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INTERVENÇÃO DA DELEGAÇÃO DA SANTA SÉ
 NA 90ª  SESSÃO DA CONFERÊNCIA
INTERNACIONAL DO TRABALHO

Genebra, 17 de Junho de 2002

 

 


Senhor Presidente

À "crescente internacionalização da economia" observava o Papa João Paulo II, na sua Carta Encíclica Centesimus annus "correspondam válidos organismos internacionais de controle e orientação que encaminhem a economia para o bem comum [...] segundo uma concepção adequada do bem comum dirigido a toda a família humana" (n. 58).

O significado da globalização foi justamente um tema muitas vezes abordado na Conferência Internacional do Trabalho deste ano. A Organização Internacional do Trabalho (O.I.T.) tem um papel significativo a desempenhar, na orientação do processo de globalização, de maneira a corresponder equitativamente às necessidades de todas as pessoas no mundo contemporâneo. O trabalho é um elemento fundamental para uma globalização centrada nas necessidades das pessoas.

Não se pode permitir que a globalização se torne uma ideologia, nem a favor nem contra a globalização. Pelo contrário, devemos procurar verificar objectivamente onde é que a globalização beneficiou vastos sectores da sociedade, e onde é que ela não o fez. Havemos de identificar por que motivo e como a globalização funciona ou não funciona. Devemos reconhecer qual é a melhor união de elementos que leva a uma integração socialmente favorável no processo de globalização e quais são os elementos que favorecem a marginalização.

A Santa Sé formula votos para que a Comissão independente sobre as dimensões da globalização, instituída pelo Director-Geral, não preste atenção aos debates ideológicos estéreis, mas promova um processo clarividente, que tenha em vista alcançar resultados e promover soluções coordenadas e integradas. A transformação positiva do processo de globalização exige políticas que fomentem mais participação e integração, e menos fragmentação.

A estrutura tripartida da Organização Internacional do Trabalho constitui um elemento integrante particularmente singular na vida internacional, assim como um poderoso instrumento de superação da polarização. Ela promove vínculos entre o espírito criativo do empresariado, a iniciativa e as necessidades fundamentais dos trabalhadores, bem como as exigências do bem comum de todos. Quando chama a atenção para as necessidades da pessoa humana como protagonista central e beneficiária do trabalho, ela ajuda-nos a compreender que, segundo as palavras do Papa João Paulo II, "o lucro é um regulador da vida da empresa, mas não é o único; é a ele que se deve associar a consideração de outros factores humanos e morais que, a longo prazo, são igualmente essenciais para a vida da empresa" (Ibid., n. 35).

Contudo, como muitas outras realidades contemporâneas, o tripartismo deve adaptar-se de maneira a poder agir com maior eficácia no seio das realidades da globalização, enfrentando os seus desafios e resolvendo as suas deficiências. Por conseguinte, o tripartismo deve identificar claramente os sectores em que tem vantagens e reveste valores específicos. Além disso, deve defender com vigor o papel que lhe compete em tais sectores e não pode permitir que o seu valor comprovado seja debilitado por formas de associacionismo menos centrais e, às vezes, menos representativas. A economia globalizada ainda exige, sobretudo, "um grande movimento associado dos trabalhadores, cujo objectivo é a libertação e a promoção integral da pessoa" (Ibid., n. 43).

Ao mesmo tempo, o tripartismo não pode permanecer estático. O mundo dos trabalhadores, dos empregos e do governos mudou. Efectivamente, no actual paradigma de economia global existem muitos factores que podem contribuir para o enfraquecimento do modelo tripartido. Tal como os seus membros individuais, também o próprio tripartismo deve encontrar modos de abordar uma situação em mudança. Enquanto se conserva íntegro o sistema tripartido, novas formas de associacionismo podem ser estabelecidas através do diálogo com vários sectores da sociedade civil. E as uniões tradicionais, como por exemplo as que já existem entre os líderes religiosos e o mundo do trabalho, podem receber um vigor renovado.

O mundo precisa de novas alianças em favor do trabalho. O trabalho constitui uma dimensão fundamental da existência humana; é a chave da questão social global e do progresso na luta contra a pobreza. O trabalho é um factor essencial para a criação da coesão e da sustentabilidade sociais. Por conseguinte, o diálogo social mais abrangente é um interesse comum e uma responsabilidade conjunta que compete a todos.

 


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