Index   Back Top Print

[ FR  - PT ]

PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE

Descasquei a cebola

Quinta-feira, 25 de Setembro de 2014

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 40 de 2 de Outubro de 2014

Há muitos «cristãos que se pavoneiam», doentes de vaidade, que «vivem para aparecer e para se mostrar». Assim acabam por transformar a sua vida numa «bolha de sabão», bela mas efémera, e saem por aí com demasiada maquilhagem, talvez procurando também fazer boa impressão, agitando «cheques para as obras da Igreja» ou recordando que são «parentes de tal bispo». Mas agindo assim levam uma vida falsa, enganando-se a si mesmos. Ao contrário, o que conta é «a verdade, a realidade concreta do Evangelho». Foi com um encorajamento «talvez um pouco cruel mas genuíno» que o Papa pediu aos cristãos para considerar só a sua «vida com o Senhor», sem mandar tocar trombetas. Francisco comentou o célebre trecho do livro de Coélet — «vaidade das vaidades» (1, 2-11) — proposto pela liturgia do dia, observando que ele não é «pessimista» como poderia parecer. Ao contrário, diz-nos a «verdade», ou seja, que «tudo passa e se não tivermos algo de consistente, também nós passaremos, como tudo».

Francisco reconheceu que: «Talvez o que vos digo seja um pouco cruel, mas é a verdade», pois «os cristãos que vivem para aparecer parecem pavões». Mas o que conta não é vangloriar-se de algo, porque o essencial é só «a tua vida com o Senhor». Depois, o Papa fez algumas perguntas: «Como rezas? Como vai a tua vida nas obras de misericórdia? Visitas os doentes?». Em síntese, é preciso ser concreto, ver «a realidade». E «por isso Jesus diz que devemos construir a nossa casa, a nossa vida cristã, na rocha, na verdade». Mas «os vaidosos edificam a sua casa na areia e ela cai, a vida cristã desaba porque não é capaz de resistir às tentações».

«A verdade nos faz voltar à terra nua, como dizia Paulo VI». De resto, «o que nos espera é a terra nua, a nossa verdade final». Mas «a vaidade é falsa, fantasiosa, engana o vaidoso». Foi o que aconteceu com o tetrarca Herodes (Lc 9, 7-9): «A vaidade semeia inquietações negativas, tira a paz». Em síntese, a vaidade «é como as pessoas que se maquilham demais e depois têm medo de se molhar na chuva e que toda a maquilhagem seja eliminada».

Por todos estes motivos, afirmou o Pontífice, a vaidade «é uma doença espiritual muito grave». É significativo que «os padres egípcios do deserto diziam que a vaidade é uma tentação contra a qual devemos lutar a vida inteira, porque ela volta sempre para nos privar da verdade». E «para nos fazer compreender isto, diziam ainda: é como a cebola; pegas nela e começas a descascá-la. Descascas a vaidade um pouco hoje, um pouco amanhã» e vais em frente «a vida inteira, descascando a vaidade para a derrotar». Assim, «no final ficas contente: eliminei a vaidade, descasquei a cebola. Mas permanece o cheiro da cebola nas tuas mãos».

 


Copyright © Dicastero per la Comunicazione - Libreria Editrice Vaticana