PAPA FRANCISCO
MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE
Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 22 de 02 de Junho de 2013
São tantos os cristãos que não conhecem a alegria. E até quando estão na Igreja a louvar a Deus, parece que seguem um cortejo fúnebre e não uma celebração jubilosa. Ao contrário, se aprendessem a sair de si mesmos e a dar graças a Deus, a «perder tempo louvando a Deus, compreenderiam realmente o que é a alegria que os liberta».
A alegria cristã esteve no centro da reflexão proposta pelo Papa Francisco, na manhã de sexta-feira 31 de Maio, durante a missa celebrada na Domus Sanctae Marthae. Ao comentar as leituras evangélicas do dia, voltou a propor a imagem de Maria como mãe que vai sempre apressada — como recordou no domingo passado na paróquia romana — o Pontífice prolongou-se sobre aquele «sobressalto do menino no seio de Isabel» por ela revelado a Maria: «Logo que ouvi a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio».
«Tudo é alegria. Mas nós cristãos — observou o bispo de Roma — não estamos muito habituados a falar de alegria, de júbilo. Penso que muitas vezes nos agrada mais o lamento! O que é a alegria? A chave para compreender esta alegria é o que nos diz o evangelho: “Isabel estava cheia do Espírito Santo”. O que nos dá a alegria é o Espírito Santo. Também na primeira oração da missa pedimos a graça da docilidade ao Espírito Santo, o que nos dá a alegria».
O Papa propôs depois outro aspecto da alegria que nos vem do Espírito. «Pensemos — disse — naquele momento em que Nossa Senhora e são José levam Jesus ao templo para cumprir a lei. O Evangelho diz que eles vão cumprir o que a lei prescrevia». Naquela mesma circunstância encontram-se também dois idosos; mas, observou, o evangelho não diz que eles foram lá para cumprir a lei, mas sim levados pela «força do Espírito Santo. O Espírito leva-os ao templo». A ponto que diante de Jesus, os dois «fazem uma oração de louvor: mas este é o Messias, bendito seja o Senhor! E fazem também uma liturgia espontânea de alegria». É a fidelidade adquirida em tantos anos na esperança do Espírito Santo que faz com que «este Espírito venha e lhes dê alegria».
Na celebração de 29 de Maio foi a humildade que esteve no centro da reflexão do Papa. O triunfalismo que pertence aos cristãos passa através da falência humana, a falência da cruz. Deixar-se tentar pelos outros triunfalismos, pelos triunfalismos mundanos, significa ceder à tentação de conceber um «cristianismo sem a cruz», um «cristianismo incompleto». O Evangelho de hoje (Mc 10, 32-45) descreve o caminho de Jesus, seguido pelos discípulos, rumo a Jerusalém. Analisando os sentimentos que, naquele momento, se agitavam no coração dos discípulos «assombrados» e «atemorizados», o Santo Padre quis evidenciar o comportamento do Senhor que lhes revela a verdade. Jesus «diz a verdade» e mostra-lhes o caminho que acaba «no terceiro dia».
Não obstante as palavras de Cristo, os discípulos pensam que é melhor parar. E ao mesmo tempo, observou o Pontífice, começam a debater entre eles sobre «como organizar a Igreja». Aliás, Tiago e João «pediram a Jesus o cargo de chefe do governo». Mas também os outros «debatiam e perguntavam quem entre eles era o mais importante» na Igreja que queriam organizar. Cristo, explicou o Papa, estava prestes a cumprir a sua missão, ao passo que os discípulos falavam sobre «outro projecto, outro ponto de vista da Igreja».
E na manhã de terça-feira 28 de Maio o tema da reflexão foi o sofrimento. Ao comentar o evangelho do dia (Mc 10, 28-31), o Pontífice afirmou que o sofrimento faz parte da vida; mas para o cristão, chamado a seguir o mesmo caminho de Cristo, ele torna-se mais um valor. Muito mais quando se apresenta sob forma de perseguição, por causa do espírito do mundo que não tolera o testemunho cristão.
Seguir Jesus não pode ser só uma expressão cultural, nem um modo para adquirir poder. O Pontífice observou que a «história da Igreja está cheia de pessoas assim, começando por alguns imperadores, governantes e muitas pessoas. E também, não quero dizer muitos, mas alguns, sacerdotes e bispos. Muitos cristãos, tentados pelo espírito do mundo — acrescentou — pensam que seguir Cristo» é bom porque «assim podem fazer carreira, ter sucesso».
Eis então o convite a reflectir sobre a resposta de Jesus: «Não há ninguém que tenha deixado casa ou irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou campos por minha causa ou por causa do Evangelho, que não receba já agora, neste tempo, o cêntuplo, em casas, irmãos... mas também em perseguições. Não o esqueçamos».
Sobre o fascínio do provisório, a sensação de ser dono do tempo e a cultura do bem-estar não importa como, que muitas vezes impedem que o homem de hoje siga de perto Jesus, o Papa Francisco falou na segunda-feira, 27 de Maio: «Parecem-nos duas riquezas» mas na realidade não nos fazem «ir em frente».
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