, a fé». Por conseguinte, Jesus «louva as pessoas que se aproximam dele com fé». Com efeito, «àquele pai que pediu a cura do filho», disse: «Tudo é possível àquele que crê».
Por conseguinte, a multidão, que «seguia Jesus para o ouvir», depois da multiplicação dos pães, queria até «torná-lo rei». Mas, ele retirou-se «sozinho, para rezar». Resumindo a narração evangélica, o Papa descreveu o que acontece com as pessoas que procuram o Senhor e o encontram, no dia seguinte, na outra margem do lago. Qual é a razão desta busca insistente? Também para ouvir Jesus, mas sobretudo «por interesse». Com efeito, o Senhor admoesta imediatamente: «Em verdade, em verdade vos digo: buscais-me, não porque vistes os milagres, mas porque comestes dos pães e ficastes saciados». Francisco entrou na psicologia da multidão: «gente boa», que quer «ouvir a palavra de Jesus, e sentir como aquela palavra chega ao coração», mas é também impelida pelo interesse. Portanto, a delas é uma fé que une «as duas coisas: uma fé, um desejo de amar Jesus, mas um pouco interesseira».
Eles são os únicos no Evangelho a ter esta atitude. O Pontífice recordou, por exemplo, o episódio do endemoninhado de Gerasa narrado por Lucas (8, 26-39), no qual os guardadores, quando viram que devido àquele milagre «tinham perdido os porcos», fizeram «o cálculo e disseram: “Sim, sim: este faz milagres, mas a nós não convém; perdemos dinheiro com ele”, e disseram-lhe gentilmente: “Vai-te embora, volta para a tua casa”». Ou podemos lembrar os dez leprosos sobre os quais fala também Lucas (17, 11-19), que «depois de serem curados se foram embora, mas só um deles regressou para agradecer: os outros tinham obtido a cura e assim esqueceram-se de Jesus».
Diante de uma fé condicionada pelo interesse, Jesus repreende e «diz: “Trabalhai, não pelo alimento que perece, mas pelo alimento que permanece até à vida eterna, e que o Filho do homem vos dará”. O alimento é a palavra de Deus e é o amor de Deus».
Ao contrário, aprofundou o Papa, a primeira leitura narra o exemplo de Estêvão, que também «seguia Jesus, mas de um modo firme, claro. Ele tinha decidido levar a própria vida seguindo o caminho de Jesus; estava cheio de graça e de Espírito Santo e fazia grandes prodígios e sinais entre o povo». Ele «no momento de defender Jesus, falava claro» e, lê-se nos Atos dos apóstolos (6, 8-15): «Não podia, porém, resistir à sabedoria e ao Espírito que o inspirava». Estêvão, explicou o Pontífice, «seguia Jesus sem considerar as consequências: isto convém-me, não me convém... não era um interesseiro. Amava. E seguia Jesus, confiante». Até à morte: «apresentaram falsos testemunhos contra ele, fizeram-no entrar ali e assim acabou por ser lapidado. Mas dando testemunho de Jesus».
Estêvão e a multidão, «dois modos de seguir Jesus. Ambos seguem Jesus; alguns não completamente, um pouco sim, um pouco não, com algum interesse pessoal; outros, como Estêvão, dando a vida para seguir Jesus».
Diante destes exemplos, eis o convite de Francisco: «Cada um pode questionar-se: mas eu como sigo Jesus? E como sou realmente, como posso saber se sigo bem Jesus ou se sou interesseiro?». Eis outro conselho: «o conselho da memória». Com efeito, o Pontífice sugeriu que o justo discernimento é possível «refrescando a memória». Ou seja, «podemos perguntar-nos: o que fez Jesus por mim?», pensando sobretudo e concretamente na nossa vida. Então «encontraremos muitas coisas grandes que Jesus nos ofereceu gratuitamente, porque nos ama: a cada um de nós».
Eis o passo sucessivo: «Ao ver o que Jesus fez por mim, dirijo a mim mesmo a segunda pergunta: e eu, o que devo fazer por Jesus? E assim, com estes dois interrogativos, talvez consigamos purificar-nos de qualquer tipo de fé interesseira». Com efeito, acrescentou o Papa, «quando vejo tudo o que Jesus me deu, a generosidade do coração leva-me a dizer: “Sim, Senhor, ofereço tudo! E não vou repetir estes erros, estes pecados». Será possível assim encetar «o caminho da conversão por amor: tu me deste tanto amor, também eu te retribuo este amor».
Graças a estas duas perguntas, concluiu o Pontífice, cada um poderá fazer «um bom teste sobre como se segue Jesus: somos interesseiros ou não?». E assim «seremos capazes de purificar a nossa fé de qualquer interesse».
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