VISITA DO CARDEAL SECRETÁRIO DE ESTADO ENCONTRO COM O CATHOLICOS DE TODOS OS ARMÉNIOS, Catedral de Etchmiadzin SAUDAÇÃO DE SUA SANTIDADE KAREKIN II DISCURSO DO CARDEAL TARCISIO BERTONE SAUDAÇÃO DE SUA SANTIDADE KAREKIN II Eminência São para nós um prazer e uma alegria saudá-lo no centro espiritual de todos os Arménios, a Mather Cathedral of Holy Etchmiadzin, por ocasião da sua visita na Arménia e na Mather See em representação do nosso querido irmão em Cristo, Sua Santidade Bento XVI, Papa de Roma. Sentimo-nos também felizes por acolher a delegação que o acompanha, Eminência, nesta peregrinação na Arménia e de saudar hoje aqui o embaixador da República da Arménia junto do Vaticano, Sua Ex. Edward Nalbandian, e agradecer-lhe pelo seu serviço aos nossos dois Estados. Num passado não muito distante os nossos predecessores de venerada memória lançaram as bases da nossa cooperação mediante decisões luminosas e sábias, fortalecidas pelas nossas visitas recíprocas, pelo respeito mútuo e por uma atmosfera de confiança. Esta relação continuará naquele mesmo espírito e ao longo do caminho traçado pelos nossos pais, contribuindo positivamente para o nosso testemunho comum e orante colaboração neste mundo cheio de desafios e de provações para a glória de Deus e o bem-estar dos nossos irmãos, filhos e filhas. Recordamos neste momento com afecto a nossa visita ao Vaticano no ano 2000 e a visita de Sua Santidade João Paulo II de venerada memória à Arménia, que ofereceu novas oportunidades às nossas duas Igrejas no âmbito de relações cordiais e fraternas. Através de Vossa Eminência, desejamos transmitir a Sua Santidade, o nosso querido Irmão em Cristo Papa Bento XVI, os nossos agradecimentos pela sua atitude cordial para com a Santa Igreja Apostólica Arménia e para com o povo arménio, que se manifesta em muitos âmbitos. Exemplo vivo disto são as numerosas oportunidades oferecidas pela Igreja católica aos nossos jovens sacerdotes que prosseguem a sua formação teológica nas universidades e instituições de ensino superior católicas no mundo. Além disso transmitimos o nosso apreço a Sua Santidade pela recente atribuição da igreja de São Brás em Roma à comunidade arménia da Itália, para as suas necessidades espirituais e pastorais. Louvamos também o Arcebispo Claudio Gugerotti, Núncio na Arménia, do qual apreciamos muito os esforços destinados a aproximar as nossas duas Igrejas e os nossos dois Estados. Querido Cardeal, a sua presença hoje aqui é para nós de grande conforto enquanto rezamos juntamente com o clero e com os fiéis oferecendo a nossa súplica a Deus pelo bem do nosso país nestes dias difíceis, pedindo que as nossas feridas se cicatrizem rapidamente e que os complexos problemas que a nossa nação e a nossa sociedade devem enfrentar recebam justas soluções. Peço-lhe que transmita as nossas mais afectuosas saudações a Sua Santidade Bento XVI. Desejamos que o Omnipotente nos conceda a jubilosa oportunidade de satisfazer, reconfirmar e fortalecer a nossa amizade e o amor fraterno em nosso Senhor Jesus Cristo. Seja bem-vindo à Mather See of Holy Etchmiadzin na Arménia. DISCURSO DO CARDEAL TARCISIO BERTONE Santidade, Eminências, Excelências Reverendos Padres, queridos irmãos e irmãs, saúdo-vos com o santo ósculo da paz. Acabo de chegar em terra arménia e Sua Santidade o Catholicos Karekin II teve a delicadeza de receber-me nesta Catedral, com o canto litúrgico e a oração da Igreja arménia. Vim aqui em peregrinação, pois este é um lugar sagrado. Além de ser o centro da espiritualidade e da vida eclesial dos Arménios é, sobretudo, o lugar no qual, como diz o próprio nome, "o Unigénito desceu", desceu para aparecer a São Gregório Iluminador. Assim foram colocados os fundamentos não só de um templo ilustre, mas de uma cristandade antiga e fiel como é a Igreja arménia. Inclino-me, como já fez o Papa João Paulo II de venerada memória, diante da história de santidade desta Igreja, que tem as suas raízes na pregação dos Santos Apóstolos Bartolomeu e Tadeu. Estou particularmente feliz que o Papa João Paulo II tenha querido enviar algumas relíquias destes Santos Apóstolos ao Catholicos Vazken I. O Pontífice entregou a Vossa Santidade, durante a inesquecível visita que realizou aos túmulos dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, as relíquias de São Gregório Iluminador. Até àquele momento elas foram conservadas no Convento de São Gregório Arménio em Nápoles e destinadas à nova Catedral de Yerevan, cuja beleza me foi exaltada muitas vezes. Sim, é sobre o fundamento dos Apóstolos que a Igreja está edificada. E as portas do Inferno não prevalecerão contra ela. A Igreja Arménia testemunhou Cristo não só com a conversão do seu povo, mas com uma fidelidade que no tempo foi paga com um elevado preço de sangue. Ninguém pode tirar dos arménios a sua fé, como não se pode separar a pele da sua cor, dizia um vosso grande e antigo autor. O Papa Bento XVI, em nome de toda a Igreja Católica, agradece-vos esta história de fidelidade, que se embelezou inclusive com o martírio de santas