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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE

No reino de Deus com meio euro no bolso

Quinta-feira, 13 de Novembro de 2014

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 47 de 20 de Novembro de 2014

O reino de Deus já se encontra na santidade escondida de todos os dias, vivida pelas famílias que chegam ao fim do mês com apenas meio euro no bolso, mas não caem na tentação de pensar que o reino de Deus é só um espectáculo. Talvez como aqueles que fazem do sacramento do matrimónio uma caricatura, transformando-o numa feira de vaidades. O Papa relançou assim o compromisso de uma vida de fé perseverante, no dia-a-dia, deixando campo livre ao Espírito Santo no silêncio, na humildade e na adoração. E fê-lo propondo as verdadeiras características do reino de Deus.

Quando Jesus falava do reino de Deus despertava a «curiosidade» dos fariseus. Assim — lê-se no Evangelho de Lucas (17, 20-25) proposto pela liturgia — chegam a perguntar-lhe: «Quando há-de vir o reino de Deus?». E «Jesus responde imediata e claramente: o reino de Deus não vem de modo a chamar a atenção. O reino de Deus já está no meio de vós». Com efeito, «quando Jesus explicava com parábolas como é o reino de Deus, usava sempre palavras tranquilas». Jesus comparava o reino com um «mercador que se põe em busca de pérolas» ou «com quem procura um tesouro escondido na terra». Ou dizia que ele é «como uma rede que apanha todos, ou como um pequenino grão de mostarda, que depois se torna uma árvore frondosa», como «uma semente que lançamos mas não sabemos como cresce» porque «é Deus que a faz crescer». Portanto, «era isto que Jesus explicava»: «O reino de Deus cresce como a árvore do grão, não circundado por coisas bonitas, mas no meio do joio. O reino não chama a atenção, é silencioso».

Em síntese, «o reino de Deus não é um espectáculo», que «muitas vezes é uma sua caricatura». Nunca podemos «esquecer que esta foi uma das três tentações»: no deserto dizem a Jesus: «Lança-te do pináculo do templo e todos acreditarão, faz um espectáculo». Mas «o reino de Deus é silencioso, cresce dentro; é o Espírito que o faz crescer com a nossa disponibilidade, na nossa terra, que devemos preparar». Neste trecho evangélico Jesus pergunta: «Desejais ver o reino de Deus?». E explica: «Dir-vos-ão: ei-lo aqui. Não os sigais, pois o Reino chegará como um relâmpago!», «manifestando-se num instante».

O Papa sugeriu um breve exame de consciência, para não cairmos em tentação: «És cristão? Sim! Crês em Jesus Cristo? Sim! Crês nos sacramentos? Sim! Crês que Jesus está aqui? Sim!». Então, «por que não o adoras, por que não vais à missa, por que não recebes a Comunhão, por que não te aproximas do Senhor», para que o seu Reino «cresça» em ti? De resto, «o Senhor nunca diz que o Reino é um espectáculo», mas «uma festa grandiosa», embora «a nossa debilidade humana prefira o espectáculo». É o que às vezes acontece «nas celebrações de alguns sacramentos»: «As pessoas vêm receber um Sacramento, ou dar o espectáculo da moda, da vaidade?». Não aceitamos que o Reino é silencioso.

No oposto do espectáculo encontra-se «a perseverança de tantos cristãos que sustentam a própria família: homens e mulheres que cuidam dos filhos, dos avós, e chegam ao fim do mês com apenas meio euro no bolso, mas rezam». E o Reino de Deus «está ali, escondido na santidade da vida diária». A «proximidade é uma das suas características». Por isso, Jesus «quando quer falar do último dia, diz: será como um relâmpago, mas antes o Filho do homem deverá sofrer muito e será rejeitado por esta geração». Portanto, do reino de Deus «fazem parte também o sofrimento, a cruz diária da vida, do trabalho, da família», a «rejeição». Quanto a nós «devemos deixá-lo crescer, sem nos vangloriarmos, permitindo que o Espírito venha, mude a nossa alma e nos faça progredir no silêncio, na paz, na mansidão, na proximidade de Deus e do próximo, na adoração de Deus, sem espectáculo». Francisco concluiu, convidando a pedir ao «Senhor a graça de cuidar do reino de Deus dentro de nós e nas nossas comunidades: com a oração, a adoração e o serviço da caridade, silenciosamente».

 


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