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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE

A canção de embalar de Deus

Quinta-feira, 11 de Dezembro de 2014

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 51-52 de 25 de Dezembro de 2014

Para nós, Deus é como a mãe que nos entoa ternamente uma canção de embalar e não tem medo de parecer até «ridículo» na medida do seu amor por nós. Por isso, Francisco alertou contra a «tentação de comercializar a graça», com uma certeza: «Se tivéssemos a coragem de abrir o nosso coração a esta ternura de Deus, quanta liberdade espiritual teríamos!». E para viver esta experiência o Papa sugeriu que abramos a Bíblia para ler o trecho do profeta Isaías proposto pela liturgia do dia (41, 13-20): «Isaías fala de salvação, do modo como Deus salva o seu povo, e recorda a proximidade de Deus ao seu povo». De resto, «Deus salva aproximando-se, não à distância: aproxima-se e caminha com o seu povo». «Esta é a salvação de Deus». E «no Deuteronómio disse: qual é o povo que tem um Deus tão próximo como tu? Nenhum!».

«É a proximidade de Deus ao seu povo que dá a salvação». Uma «proximidade que progride até assumir a nossa humanidade». E «neste trecho existe algo que talvez nos faça sorrir um pouco»: com efeito, «a proximidade de Deus é tanta que Ele se apresenta como uma mãe que dialoga com o seu filho, uma mãe que lhe entoa uma canção de embalar com voz de criança, fazendo-se pequeno como o filho, a ponto de ser ridículo, se não se entendesse como isto é grande!». Na Escritura lê-se: «Não temas, pequeno verme de Jacob».

«Quantas vezes uma mãe diz tais coisas ao filho, enquanto o acaricia!». É a mesma linguagem da Escritura: «Eis que farei de ti um trenó pontiagudo, novo... far-te-ei grande...!». Falando assim, a mãe «acaricia-o aproximando-o de si». Também «Deus faz assim: é a ternura de Deus», «tão próximo de nós que se expressa com esta ternura de mãe». Isto vale «até quando o filho não quer a mãe e afasta-se chorando». Assim «Jesus no monte, ao ver Jerusalém, chorou porque o povo se afastou».

«Esta é a graça de Deus»: «quando falamos de graça, falamos desta proximidade». Assim, «quando alguém diz: encontro-me em estado de graça, perto do Senhor, ou deixo que o Senhor se aproxime de mim, esta é a graça!». Mas «nós muitas vezes, para nos sentirmos seguros, queremos controlar a graça, como se o filho dissesse à mãe: “Está bem assim, mas agora cala-te, deixa-me viver, sei que tu me amas”». Por sua vez, «a mãe continua a dizer coisas que fazem rir, mas é o amor que se exprime assim». Pois bem, «impede o filho a própria mãe? Não! Deixa-se amar, porque é uma criança. E Jesus diz: o reino dos céus é como o filho que se deixa amar por Deus!».

Depois, o Papa alertou contra «a tentação de comercializar a graça» que «muitas vezes temos na história e na nossa vida». Trata-se de transformar «esta graça, que é a proximidade de Deus», numa «mercadoria ou algo controlável». Assim, «temos a tentação de dizer: “tenho muita graça, vivo em estado de graça!”. Mas o que significa, que estamos próximos do Senhor? “Não, que também temos a alma purificada!”». Mas «esta verdade tão bonita da proximidade de Deus acaba em contabilidade espiritual». «Na história, esta proximidade de Deus ao seu povo foi traída pela nossa atitude egoísta de querer controlar a graça», como «os partidos na época de Jesus». A começar pelos «fariseus: para eles, a graça consistia em seguir a lei e quando havia dúvidas, fazia-se outra para que tal lei fosse clara». Deste modo, «acabaram com 300, 400 mandamentos». Eles com o dom de Deus fizeram um caminho de santidade que os tornava escravos.

O Papa sugeriu uma «regra para sempre: se na tua relação com o Senhor não sentes que Ele te ama ternamente» significa que «ainda te falta algo, ainda não entendeste o que é a graça, ainda não recebeste a graça como proximidade». Depois, Francisco recordou que, há muitos anos, uma senhora se aproximou dele e disse: «Padre, quero perguntar-lhe algo, porque não sei se devo confessar-me ou não: no sábado passado fomos ao casamento dos nossos amigos e havia uma missa, mas eu interroguei-me se era válida para o dia de domingo. As leituras não eram dominicais, e não sei se pequei mortalmente porque no domingo não fui à outra missa». «Aquela mulher sofria!», mas eu disse-lhe: «O Senhor ama-te muito: tu recebeste a comunhão, estiveste com Jesus. Está tranquila, o Senhor não é um comerciante!».

Até «são Paulo reage com força contra esta espiritualidade da lei». E escreve: «Sou justo se me comporto assim, caso contrário não sou justo». Ao contrário, «és justo porque Deus se aproximou de ti e porque te acaricia: nisto consiste a nossa justiça».

 


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