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CARTA DO CARDEAL AGOSTINO CASAROLI
 EM NOME DO SANTO PADRE
 AO REITOR MAGNÍFICO DA UNIVERSIDADE
 CATÓLICA DO SAGRADO CORAÇÃO

 

Excelentíssimo Professor

Ao aproximar-se a anual "Jornada pela Universidade Católica do Sagrado Coração", que será realizada no domingo 17 de Abril corrente, Vossa Excelência quis informar Sua Santidade sobre o argumento proposto à reflexão dos católicos italianos: "Futuro do homem e cultura".

O Sumo Pontífice deseja, antes de tudo, manifestar-Lhe sincero apreço por este tema, que está cm directa conexão com tudo o que Ele mesmo disse a 2 de Junho de 1980, em Paris, no Seu discurso na sede da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO): "Sim, o futuro do homem depende da cultural Sim, a paz do mundo depende do primado do espírito! Sim, o futuro pacífico da humanidade depende do amor" (n. 23: AAS 72, 1980, 751).

Naquela mesma ocasião, Ele sublinhava como a cultura é um modo específico do 'existir' e do 'ser' do homem: "O homem que, no mundo visível, é o único sujeito ôntico da cultura, é também o seu único objecto e o seu termo. A cultura é aquilo pelo qual o homem enquanto homem 'se torna' mais homem, chega mais ao 'ser'. Nisto se funda também a distinção capital entre o que o homem é e o que tem, entre o ser e o ter" (n. 7: ibid., 738).

Se a Igreja instituiu, ao longo dos séculos, Universidades e Centros superiores de Estudo, fê-lo e continua a fazê-lo porque teve sempre um elevadíssimo conceito do homem e está convicta de que a cultura, na sua mais vasta e alta acepção, eleva o homem nas suas dimensões espirituais, e enriquece de maneira incomparável a sua personalidade.

São estas as perspectivas, que estão na base e são como que o elemento inspirador de todas as Universidades Católicas, e por isso também da Universidade Católica do Sagrado Coração, fundada, com clarividente sabedoria e louvável intrepidez, pelo inesquecível Padre Agostinho Gemelli.

O Ateneu, do qual os católicos italianos podem legitimamente orgulhar-se devido ao contributo "cultural" por ele dado à Nação, à Europa e ao mundo nestes 63 anos de intensa actividade, deve continuar a ser um Centro em que os jovens protagonistas da futura sociedade sejam preparados com grande seriedade para enfrentar as tarefas inerentes às profissões por eles escolhidas, na mais ampla e articulada finalidade de uma permanente promoção da cultura nos vários níveis e nas múltiplas formas.

De modo especial, a Universidade Católica do Sagrado Coração — como também todos os Ateneus católicos — deve ser um lugar privilegiado daquele diálogo entre a Igreja e as culturas, que tem hoje importância vital para o futuro da Igreja e do mundo. É quanto o Santo Padre sublinhou, a 18 de Janeiro passado, na sua alocução aos Membros do novo "Pontifício Conselho para a Cultura", com referência à Constituição conciliar Gaudium et spes. Em nome da fé cristã, o Concílio empenhou a Igreja inteira a colocar-se em atitude de ouvir o homem moderno, para o compreender e descobrir um novo tipo de diálogo, que permita transmitir ao centro das mentalidades actuais a originalidade da mensagem evangélica. "É preciso encontrar de novo — disse o Papa — a criatividade apostólica e a força profética dos primeiros discípulos para enfrentar as novas culturas. É preciso que a palavra de Cristo se manifeste com todo o seu vigor às jovens gerações, cujas atitudes às vezes são difíceis de ser compreendidas por parte dos espíritos tradicionais, mas que estão longe de permanecer fechadas aos valores espirituais" (L'Osservatore Romano, 19 de Janeiro de 1983).

A Universidade Católica do Sagrado Coração, com o seu reconhecido prestígio, com a sua longa experiência e as suas estruturas, com o seu Corpo docente, qualificado e estimado, e com a complexa acção até agora realizada no campo do estudo e das especializações, pode e deve dar o seu específico e original contributo àquelas que Sua Santidade, no discurso há pouco citado, indicou como os dois níveis da obra da Igreja: a evangelização das culturas e a defesa do homem e da sua promoção cultural. Por isto tal Ateneu se qualifica como "católico", não por vontade de discriminação ou por motivos de carácter polémico em relação aos outros, mas para demonstrar com eficácia e clareza que o seu elemento característico é o de querer dar vida a um ambiente comunitário, imbuído verdadeiramente do espírito evangélico de liberdade e de caridade, a fim de ajudar os estudantes na coordenação do conjunto da cultura humana com a mensagem da salvação, de modo que o conhecimento que eles têm no mundo, da vida e do homem seja iluminado pela fé (cf. Gravissimum educationis, 8).

A Jornada de 17 de Abril poderá tornar-se uma ocasião útil e preciosa para virem a ser conhecidos e apreciados cada vez melhor e sempre mais, por toda a Nação Italiana, as finalidades, as metas, mas também os sucessos e os objectivos alcançados pela Universidades Católica do Sagrado Coração e as perspectivas para o seu futuro no diálogo sempre fecundo entre fé cristã e razão humana.

Sua Santidade exprime sinceros votos por que aqueles que — a diversos títulos — estão presentes e frequentam esse Ateneu, dêem sempre também um generoso testemunho da mensagem de Cristo mediante uma vida exemplar e apostólica, para serem não apenas pesquisadores, portadores e transmissores de "saber" e de "conhecimento", mas fermento de salvação na grande Comunidade humana.

Com tais votos o Santo Padre renova a expressão do Seu sincero apreço pelo trabalho cultural e científico até agora desenvolvido pela Universidade Católica do Sagrado Coração e, ao augurar-lhe uma simpatia cada vez mais crescente e um concreto apoio por parte de todos os católicos italianos, que têm o dever de estimar, de amar e de ajudar a sua Universidade, concede-Lhe, Senhor Reitor Magnífico, bem como a todos os professores, alunos, amigos e benfeitores, especial Bênção Apostólica, sinal da Sua constante e afectuosa benevolência.

Ao anexar a oferta, que Sua Santidade destinou como seu dom à Universidade Católica do Sagrado Coração, aproveito de bom grado a oportunidade para Lhe exprimir os meus pessoais bons votos, tanto pelo incremento da vida cultural do Ateneu, como pelo pleno êxito da próxima Jornada, enquanto me confirmo, devotíssimo in Domino

Vaticano, 9 de Abril de 1983

AGOSTINO Card. CASAROLI

 

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