PAPA FRANCISCO
MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE
Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 48 de 28 de Novembro de 2013
Ai de quem se ilude que é dono do próprio tempo. Podemos ser donos do momento no qual vivemos, mas o tempo pertence a Deus e ele doa-nos a esperança para o viver. Há muita confusão hoje para determinar efectivamente a quem pertence o tempo, mas — advertiu o Papa Francisco na homilia da missa celebrada na manhã de terça-feira, 26 de Novembro, na capela de Santa Marta — não nos devemos deixar enganar. Explicou o porquê e o como, reflectindo sobre quanto propõem as leituras deste último período do ano litúrgico, durante o qual «a Igreja nos faz meditar sobre o fim».
As leituras — observou o Papa — com frequência falam de destruição, de fim, de calamidade. Aquele é um caminho rumo ao fim que todos nós temos que percorrer, todos os homens, toda a humanidade. Mas enquanto a percorremos «o Senhor aconselha-nos duas coisas, que são diferentes segundo o modo como vivemos. Porque é diferente viver no momento e viver no tempo». E frisou que «o cristão é aquele que sabe viver o momento e o tempo». Podemos tornar-nos soberanos do momento — explicou o Papa — mas do tempo, há um só soberano: Jesus Cristo. Por isso o Senhor aconselha-nos: «Não vos deixeis enganar». O cristão, para viver o momento sem se deixar enganar, deve orientar-se com a oração e o discernimento. «Jesus repreende os que não sabiam discernir o momento», acrescentou o Papa que se referiu em seguida à parábola da figueira (Mc 13, 28-29). O discernimento, explicou, «serve para conhecer os verdadeiros sinais, para conhecer a estrada que devemos empreender neste momento». A oração, prosseguiu o Pontífice, é necessária para viver bem este momento.
No que diz respeito ao tempo, nós — afirmou o Pontífice — nada podemos fazer. De facto, não há virtude humana que sirva para exercer poder algum sobre o tempo. A única virtude possível para encarar o tempo «deve ser um dom de Deus: a esperança».
Oração e discernimento para o momento; esperança para o tempo: «desta forma o cristão caminha na estrada do momento, com a oração e o discernimento. Mas deixa o tempo à esperança».
Na homilia da missa celebrada na manhã de segunda-feira, 25 de Novembro, o Papa Francisco questionou: quantas vezes os cristãos se encontram em «situações de limite extremo»? Obrigados a fazer escolhas definitivas, contudo optam pelo Senhor? Frisando, todavia, que se trata de uma escolha difícil, para a qual devemos pedir a Deus a «graça da coragem».
O Pontífice referiu-se antes de tudo ao trecho litúrgico tirado do livro do profeta Daniel (1, 1-6; 8-20), no qual se narra de alguns jovens que encontraram a coragem de rejeitar alimentos contaminados impostos pelo rei e conseguiram obter às escondidas uma alimentação à base de água e verdura. O Senhor recompensa esta fidelidade ajudando-os a desenvolver um físico e uma mente mais ágeis do que todos os outros, a ponto de se fazer apreciar pelo próprio rei. Aqueles jovens, frisou o Santo Padre, estavam «no limite extremo porque eram escravos».
Em seguida, o bispo de Roma recordou o episódio do Evangelho de Lucas (21, 1-4) no qual se fala da esmola da viúva, a qual nada tem para comer e no entanto oferece tudo o que possui. Portanto, aqueles jovens e a viúva estavam no limite extremo quando se viram obrigados a tomar uma decisão. Jovens e viúva, frisou o Santo Padre, «arriscaram. No seu arriscar, escolheram o Senhor». Fizeram-no com o coração, sem interesses pessoais nem mesquinhez. E não o fizeram — frisou o Papa Francisco — por fanatismo, «mas porque sabiam que o Senhor é fiel», porque não «se pode negar a si mesmo».
