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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE

De que tipo somos?

Quinta-feira 28 de Maio de 2015

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 23 de 4 de Junho de 2015

Os cristãos de salão — quer sejam egoístas, comerciantes sem escrúpulos, mundanos ou rigoristas — afastam as pessoas que procuram Jesus. E foi contra esta tentação que Francisco advertiu. Ao convidar cada um a fazer «um exame de consciência», o Papa recordou que os cristãos devem saber ouvir «o brado de ajuda» do povo e apoiá-lo no caminho para se aproximar do Senhor.

Francisco começou a homilia traçando os contornos do episódio narrado por Marcos no trecho evangélico (10, 46-52) proposto pela liturgia. «Jesus andava com os seus e com o povo — disse — que o seguia porque Ele falava como um mestre, com autoridade própria». Bartimeu, um homem cego, «ouviu barulho e perguntou: “Que acontece?”. Era Jesus». E assim Bartimeu «começou a bradar fazendo um acto de fé: “Jesus, Filho de David, tem piedade de mim”». As suas palavras são «precisamente um acto de fé» observou o Pontífice.

Mas «entre o povo que estava ali com Jesus, cada qual tinha a sua personalidade, o seu modo de ver a vida, de sentir a vida» explicou o Papa. E por conseguinte, antes de tudo, «há um grupo de pessoas que não ouvia o brado» do homem cego. É «aquele grupo de pessoas que, também hoje, não ouve o brado dos muitos que precisam de Jesus». Em síntese é «um grupo de indiferentes: não ouvem, pensam que a vida seja o seu grupinho; estão contentes, surdos ao clamor de tantas pessoas que precisam de salvação, que precisam da ajuda de Jesus, que têm necessidade da Igreja». Mas, frisou Francisco, «estas pessoas egoístas, vivem para si mesmas», são incapazes de ouvir a voz de Jesus.

«Depois há os que ouvem este brado que pede ajuda, mas o querem silenciar» prosseguiu o Pontífice. Com efeito Marcos no seu Evangelho refere que muitos reprovaram Bartimeu para o fazer calar, dizendo-lhe para «não gritar» e que deixasse o mestre «tranquilo». Também «os discípulos» o fazem. E o Papa recordou ainda quando «os discípulos afastaram as crianças», precisamente «para que não incomodassem o mestre». Por isso também os discípulos procuraram fazer calar Bartimeu «porque o mestre era deles, para eles, não para todos». Fazendo assim «estas pessoas afastam de Jesus os que bradam, que precisam de fé, que têm necessidade de salvação».

Depois, afirmou Francisco, há outro grupo, composto pelos «comerciantes sem escrúpulos: eram religiosos, ao que parece, mas Jesus afastava-os do templo porque faziam negócios ali, na casa de Deus». Trata-se de pessoas «que não ouvem, não querem ouvir, o brado de ajuda, mas preferem fazer os seus negócios e usam o povo de Deus, e usam a Igreja». Também estes comerciantes sem escrúpulos afastam o povo de Jesus» e não deixam que as pessoas «peçam ajuda».

«Outro grupo que afasta o povo de Jesus — disse ainda o Papa — são os cristãos só de nome, sem testemunho, que não dão testemunho de cristãos». Sim, «são cristãos de nome, cristãos de salão, cristãos de recepções, mas a sua vida interior não é cristã, é mundana». E «quem se considera cristão e vive como um mundano afasta os que imploram “ajuda” a Jesus».

E depois «há os rigoristas» acrescentou o Papa: «aqueles que Jesus reprova» porque «carregam tantos pesos sobre os ombros das pessoas». E «Jesus dedica-lhes todo o capítulo 23 de são Mateus». A eles chama «hipócritas, exploradores de pessoas!». Com efeito, «em vez de responder ao brado que pede salvação afastam o povo».

O «primeiro grupo» recapitulou o Pontífice, compõe-se por «aqueles que não ouvem». Ao segundo pertencem «muitas pessoas diversas» que «ouvem a chamada, mas se afastam» de Jesus. E «há também o terceiro grupo» que são «os que ajudam a aproximar-se de Jesus» e que dizem a Bartimeu; «“Coragem, levanta-te, chama-te!”». É «o grupo dos cristãos que têm coerência entre o que crêem e o que vivem» e ajudam a aproximar de Jesus «as pessoas que bradam pedindo salvação, graça, saúde espiritual para a própria alma».

Precisamente à luz desta reflexão, Francisco propôs «um exame de consciência» que «nos fará bem», através de uma série de perguntas directas: «Eu a que grupo pertenço? Ao primeiro, ao dos que não ouvem os muitos brados que pedem ajuda de salvação? Ocupo-me apenas da minha relação com Jesus, fechada, egoísta? Pertenço ao segundo grupo, daqueles que afastam o povo de Jesus, quer por falta de coerência de vida, de testemunho, ou porque são muito apegados ao dinheiro, quer por rigidez?». E ainda: «Afasto as pessoas de Jesus? Ou pertenço ao terceiro grupo, aos que ouvem o brado de tantas pessoas e ajudo a aproximarem-se de Jesus?». A estas perguntas, concluiu o Papa, «cada um de nós pode responder no seu coração».

 



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