PAPA FRANCISCO
MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE
Sem medo
Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 21 de 21 de Maio de 2015
Medo e tristeza fazem adoecer as pessoas e também a Igreja, porque paralisam, tornam egocêntricos e acabam por viciar o ar das comunidades que nas portas fixam o cartaz «proibido» porque têm medo de tudo. Ao contrário é a alegria, que no sofrimento se transforma em paz, a atitude corajosa do cristão, amparado pelo temor de Deus e pelo Espírito Santo.
Na liturgia da palavra, observou Francisco comentando as leituras do dia, «há duas palavras fortes sobre as quais a Igreja nos faz meditar: medo e alegria». E assim — lê-se nos Actos dos apóstolos (18, 9-18) — o Senhor diz a Paulo: «Não tenhas receio; continua a falar».
«O medo — explicou o Papa — é uma atitude que nos faz mal, nos enfraquece, nos diminui e até nos paralisa». A ponto que «uma pessoa que tem medo nada faz, não sabe o que fazer: é temerosa, medrosa, concentrada em si mesma para que nada de mal, de errado, lhe aconteça». Portanto «o medo leva a um egocentrismo e paralisa». Precisamente «por isto Jesus diz a Paulo: não tenhas medo, continua a falar».
Com efeito, o medo «não é uma atitude cristã», mas «uma atitude, podemos dizer, de uma alma aprisionada, sem liberdade, que não tem à-vontade para olhar em frente, para criar algo, para praticar o bem». E assim quem tem medo continua a repetir: «Não, há este perigo e aquele...» e assim por diante. «Que pena, o medo faz mal!» comentou ainda Francisco.
Mas deve-se «distinguir o medo do temor de Deus, com o qual nada tem a ver». O temor de Deus «é santo, é o temor da adoração diante do Senhor e é uma virtude». Com efeito, ele «não diminui, não debilita nem paralisa»; ao contrário, «leva em frente na missão que o Senhor confia». E a propósito o Pontífice acrescentou: «O Senhor, no capítulo 18 do Evangelho de Lucas, fala de um juiz que não temia Deus nem tinha consideração por ninguém, e fazia o que queria». Isto é «um pecado: a falta de temor de Deus e também a auto-suficiência». Porque «afasta da relação com Deus e também da adoração».
Por isso, «uma coisa é o temor de Deus, que é bom; mas outra é o medo». E «um cristão medroso é insignificante: não compreendeu qual é a mensagem de Jesus».
A «outra palavra» proposta pela liturgia, «depois da Ascensão do Senhor», é «alegria». No trecho do Evangelho de João (16, 20-23), o «Senhor fala da passagem da tristeza para a alegria», preparando os discípulos «para o momento da paixão: “Vós estareis na tristeza, mas a vossa tristeza transformar-se-á em alegria”». Jesus sugere «o exemplo da mulher no momento do parto, que sofre tantas dores mas depois, quando a criança nasce, esquece-se das dores» e dá espaço à alegria. «E ninguém vos poderá privar da vossa alegria» garante o Senhor.
Mas «a alegria cristã não é um simples divertimento, não é uma alegria passageira». Ao contrário, «a alegria cristã é um dom do Espírito Santo: é ter sempre o coração jubiloso porque o Senhor venceu, o Senhor reina, o Senhor está à direita do Pai, o Senhor olhou para mim e enviou-me e deu a sua graça e tornou-me filho do Pai».
Eis o que é a verdadeira «alegria cristã». Por isso, um cristão «vive na alegria». Mas, perguntou Francisco, «onde está esta alegria nos momentos mais tristes, nos momentos da dor? Pensemos em Jesus na Cruz: sentia alegria? Não! Mas paz, sim!». Com efeito, explicou o Papa, «a alegria, no momento da dor, da provação, torna-se paz». Ao contrário «um divertimento no momento da dor torna-se escuridão».
Eis por que «um cristão sem alegria não é cristão; um cristão que vive continuamente na tristeza não é cristão». A «um cristão que perde a paz, no momento das provações, das doenças, de muitas dificuldades, falta alguma coisa».
Francisco convidou a «não ter medo e a ser jubilosos», explicando: «Não ter medo significa pedir a graça da coragem, a coragem do Espírito Santo; e sentir alegria é pedir o dom do Espírito Santo, até nos momento mais difíceis, com aquela paz que o Senhor concede».
E o que «acontece com os cristãos, acontece nas comunidades, na Igreja inteira, nas paróquias, em muitos ambientes cristãos». Com efeito «há comunidades medrosas, que se movem sempre nas certezas: “Não, não, não façamos isto... Não, isto não se pode”». A ponto que «parece que na porta da entrada tenham escrito “proibido”: tudo é proibido por medo». Assim «quando se entra naquela comunidade o ar está viciado, porque a comunidade está doente: o medo faz adoecer uma comunidade; a falta de coragem faz adoecer uma comunidade!».
Mas «também uma comunidade sem alegria é doente, porque quando não há a alegria há o vazio. Não, aliás: há o divertimento». E assim, afinal, «será uma bonita comunidade divertida, mas mundana, doente de mundanidade porque não tem a alegria de Jesus Cristo». E «um efeito, entre outros, da mundanidade é o de falar mal dos outros». Portanto, «quando a Igreja é medrosa e quando não recebe a alegria do Espírito Santo, adoece, as comunidades adoecem, os fiéis adoecem».
Na oração do início da missa, recordou o Papa, «pedimos ao Senhor a graça de nos elevarmos para Cristo sentado à direita do Pai». Precisamente «a contemplação de Cristo sentado à direita do Pai nos dará a coragem, a alegria, nos tirará o medo e nos ajudará também a não cair numa vida superficial e divertida».
«Com esta intenção de elevar o nosso espírito para Cristo sentado à direita do Pai prossigamos a nossa celebração, pedindo ao Senhor: eleva o nosso espírito, tira-nos qualquer receio e dá-nos a alegria e a paz».
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