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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE

 

A difícil ciência do amor

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 23 de 09 de Junho de 2013

A «ciência da carícia» manifesta dois aspectos do amor: a proximidade e a ternura. E «Jesus conhece bem esta bonita ciência». Disse o Papa Francisco, celebrando na manhã de sexta-feira, 7 de Junho, a missa da solenidade do Sacratíssimo Coração de Jesus, na capela da Domus Sanctae Marthae.

Ao referir-se às leituras do dia, o Pontífice definiu a solenidade do Sagrado Coração de Jesus como a «festa do amor»: Jesus «quis mostrar-nos o seu coração, como o coração que amou muito. Portanto, hoje façamos esta comemoração. Sobretudo do amor de Deus. Deus amou-nos muito. Penso no que nos dizia santo Inácio. Indicou-nos dois critérios sobre o amor. Primeiro: o amor manifesta-se mais nas obras do que nas palavras. Segundo: há mais amor em dar do que em receber».

Mas, perguntou-se o Pontífice, «como é pastor o Senhor»? E afirmou: «O Senhor diz-nos muitas coisas, mas mencionarei só duas. A primeira está no livro do profeta Ezequiel: Eis que eu mesmo procurarei as minhas ovelhas, examiná-las-ei. Examinar significa que as conhece, todas pelo nome. Examinar. E Jesus diz-nos o mesmo: conheço as minhas ovelhas. Conhece uma por uma, pelo nome. Assim Deus nos conhece: não em grupo, mas um por um. Porque — explicou o bispo de Roma — o amor não é abstracto, nem geral para todos; é um amor por cada um. Assim Deus nos ama».

Na missa de quinta-feira, 6 de Junho o Papa Francisco dirigiu um convite a descobrir «os ídolos escondidos nas muitas dobras que temos na nossa personalidade», a «afugentar o ídolo da mundanidade, que nos leva a torna-nos inimigos de Deus. Entre os presentes, estavam os funcionários da Biblioteca Apostólica Vaticana e da Pontifícia Universidade Lateranense.

A exortação a empreender «o caminho do amor de Deus», «para chegar» ao seu reino foi o âmago de uma reflexão centrada no trecho do evangelho de Marcos (12, 28-34), no qual Jesus responde ao escriba que o interroga sobre qual é o mandamento mais importante. A primeira observação do Pontífice é que Jesus não responde com uma explicação, mas usando a palavra de Deus: «Ouve, Israel! O Senhor nosso Deus é o único Senhor». Estas, disse, «não são palavras de Jesus». De facto, ele dirige-se ao escriba como tinha feito com Satanás nas tentações, «com a palavra de Deus; não com as suas palavras». Fá-lo utilizando «o credo de Israel, que os judeus recitam, e até muitas vezes ao dia: Shemá Israel! Recorda-te Israel, de amar só Deus».

As pessoas que vivem no «subsolo da existência», em condições «extremas», estiveram no centro da reflexão proposta na missa celebrada na manhã de 5 de Junho.

E sobre a corrupção voltou a falar na manhã de terça-feira, 4 de Junho, propondo uma reflexão sobre a linguagem que habitualmente é usada pelos corruptos, isto é, a da hipocrisia: a mesma, disse, usada por Satanás no deserto quando tentou Jesus de vários modos.

A hipocrisia, frisou, é «a língua dos corruptos. Eles não gostam da verdade. Amam só a si mesmos e assim procuram enganar, envolver o outro na sua mentira, na sua farsa. Têm o coração mentiroso; não podem dizer a verdade. A hipocrisia é a língua dos corruptos. Satanás usou-a depois do jejum no deserto: “tens fome: podes transformar esta pedra em pão...”; “para que tanto trabalho, lança-te do templo...”. Esta linguagem, que parece persuasiva, produz erro, mentira». Assim, aqueles fariseus — continuou o Papa, voltando à narração evangélica — «são tão amáveis na linguagem, são os mesmos que na quinta-feira à noite irão buscá-lo ao horto das oliveiras e na sexta-feira levá-lo-ão a Pilatos.

Portanto, a hipocrisia é a linguagem da corrupção e certamente não a «linguagem da verdade, porque a verdade — frisou o bispo de Roma — nunca vem sozinha, mas sempre com o amor. Não há verdade sem amor. O amor é a primeira verdade. E se não há amor não há verdade».

O pensamento do Papa Francisco na missa de segunda-feira 3 de Junho foi dirigido de novo ao seu predecessor João XXIII — um «modelo de santidade», definiu-o — para recordar o cinquentenário da sua morte, mas também e sobretudo para relançar o seu testemunho num tempo em que até na Igreja há quem escolhe a estrada da corrupção e não a do amor, como resposta ao dom de Deus para o homem.

Durante a homilia, o Papa Francisco quis partilhar com os participantes algumas reflexões sobre o evangelho de Marcos (12, 1-12). «Penso — disse — nas três figuras de cristãos na Igreja: os pecadores, os corruptos e os santos. Dos pecadores não é preciso falar muito, porque todos nós somos tais. Conhecemo-nos a partir de dentro e sabemos o que é um pecador. E se algum de nós não se sente assim, deve fazer uma consulta com o médico espiritual: algo não funciona». O Santo Padre deteve-se mais sobre a figura dos corruptos. Na parábola evangélica, explicou, Jesus fala do amor grande do proprietário de uma vinha, símbolo do povo de Deus: «Ele chamou-nos com amor, protege-nos. Mas dá-nos a liberdade, dá-nos todo este amor “emprestado”. É como se nos dissesse: Preserva e protege o meu amor como eu te protejo. É o diálogo entre Deus e nós: proteger o amor. Tudo começa com este amor».

 

 


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