Na história da Igreja, e também do nosso tempo, houve homens, mulheres, idosos e jovens que fizeram esta escolha. Damo-nos conta disto «quando conhecemos a vida dos mártires, quando lemos hoje nos jornais acerca das perseguições dos cristãos. Pensemos nestes irmãos e irmãs que se encontram em situações de limite extremo e que fazem esta escolha. Eles vivem neste tempo. São um exemplo para nós.
O Santo Padre propôs a na homilia da missa celebrada na manhã de sexta-feira, 22 de Novembro, a meditação sobre o «sentido verdadeiro do templo». O templo — explicou — existe «para adorar Deus». Exactamente por isso é «ponto de referência da comunidade», composta por pessoas que são elas mesmas «um templo espiritual onde reside o Espírito Santo».
Como acontece habitualmente, a reflexão do Pontífice inspirou-se na liturgia da Palavra, em particular no trecho tirado do primeiro Livro dos Macabeus (4, 36-37.52-59) — que fala da reconsagração do templo realizada por Judas — e do trecho evangélico de Lucas que narra a expulsão dos mercantes do templo (19, 45-48).
Para o Papa Francisco a mensagem de fundo «é muito importante: o templo como lugar de referência da comunidade, lugar de referência do povo de Deus». E nesta perspectiva o Pontífice fez reviver «o percurso do templo na história», que «tem início com a arca: depois Salomão edifica-o e em seguida torna-se o templo vivo: Jesus Cristo, o templo. E acabará na glória, na Jerusalém celeste». «Reconsagrar o templo para que ali seja dada glória a Deus» é, portanto, o sentido essencial do gesto de Judas Macabeu, precisamente porque «o templo é o lugar onde a comunidade vai rezar, louvar o Senhor e dar graças, mas sobretudo adorar». De facto, «no templo adoramos o Senhor». Este é o ponto mais importante», afirmou o Papa. E esta verdade é válida para todos os templos e cerimónias litúrgicas, onde o «mais importante é a adoração» e não «os cânticos e ritos», por mais bonitos que sejam. Portanto, o Papa Francisco convidou a aproveitar a ocasião para reconsiderar a atitude que devemos ter.
Judas Macabeu e o povo «zelavam pelo templo de Deus porque é a casa de Deus, a morada de Deus, E eles reuniam-se em comunidade para ali se encontrar com Deus, para o adorar». Como narra o evangelista Lucas «também Jesus purifica o templo», fazendo-o com o «chicote na mão». Põe-se a expulsar «os comportamentos pagãos, neste caso dos mercantes que vendiam e tinham transformado o templo em pequenas lojas para vender, trocar moedas e dinheiro».
O templo é um lugar sagrado. E devemos entrar nele, na sacralidade que nos leva à adoração. Nada mais». Além disso, continuou o Pontífice, «são Paulo diz-nos que somos templos do Espírito Santo: eu sou um templo, o espírito de Deus habita em mim. E diz-nos também: não entristeçais o espírito do Senhor que está dentro de vós». Neste caso, frisou, podemos falar de «uma espécie de adoração, que é o coração que procura o espírito do Senhor dentro de si. E sabe que Deus está dentro de si, que o Espírito Santo está dentro de si, que o escuta e segue. Também nós — afirmou — devemos purificar-nos continuamente porque somos pecadores: purificar-nos com a oração, com a penitência, com o sacramento da reconciliação, com a Eucaristia».
E assim, explicou o Santo Padre, «nestes dois templos — o templo material, lugar de adoração, e o templo espiritual dentro de mim, onde habita o Espírito Santo — a nossa atitude deve ser a piedade que adora e escuta; que reza e pede perdão; que louva o Senhor». «Quando se fala da alegria do templo, fala-se disto: toda a comunidade em adoração, em oração de acção de graças, em louvor. Eu em oração com o Senhor que está dentro de mim, porque sou templo; eu à escuta; eu disponível».
O Papa Francisco concluiu a homilia exortando a orar para que «o Senhor nos conceda este sentido verdadeiro do templo para podermos ir em frente na nossa vida de adoração e de escuta da palavra de Deus».
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