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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE

  Salvos à nossa maneira

Sexta-feira 3 de Outubro de 2014

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 41 de 9 de Outubro de 2014

 

O homem vive «dentro de si o drama de não aceitar a salvação de Deus» porque gostaria de ser salvo à sua maneira. E Jesus chega até a chorar por causa desta «resistência» do homem, repropondo sempre a sua misericórdia e o seu perdão.

No trecho evangélico proposto pela liturgia, Lucas (10, 13-16) apresenta Jesus que «parece um pouco zangado». E «fala a este povo para o fazer raciocinar» dizendo: «Se nas cidades pagãs se tivessem verificado os prodígios que se viram entre vós, já há tempos, vestidas de saco e cobertas de cinza, ter-se-iam convertido. E vós não». Assim Jesus delineia «precisamente um resumo de toda a história de salvação: é o drama de não querer ser salvo; de não aceitar a salvação de Deus». É como se disséssemos: «Salva-nos, Senhor, mas à nossa maneira!».

Estamos diante do «drama da resistência a sermos salvos». Trata-se de «uma herança que todos nós recebemos», porque «também no nosso coração há esta semente de resistência a sermos salvos como o Senhor nos quer salvar». É «este o drama das histórias de salvação, desde o início. É antes de tudo «um drama do povo», porque «o povo se rebela muitas vezes, no deserto por exemplo». Mas com as provações o povo amadurece e assim reconhece em Jesus um grande profeta e diz: Deus visitou o seu povo». Contudo, disse Francisco, é «precisamente a classe dirigente que fecha as portas ao modo como Deus nos quer salvar». Neste sentido «compreendem-se os diálogos fortes de Jesus com a classe dirigente do seu tempo». «Decide matar Jesus» porque, dizem, «este homem dar-nos-á problemas: não queremos esta salvação! Queremos uma salvação muito disciplinada, certa!».

«Com esta decisão aquela classe dirigente cancela a omnipotência de Deus», disse o Papa, recordando que «na oração no início da missa, louvamos tão bem a omnipotência de Deus: “Senhor que revelas a tua omnipotência, sobretudo na misericórdia e no perdão”». O drama da resistência à salvação leva a não acreditar «na misericórdia e no perdão» mas nos sacrifícios. É um drama que também todos nós temos. Por isso Francisco sugeriu algumas perguntas para um exame de consciência: «Como quero ser salvo? De que modo? Sem riscos?».

Quando Jesus vê este drama da resistência, chora; chorou diante do túmulo de Lázaro, quando olhou para Jerusalém. E «chora também face a este drama de não aceitar a sua salvação, como o Pai a quer».

Por isso o Papa convidou a «pensar que este drama se encontra no nosso coração» insistindo que cada um de nós se questione: «Como penso que seja o caminho da minha salvação: a de Jesus ou outra? Sinto-me livre para aceitar a salvação ou confundo liberdade com autonomia e quero a salvação que considero justa? Penso que Jesus é mestre que ensina a salvação ou vou procurar um guru que me ensine outra? Um caminho mais seguro ou refugio-me debaixo do tecto das prescrições e dos muitos mandamentos feitos por homens? E assim sinto-me seguro e com esta segurança compro a minha salvação que Jesus dá gratuitamente, com a gratuitidade de Deus».

Todas estas perguntas, «sobre às quais nos fará bem reflectir», culminam na última proposta do Papa: «Resisto à salvação de Jesus?».

 



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