PAPA FRANCISCO
MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE
Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 24 de 16 de Junho de 2013
Sem humildade, sem a capacidade de reconhecer publicamente os próprios pecados e a própria fragilidade humana, não se pode alcançar a salvação nem pretender anunciar Cristo ou ser suas testemunhas. Isto vale também para os sacerdotes: os cristãos devem-se recordar sempre que a riqueza da graça, dom de Deus, é um tesouro para ser conservado em «vasos de barro» a fim de que seja claro o poder extraordinário de Deus, do qual ninguém se pode apropriar «para o seu currículo pessoal».
Mais uma vez o Papa Francisco convidou a reflectir sobre o tema da humildade cristã durante a missa da manhã de 14 de Junho.
As leituras do dia foram o fulcro da meditação do Papa que relacionou a imagem da «beleza de Jesus, da sua força e da salvação que Ele nos traz» com a dos «vasos de barro» nos quais está contido o tesouro da fé.
Os cristãos são como vasos de barro, porque são débeis. Não obstante isso, frisou o Papa, entre «nós miseráveis vasos de barro» e «o poder de Jesus Cristo salvador» instaura-se o «diálogo da salvação». Mas, advertiu, quando este diálogo assume o tom de uma auto-justificação significa que algo não funciona e não há salvação. Mas nos homens acontece algo de diverso. «Temos sempre a tentação do currículo e de esconder o prontuário para que não se veja muito» o que não está bem. A humildade do cristão é a que segue o caminho indicado pelo apóstolo. Este modelo de humildade vale também «para nós padres, para nós sacerdotes. Se nos gabarmos só do nosso currículo e nada mais — disse o bispo de Roma — acabaremos por errar».
Na missa da manhã de quinta-feira 13 de Junho o Papa frisou que a cólera e o insulto ao irmão podem matar, comentando o trecho evangélico de Mateus (5, 20-26) da liturgia do dia, no qual se narra que quem quer que se irrite com o seu irmão deverá ser submetido a juízo. Com o Papa, no dia em que se completavam três meses desde a sua eleição, estavam presentes alguns diplomatas argentinos. Na primeira fila o pessoal da Embaixada junto da Santa Sé e o da Embaixada na Itália, os representantes do país junto da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (Fao) e junto da Soberana Ordem Militar de Malta (Smom), e os empregados do consulado argentino em Roma e em Milão.
E das tentações que devem ser enfrentadas neste momento da história da Igreja, o Papa falou na manhã de quarta-feira, 12 de Junho. Voltar atrás — disse comentando as leituras — tiradas da segunda carta de são Paulo aos Coríntios (3, 4-11) e do evangelho de Mateus (5, 17-19) — porque se receia a liberdade que vem da lei «cumprida no Espírito Santo»; ceder a um «progressismo adolescente», isto é, incline a seguir os valores mais cativantes propostos pela cultura dominante.
Não se trata de verdadeiro progressismo: é uma cultura que vai em frente, da qual não conseguimos desapegar-nos e da qual tiramos as leis e os valores que mais nos agradam, como fazem precisamente os adolescentes. Trata-se de uma tentação frequente neste momento histórico para a Igreja. Concelebraram, entre outros, os cardeais Manuel Monteiro de Castro, penitenciário-mor, e João Braz de Aviz, prefeito da Congregação para a Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica.
Na celebração de 11 de Junho o tema da reflexão da homilia proposta pelo Pontífice foi os sinais da gratuidade. «Pobreza e louvor a Deus: são as duas coordenadas principais da missão da Igreja, os sinais que revelam ao povo de Deus se um apóstolo vive a gratuidade».
A reflexão do Pontífice, comentando como de costume as leituras do dia, foi totalmente centrada sobre o tema da gratuidade. Porque, explicou, «a pregação evangélica nasce da gratuidade, da admiração da salvação; e o que recebemos gratuitamente, devemos dar de graça». Vê-se isto quando Jesus envia os seus apóstolos e lhes dá instruções para a missão que os espera. «São recomendações — evidenciou o Santo Padre — muito simples: não procureis ouro nem prata nem dinheiro»; dado que serão suficientes «os cintos, o alforge de viagem, as duas túnicas, as sandálias, o bastão» para a tarefa que lhes foi confiada. Uma missão de salvação, acrescentou Jesus, que consiste em curar os enfermos, ressuscitar os mortos, purificar os leprosos e expulsar os demónios.
A frase-chave das recomendações de Cristo aos seus é: «gratuitamente recebestes, de graça dais»: palavras nas quais se encontra toda «a gratuidade da salvação». Porque — esclareceu o Pontífice — «não podemos pregar, anunciar o reino de Deus, sem esta certeza interior de que tudo é gratuito, tudo é graça». E quando agimos sem deixar espaço à graça, afirmou o Papa, então «o Evangelho não tem eficácia».
Por que existem pessoas com o coração fechado à salvação? Foi nesta interrogação que o Papa Francisco centrou a homilia da missa de 10 de Junho, concelebrada, entre outros, pelo cardeal Stanis?aw Ry?ko, presidente do Pontifício Conselho para os Leigos. Uma pergunta que encontra uma resposta e uma explicação no medo, porque — explicou o Pontífice — a salvação nos assusta. É uma atracção que desencadeia os temores mais recônditos do nosso coração. «Temos necessidade» da salvação, mas ao mesmo tempo «temos medo» dela porque «quando o Senhor vem para nos salvar, devemos dar tudo... mas temos medo disto». Com efeito, os homens querem «mandar», desejam ser «os senhores» de si mesmos. Assim, «não chega a salvação, a consolação do Espírito».
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