PAPA FRANCISCO
MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE
Quem escandaliza o povo?
Sexta-feira, 21 de Novembro de 2014
Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 48 de 27 de Novembro de 2014
Párocos e leigos que têm responsabilidades pastorais devem «manter o templo limpo» e «acolher cada pessoa como se fosse Maria», preocupando-se por não dar escândalo ao povo de Deus» e evitando transformar a igreja num ambiente de negócios, «porque a salvação é gratuita». Foi esta a recomendação feita pelo Papa a 21 de Novembro, festa da apresentação da Virgem Maria no Templo.
«O gesto de Jesus no templo» — que como escreve Lucas no seu Evangelho (19, 45-48) «afastou os que vendiam» — segundo Francisco é «precisamente uma cerimónia de purificação do templo». O povo de Israel «conhecia estas cerimónias: muitas vezes teve que purificar o templo quando tinha sido profanado». Pensemos, recordou o Papa, «nos tempos de Neemias na reconstrução do templo». Havia «sempre aquele zelo pela casa de Deus, porque o templo para eles era a casa de Deus, o “sagrado”, e quando foi dessacralizado, teve que ser purificado».
Portanto «Jesus, neste momento, faz uma cerimónia de purificação» recordou o Papa, confidenciando: «Pensava em quanta diferença há hoje entre este Jesus, zeloso da glória de Deus, com o chicote na mão, e aquele Jesus de doze anos, que falava com os doutores: quanto tempo passou e como mudaram as coisas!». Com efeito «Jesus, movido pelo zelo para glória do Pai, faz este gesto, esta cerimónia de purificação: o templo tinha sido profanado». Mas «não só o templo, o povo de Deus, profanado com o pecado tão grave que é o escândalo».
Referindo-se ainda ao episódio evangélico, Francisco frisou que «o povo é bom, vai ao templo, não reparava nestas coisas: procurava Deus, rezava». Mas «tinha que trocar as moedas para fazer as ofertas, e fazia-o ali». Era precisamente para procurar Deus que «o povo ia ao templo; não pelos que vendiam», e no templo havia a corrupção que os escandalizava.
É um facto: «Quando os que estão no templo — quer sejam sacerdotes, leigos, secretários que gerem a pastoral do templo — se tornam comerciantes, o povo escandaliza-se». E «nós somos responsáveis por isto, também os leigos: todos». Porque, explicou Francisco, «se vejo que na minha paróquia se faz isto, devo ter a coragem de o dizer directamente ao pároco», caso contrário «o povo sofre por aquele escândalo». E «é curioso», acrescentou o Papa, que «o povo de Deus sabe perdoar os seus sacerdotes, quando têm uma fraqueza, quando caem num pecado». Mas «há duas coisas que o povo de Deus não pode perdoar: um sacerdote apegado ao dinheiro e que maltrata as pessoas. Não consegue perdoar» o escândalo da «casa de Deus» que se torna uma «casa de negócios». No trecho evangélico, Lucas não diz que «Jesus está zangado». Ao contrário, Jesus «é o zelo pela casa de Deus: é mais do que a cólera». Mas, questionou-se o Pontífice, «por que age assim Jesus? Ele disse-o e repete-o de outro modo aqui: não se podem servir dois senhores. Ou prestas o culto a Deus vivente, ou prestas o culto ao dinheiro». E aqui «a casa do Deus vivente é uma casa de negócios: havia precisamente o culto do dinheiro».
Portanto, «não se podem servir dois senhores: Deus é absoluto». Mas há também outra questão: «por que Jesus é contrário ao dinheiro?». Porque — respondeu Francisco — «a redenção é gratuita: a gratuitidade de Deus». Com efeito, Jesus «vem trazer-nos a gratuitidade total do amor de Deus». Por isso, «quando a Igreja ou as Igrejas se tornam comerciantes, diz-se que a salvação não é gratuita». E é «por isto que Jesus pega no chicote para fazer este rito de purificação no templo».
A festa litúrgica da apresentação de Maria no templo sugeriu ao Pontífice uma oração. Recordando que a Virgem entra no templo como «mulher simples», Francisco desejava que isto «ensinasse todos nós — a todos os párocos, a quantos têm responsabilidades pastorais — a manter o templo limpo» e «a receber com amor quantos vêm, como se cada um deles fosse Nossa Senhora».
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