PAPA FRANCISCO
MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE
Acções concretas
Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 20 de 14 de Maio de 2015
Para distinguir o amor autêntico do falso, «de telenovela», Francisco sugeriu «dois critérios»: primeiro «acções concretas e não palavras», para não ver «um Deus distante» como os gnósticos; depois, «comunicação», porque quem ama nunca está isolado. Seguindo estes dois critérios chega-se a viver o amor como alegria autêntica, garantiu o Papa.
«O Senhor pede-nos que permaneçamos no seu amor», afirmou o Pontífice referindo-se ao trecho do Evangelho (Jo 15, 9-11) proposto pela liturgia do dia, com uma pergunta central: «De que amor se trata?». É o «amor do Pai» como o próprio Jesus nos diz: «Assim como o Pai me ama, também Eu vos amo». Portanto, é «a plenitude do amor: permanecer no amor de Jesus». «É preciso entendê-la bem» a realidade do amor autêntico, explicou. Mas «como é o amor de Jesus? Como posso saber se sinto o amor autêntico?». Francisco indicou «dois critérios que nos ajudam a distinguir». Primeiro: «o amor deve ser demonstrado mais com acções que com palavras». E segundo: «comunicar é uma característica do amor: o amor comunica-se». Só «com estes critérios podemos encontrar o verdadeiro amor de Jesus, nas acções concretas».
Por isso, as acções concretas são essenciais: «Podemos ver uma telenovela, um amor de telenovela: é uma fantasia, são histórias que não nos dizem respeito. Fazem-nos bater um pouco o coração, e nada mais». E Jesus admoestava os seus: «Não os que dizem “Senhor, Senhor!” entrarão no reino dos céus, mas os que tiverem feito a vontade do Pai, observando os meus mandamentos».
Estas palavras levam-nos ao «amor concreto de Jesus». Ele «é concreto nas acções, não nas palavras». Assim, «quando o jovem doutor da lei perguntou a Jesus: “Senhor, qual é o maior mandamento da lei?”, Ele respondeu: “Amarás o teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, e o teu próximo como a ti mesmo”». Mas o jovem «sentiu-se pouco à vontade e não sabia como sair daquela pequena vergonha». E «para sair, fez mais uma pergunta: quem é o meu próximo?». Para o explicar «Jesus narrou a palavra do bom samaritano» e propôs ao jovem: «Faz também tu o mesmo».
Com esta exortação, Jesus mostra que «o verdadeiro amor é concreto nas acções, constante, e não um simples entusiasmo». Ma «muitas vezes é também um amor doloroso: pensemos no amor de Jesus que carrega a cruz». Contudo, «em Mateus 25, Jesus ensina-nos as obras do amor» com palavras claras: «quem ama age assim». É um pouco «o protocolo do juízo: eu tinha fome, tinha sede...».
«Também as bem-aventuranças, como programa pastoral de Jesus, são concretas», disse o Papa. Assim, «o primeiro critério para permanecer no amor de Jesus é que o nosso amor seja concreto, observando os seus mandamentos». Por isso, Francisco recordou que «uma das primeiras heresias no cristianismo foi a do pensamento gnóstico», que via um «Deus distante, não concreto». E «o apóstolo João condena-a: “Eles não crêem que a Palavra se fez carne”». Mas com o seu amor o Pai «foi concreto, enviou o seu Filho que se fez carne para nos salvar». Eis o primeiro critério.
O «segundo critério», é que «o amor se comunica, não permanece isolado: o amor dá-se a si mesmo e recebe; faz-se a comunicação que há entre o Pai e o Filho, a comunicação do Espírito Santo». Por isso, «não há amor sem comunicação, isolado». Alguém poderia dizer que «os monges e as monjas de clausura vivem isolados», mas não é assim, porque «se comunicam muito com o Senhor e com quantos vão ter com elas em busca da palavra de Deus». «O amor autêntico não pode isolar-se», e «se está isolado não é amor», mas «uma forma espiritualista de egoísmo, um fechamento à procura do próprio proveito». Em síntese, é «egoísmo». Assim, «permanecer no amor de Jesus significa estar no amor do Pai que nos enviou Jesus, significa fazer e não só dizer; significa capacidade de dialogar com o Senhor e com os irmãos».
No fundo, observou, «é muito simples, mas não é fácil, porque o egoísmo atrai», levando-nos a não «realizar gestos concretos: atrai-nos a não comunicar». Mas o que diz o Senhor de quem permanece no seu amor? «Disse-vos isto para que a minha alegria permaneça em vós, e para que ela seja plena». Portanto, «o Senhor que permanece no amor do Pai é jubiloso»; e acrescenta: «Se permanecerdes no meu amor, a vossa alegria será total». Trata-se de uma «alegria que muitas vezes vem com a cruz». Mas «como o próprio Jesus disse: ninguém vo-la poderá tirar».
Continuando a missa, «com o Senhor que virá sobre o altar», o Papa pediu a graça de «permanecermos no seu amor com gestos e comunicações»: o Senhor nos conceda «a graça da alegria que o mundo não nos pode dar».
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