PAPA FRANCISCO
MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE
A unidade não se faz com a cola
Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 22 de 28 de Maio de 2015
A unidade na Igreja foi o tema da reflexão do Papa. Relendo o trecho evangélico (Jo 17, 20-26) proposto pela liturgia, Francisco frisou que «consola ouvir esta palavra: “Pai, não rezo só por estes, mas também por aqueles que crerem em mim mediante a sua palavra”», como disse Jesus ao despedir-se dos apóstolos. Jesus rezou pelos discípulos mas «também por nós» e «continua a fazê-lo hoje», como se lê no Evangelho: «Pai, rezo também por quantos vierem depois». Um detalhe não irrelevante, que merece maior atenção: «Jesus orou por mim» e isto «é fonte de confiança». Podemos imaginar «Jesus diante do Pai no céu», que reza por nós. E «o que vê o Pai? As chagas», foi este o preço que Jesus «pagou por nós».
Com esta imagem, o Papa entrou no cerne da reflexão, perguntando: «Que pede Jesus ao Pai nesta prece?». Diz talvez: «Oro por eles para que a sua vida seja boa, tenham dinheiro, sejam felizes, nada lhes falte?». Não, «ora para que todos sejam um só: “Como Tu estás em mim e eu Eu em ti”». Reza «pela nossa unidade, pela unidade do seu povo, da sua Igreja». Sabe bem que «o espírito do mundo, o espírito do pai da divisão, é um espírito de guerra, inveja, ciúmes», presente «até nas famílias, nas ordens religiosas, nas dioceses, na Igreja: é a grande tentação». Assim, «a profunda prece de Jesus» é de nos «assemelharmos» ao Pai: «Como Tu, ó Pai, estás em mim e Eu em ti», na «sua unidade com o Pai».
Alguém poderia perguntar: «Padre, com esta prece de Jesus, se quisermos ser fiéis, não podemos falar mal uns dos outros?» Ou então: «Não podemos etiquetar as pessoas... esta é assim, essa é assim, aquela é revolucionária?». A resposta do Papa foi clara: «Não», porque «devemos ser um só, como Jesus e o Pai são um só». É este «o desafio dos cristãos: não deixar lugar à divisão entre si, não dar espaço ao espírito da divisão, ao pai da mentira». Devemos «procurar sempre a unidade». Naturalmente, cada um «é como é», mas deve procurar viver na unidade. O Senhor reza por isto: «A Igreja tem muita necessidade desta prece da unidade, não só de Jesus, mas também nós devemos unir-nos nesta oração». De resto, desde os primórdios a Igreja manifestou esta necessidade: «Se começarmos a ler os Actos dos Apóstolos — disse — encontraremos brigas e até trapaças. Uns querem enganar os outros, pensai em Ananias e Safira...». Já nos primeiros anos havia divisões, interesses pessoais, egoísmos. Fazer a unidade foi e é uma verdadeira «luta».
Mas é preciso entender que «sozinhos não podemos» alcançar a unidade, dado que ela «é uma graça». Assim «Jesus reza pela Igreja, por mim, para que eu vá em frente por este caminho». A unidade é tão importante que se repete «quatro vezes em seis versículos». Ela «não se faz com a cola», pois não existe uma «Igreja feita com a cola»: a Igreja torna-se uma só mediante o Espírito. Então, «devemos dar espaço ao Espírito para que nos transforme, como o Pai no Filho, num só». Para alcançar esta meta, o próprio Jesus dá um conselho: «Permanecei em mim», e na sua oração pede: «Pai, quero que quantos me deste permaneçam comigo onde Eu estou» para «contemplar a minha glória». Desta meditação deriva um conselho: reler Jo 17, 20-26 e pensar: «Jesus rezou e ainda reza por mim. Roga ao Pai com as suas chagas». E fá-lo «para sermos todos um só». Isto «deve levar-nos a não julgar», a não «agir contra a unidade», a seguir o conselho de Jesus «de permanecer nele nesta vida para podermos estar com Ele na eternidade».
Estes ensinamentos encontram-se no discurso de Jesus na última ceia. Na missa «revivemos» a ceia e Ele repete-nos as mesmas palavras. Por isso, na Eucaristia «permitamos que as suas palavras entrem no nosso coração, sejamos testemunhas de unidade na Igreja e de alegria na esperança da contemplação da glória de Jesus».
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