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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE

Os sem-nome

Quinta-feira, 8 de Outubro de 2015

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 42 de 15 de Outubro de 2015

Os amargurados «porquês» dirigidos insistentemente a Deus pelos homens repetem-se também, preto no branco, nas numerosas cartas que Francisco recebe todos os dias. Revelou ele mesmo, compartilhando os sentimentos de uma jovem mãe de família diante do drama do tumor, e de uma idosa que chora o filho assassinado pela máfia. Escreveram ao Papa, perguntando por que motivo os malvados parecem ser felizes, enquanto para os justos as coisas vão sempre no rumo errado. E garantindo que Deus nunca abandona quem confia nele.

Para esta reflexão, inspirou-se nas palavras do salmo 1 — «Feliz o homem que confia no Senhor» — que é precisamente «como uma resposta às queixas de muitas pessoas, a tantos porquês que dirigimos a Deus». E aqueles «tantos porquês» são expressos exactamente no trecho bíblico tirado do livro de Malaquias (3, 13-20), proposto pela liturgia hodierna.

«O Senhor — afirmou Francisco — queixa-se com aquelas pessoas, também Ele se queixa, e diz assim: “Tendes proferido palavras violentas contra mim”». E ainda, «diz o Senhor, vós dizeis: “O que dissemos contra vós?”. Afirmastes: “É trabalho inútil servir a Deus. Que ganhamos com a obediência às suas ordens e com as procissões de luto diante do Senhor? Ao contrário, devemos proclamar ditosos os arrogantes; prosperam os que cometem a iniquidade; até ousam tentar a Deus e escapam ao castigo”».

«Quantas vezes — reiterou o Papa — nós vemos esta realidade em pessoas más; pessoas que fazem o mal e que, aparentemente, são bem sucedidas na vida: são felizes, têm tudo o que querem, nada lhes falta». Daqui, a pergunta: «Porquê, Senhor?». Sim, afirmou o Papa, «é um dos muitos porquês: por que para ele, que é um insolente, que não tem interesse algum por Deus nem pelos outros, uma pessoa injusta e também má, tudo corre bem na vida, tem tudo o que quer e nós que queremos fazer o bem temos tantos problemas?».

A este propósito, o Papa revelou que recebeu «uma carta de uma mãe corajosa»: quarenta anos, três filhos, marido e, em casa, o drama de um tumor, «daqueles feios». A mulher escreveu a Francisco para lhe perguntar: «Mas por que me acontece isto?». Além disso, acrescentou o Papa, «há algumas semanas», «noutra carta, uma idosa, que ficou sozinha porque o filho foi assassinado pela máfia», dirigiu-lhe outro «porquê?», acrescentando: «Eu rezo». E, ainda noutra carta, «outro porquê»: «Educo os meus filhos, vou em frente com uma família que ama a Deus: porquê?».

«Na realidade, afirmou o Pontífice, todos nos pomos estes “porquês”». E em particular interrogamo-nos «por que os malvados parecem ser tão felizes?». Em socorro de tais perguntas vem a palavra de Deus. No trecho de Malaquias, recordou o Papa, lê-se: «O Senhor ouviu-os atentamente». Com efeito, «o Senhor ouve os nossos porquês, sempre». E, ainda, lê-se no trecho hodierno de Malaquias: «Diante dele foi escrito o livro que conserva a memória daqueles que temem o Senhor e respeitam o seu nome. Eles serão para mim um bem particular no dia em que eu agir». Portanto, prosseguiu Francisco, «a memória de Deus para os justos, para aqueles que neste momento sofrem, que não conseguem explicar a própria situação». Sim, «a memória de Deus para aqueles que, não obstante digam “porquê? porquê? porquê?”, confiam no Senhor».

É precisamente a atitude delineada pelo salmo 1: «Feliz o homem que não procede conforme o conselho dos ímpios, não trilha o caminho dos pecadores, nem se assenta entre os escarnecedores. Feliz aquele que se compraz no serviço do Senhor e medita a sua lei dia e noite. Ele é como a árvore plantada na margem das águas correntes: dá fruto na época oportuna».

«Agora — explicou o Papa — não vemos os frutos destas pessoas que sofrem, de quantos carregam a cruz», precisamente «como naquela Sexta-Feira Santa e naquele Sábado Santo não se viam os frutos do Filho de Deus crucificado, dos seus sofrimentos». E «tudo o que fazem prospera», recita o salmo 1.

O que diz, ao contrário, o mesmo salmo «sobre os malvados, sobre aqueles para os quais nós julgamos que tudo corre bem?». Francisco releu aqueles versículos: «Os ímpios não são assim! Mas são como a palha que o vento leva; porque o Senhor vela sobre o caminho dos justos, ao passo que o dos ímpios leva à perdição». Em síntese, «estás bem hoje, tens tudo, não tens interesse por Deus, nem pelos outros, e exploras o próximo: és um injusto, só pensas em ti mesmo, não nos outros».

Mas, sugeriu o Papa, «há algo que Jesus disse e que me vem sempre à mente: “Diz-me, qual é o teu nome?”». Sim, estas pessoas nem sequer sabem como se chamam, «não têm nome». E recordou a parábola do pobre Lázaro, «que não tinha o que comer e os cães lambiam as suas feridas». Enquanto «o homem rico, que dava banquetes, divertia-se sem ter consideração pelas necessidades dos outros». E «é curioso, observou o Papa, que «daquele homem não se diz o nome», mas «é só um adjectivo: é um rico». Com efeito, «no livro da memória de Deus os malvados não têm nome: é um malvado, é um trapaceiro, é um explorador». São pessoas que «não têm nome, mas somente adjectivos». Ao contrário, frisou o Pontífice, «todos aqueles que procuram percorrer o caminho do Senhor estarão com o seu Filho, que tem um nome: Jesus Salvador. Mas um nome difícil de entender, até inexplicável por causa da prova da cruz e de tudo o que Ele sofreu por nós».

Concluindo, Francisco convidou a repensar precisamente nas palavras do salmo 1: «Feliz o homem que não procede conforme o conselho dos ímpios. Feliz aquele que se compraz no serviço do Senhor». E assim, «não obstante haja sofrimentos, ele espera no Senhor». Precisamente «come recitamos na oração da colecta, pede ao Senhor que acrescente aquilo que a sua consciência “não ousa esperar”». Sim, «pede também isto: que o Senhor lhe dê mais esperança».

 



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