PAPA FRANCISCO
MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA CASA SANTA MARTA
Gesto definitivo
Sexta-feira 18 de novembro de 2016
Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 47 de 24 de novembro de 2016
Um exame de consciência pedido a cada cristão e em particular aos sacerdotes: é Deus «o meu Senhor» ou o meu coração «está apegado ao dinheiro»? Centrou-se neste tema a meditação do Papa. Entre os concelebrantes estavam o cardeal Pietro Parolin com os superiores e oficiais da Secretaria de Estado e um grupo de colaboradores das representações pontifícias que, com a Eucaristia, começaram o dia dedicado à celebração do jubileu da misericórdia.
A reflexão partiu do evangelho do dia (Lc 19, 45-48) no qual se lê que Jesus expulsou os vendedores do templo. É «um gesto definitivo», perfeitamente inserido na catequese da palavra que se encontra «nestas duas semanas do ano litúrgico» nas quais a Igreja «nos faz refletir sobre as coisas finais, as coisas definitivas», e nos sugere «gestos definitivos, quer de Jesus, quer tirados do livro do Apocalipse, para nos ajudar a olhar para além, para o que nos espera, para a pátria definitiva».
Um episódio muito conhecido — cronologicamente enquadrado no início da semana santa — com efeito João coloca este trecho depois da entrada em Jerusalém, juntamente com o cântico das crianças que aclamam «Hosana» àquele que vem na semente do inimigo, a semente que arruína o seu reino». É como se ele nos fizesse «escolher entre casa de Deus e covil de salteadores», ou entre «casa de Deus ou mercado, casa de oração ou mercado». Nesta dicotomia, Jesus indica o dinheiro «como inimigo», porque «o coração apegado ao dinheiro é um coração idólatra». Aliás, ao dinheiro é conferido «o status de senhor». É Jesus quem o faz «quando diz: “Não se pode servir a dois senhores, a dois donos”». E quais são os dois senhores? «Deus e o dinheiro», são eles «os dois senhores». Por conseguinte, o dinheiro, é o «anti-Senhor».
Mas o homem tem a liberdade de escolher entre estes dois senhores. E por isso «Jesus pegou no chicote e começou a fazer limpeza no templo». Na realidade ele «simplesmente repetiu muitos gestos dos profetas» narrados no Antigo Testamento, onde se lê que «expulsavam os ídolos das casas, do templo ou até os ídolos escondidos nas vestes». Por exemplo, «pensemos em Raquel» que «tinha ídolos escondidos».
Por conseguinte, há no episódio evangélico esta contraposição: por um lado o «Senhor Deus, a casa do Senhor Deus, que é casa de oração» onde se dá «o encontro com o Senhor, com o Deus do amor»; e por outro, há «o senhor dinheiro, que entra na casa de Deus, que procura entrar sempre». De resto, aqueles mercantes «trocavam moedas ou vendiam objetos» e pagavam aos sacerdotes o aluguer daqueles lugares.
O dinheiro «é o senhor que pode arruinar a nossa vida e nos pode levar a acabar mal, até sem felicidade, sem a alegria de servir o verdadeiro Senhor, que é o único capaz de nos dar a alegria verdadeira». Mas tudo isto deriva de «uma opção», de uma «escolha pessoal». Por isso, é como se Jesus, «neste gesto definitivo», dissesse a cada um de nós: «Como é a tua atitude com o dinheiro? Que fazes com o dinheiro?». A este ponto o Pontífice dirigiu-se diretamente aos presentes: «tenho vontade — paternalmente — de o dizer a vós: como é a vossa atitude com o dinheiro? Sois apegados ao dinheiro?».
Trata-se de uma pergunta importante dirigida aos sacerdotes. De facto Francisco explicou: «O povo de Deus que tem grande intuição tanto para aceitar, canonizar ou condenar — porque o povo de Deus tem a capacidade de condenar — perdoa tantas debilidades, tantos pecados aos sacerdotes; mas não pode perdoar dois: o apego ao dinheiro, quando vê um sacerdote apegado ao dinheiro, não lhe perdoa» ou «quando o sacerdote trata mal os fiéis: este povo de Deus não o digere, e não perdoa». De facto, em relação às «outras debilidades», aos «outros pecados», o povo mostra-se mais indulgente e tende a «justificar»: reconhece o pecado, acusa-o, «mas a condenação não é tão forte e definitiva». Desta atitude entendende-se que o povo de Deus sabe compreender «o estado de senhor que o dinheiro tem» e pode levar um sacerdote «a ser dono de uma empresa ou príncipe, ou até mais...».
O Pontífice prosseguiu interpelando os sacerdotes que tinha à sua frente, manifestando a sua satisfação pelo encontro organizado pela Secretaria de Estado e dirigindo-se diretamente a eles: «Vou pedir-vos um favor: cada um de vós dedique um pouco de tempo a fazer-se a pergunta: como é a minha atitude em relação ao dinheiro?». E ainda, indo mais a fundo com a pergunta: «Como é o meu coração? É apegado ao dinheiro? Tenho curiosidade em ver quantos juros recebi na conta ou não me preocupo?». Em seguida acrescentou esta consideração: «É triste quando um sacerdote chega ao fim da sua vida, está em agonia, está em coma», e ver «os sobrinhos como aves de rapina ali», à espera do «que podem obter». Eis então o «verdadeiro exame de consciência: “Senhor, Tu és o meu Senhor?» ou, como Raquel, tenho «este ídolo escondido no meu coração, este ídolo do dinheiro?».
O Papa exortou ainda os sacerdotes: «Sede corajosos, sede corajosos. Fazei opções». Que um sacerdote, explicou, tenha «dinheiro suficiente, aquele que possui um trabalhador honesto, a poupança suficiente, a que tem um trabalhador honesto». Ao contrário, os juros «não são lícitos, são idolatria». E concluiu com uma oração ao Senhor, para que conceda a todos «a graça da pobreza cristã», a graça «desta pobreza de operários, daqueles que trabalham e ganham o justo e não procuram mais».
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