Virgens, entre as quais sobressaem Hripsimé e Gayané, cujos templos surgem aqui ao lado. A santidade é viva entre cristãos de várias proveniências e os santos são o testemunho vivo da presença de Deus entre nós. Conheço quanto o poder do ateísmo se propôs enfraquecer esta Igreja a sei quantas testemunhas da fé, e até venerados Pastores, derramaram o próprio sangue em anos ainda recentes. Conheço sobretudo, Santidade, o empenho indefesso que prodigalizou a fim de reconstruir a Igreja enfraquecida pelo regime soviético. Deveras "o Unigénito desceu" novamente quando tantos canteiros foram abertos para construir igrejas que recolocassem visivelmente no centro da comunidade a presença de Cristo. Quando tantos jovens foram recebidos nos seminários para servir o próprio povo mediante o Evangelho, fonte e origem da vossa cultura. E estou feliz e satisfeito que a Igreja Católica, graças sobretudo à obra do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, tenha podido acolher muitos deles nas próprias Universidades. Eu mesmo, que fui Reitor de uma Universidade Pontifícia, a Salesiana, conheço o motivo da satisfação para nós que é ajudar os nossos irmãos que mais sofreram para desempenhar o próprio serviço à Igreja mediante uma sólida formação cultural e espiritual. A Santa Sé e a inteira Igreja Católica permanecem disponíveis neste sentido também para o futuro. E aqui gostaria de lembrar o empenho prodigalizado por Vossa Santidade para fazer conhecer nas escolas a história do cristianismo e para a difusão da cultura cristã inclusive através dos meios de comunicação. E com as suas repetidas visitas pastorais faz ouvir a voz do Pastor dos Arménios em todas as partes do mundo, mantendo-os unidos com este lugar santo, no qual "o Unigénito desceu". Estou deveras maravilhado pela difusão das estruturas sociais que, sob a sua guia, surgem na Arménia para o serviço aos pobres e sofredores, como hospitais e refeitórios de caridade, mas também para a educação dos jovens, verdadeiro futuro da Igreja e do país. Dediquei à educação, como salesiano, filho de São João Bosco, as melhores forças da minha juventude e espero com trepidação o encontro com os jovens que são recebidos no Centro que Vossa Santidade quis aqui na capital, para que possam reimergir-se nas melhores raízes da própria história. E não é por acaso que, lá onde os Arménios eram levados pelas vicissitudes da vida, lá o sacerdote fosse não só o seu pai espiritual, mas também o mestre da sua cultura. Estas novas igrejas, estes novos espaços apostólicos, são o melhor sinal para mostrar que aquele Deus que se queria cancelar da história, retomou o seu lugar nos espaços e nos corações. Estes lugares são o sinal eloquente que, como nos recordam as Escrituras, "a terra é de Deus". Sei que isto significa esforços imensos, que parecem subtrair tempo e energias ao trabalho mais directamente pastoral. Mas os fiéis têm necessidade de sinais concretos que lhes falem do Senhor. Então, este trabalho tão fadigoso já é um renovado anúncio do Evangelho. E por isto sentimo-nos gratos a vós. O Santo Padre Bento XVI bem sabe quais relações de fraternidade unem as nossas Igrejas e que empenho Vossa Santidade prodigalizou. Conhece como a comunidade católica neste país tem podido retomar o seu caminho reapropriando-se das estruturas eclesiásticas e sociais, graças também ao apoio e à benevolência do seu venerado predecessor o Catholicos Vazken I. Foi ele quem chamou pessoalmente o primeiro sacerdote católico após a queda do comunismo. O Papa sabe também como a colaboração, a oração comum, a estima recíproca, o acolhimento que Vossa Santidade reserva ao Representante Pontifício na Arménia são uma realidade adquirida. Por isso hoje também eu me sinto em casa, enquanto trago o carinhoso abraço fraterno do Santo Padre que o espera com alegria em Roma. Ele deseja exprimir-lhe pessoalmente a sua admiração pelo extraordinário tesouro cultural e espiritual que os Arménios ofereceram à humanidade. Bento XVI deseja-lhe dias de paz, interna e externa. Faz votos para a solução de condições sociais que para muitos é ainda precária. Deseja que o caminho rumo ao progresso seja respeitador dos valores religiosos e que deles se possa haurir fundamento e estímulo para ajudar os mais sofredores a fim de construir um futuro de justiça, confiança e transparência para toda a Nação. Isto parece ainda mais claro nestes dias em que aconteceram eventos dramáticos. Estamos aqui também para rezar pelas vítimas e para invocar de Deus paz para o povo arménio na justiça e no diálogo. O Papa está consciente do papel primário e insubstituível que a Igreja é chamada a desempenhar neste processo. Ele garante a Vossa Santidade, aos Bispos, aos sacerdotes e a todo o povo arménio a sua recordação na oração e o calor do seu afecto e da sua grande estima. Obrigado, Santidade, por este acolhimento que me comove profundamente. Queira Deus omnipotente recompensá-lo e apoiá-lo em todos os momentos nos empenhos do seu elevado ministério.
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