|
INTERVENÇÃO DA SANTA SÉ NA ASSEMBLEIA DA ONU SOBRE A ACTUAÇÃO DA DECLARAÇÃO POLÍTICA SOBRE O VIH/SIDA DISCURSO DE D. CELESTINO MIGLIORE Nova Iorque, 9 de Junho de 2010 Presidente! Na Declaração de empenho em relação ao VIH/SIDA, os Chefes de Estado e de Governo reconheceram com preocupação que a difusão do VIH tem sido "uma emergência global e um dos desafios mais difíceis para a vida e a dignidade humanas" assim como um grave obstáculo para a realização dos objectivos de desenvolvimento concordados a nível internacional (A/RES/S-26/2). Cinco anos depois, na Declaração política sobre o VIH/SIDA, observaram com apreensão que depois de um quarto de século com esta calamidade ainda estamos a enfrentar uma "catástrofe humana sem precedentes" (A/RES/60/262). Em ambas as ocasiões assumiu-se o empenho de empreender a acção necessária para combater esta grave ameaça à comunidade humana. Dado o empenho significativo das organizações apoiadas pela Igreja católica em oferecer assistência em todo o mundo a quantos foram infectados pelo VIH/SIDA, a minha Delegação aproveita esta ocasião para observar que a comunidade global continua a ter de enfrentar muitos obstáculos nos seus esforços para responder de modo adequado a este problema, por exemplo, ao facto de que 7.400 pessoas por dia são infectadas pelo VIH, cerca de 4 milhões de pessoas estão actualmente sob tratamento, 9,7 milhões ainda estão à espera das curas que salvam ou prolongam a vida e a cada duas pessoas que começam o tratamento outras cinco são infectadas (UNAIDS; Respostas nacionais e regionais à SIDA). Presidente! Se a SIDA deve ser debelada enfrentando de modo realista as suas causas mais profundas e os doentes devem receber os cuidados afectuosos de que necessitam, nós devemos oferecer às pessoas maior consciência, capacidade, competência técnica e instrumentos. Por este motivo, a minha Delegação recomenda com vigor que se dediquem maior atenção e recursos ao apoio de uma abordagem baseada nos valores e na dimensão humana da sexualidade, ou seja, sobre uma renovação espiritual e humana que conduza a um novo modo de se relacionar com os outros. A difusão da SIDA pode ser detida de modo eficaz, como afirmaram também os peritos na saúde pública, se este respeito pela dignidade da natureza humana e pela lei moral intrínseca tiver que ser incluído entre os elementos essenciais dos esforços de prevenção do VIH. A minha Delegação está muito preocupada pela diferença da disponibilidade de fundos para os tratamentos anti-retrovirais entre os pobres e as populações marginalizadas. Os agentes ligados à Igreja católica em Uganda, na África do Sul, no Haiti e em Papua-Nova Guiné, entre outros, referem que os doadores internacionais lhes disseram para não introduzir novos pacientes nestes programas. Além disso, exprimiram preocupação devido a ulteriores cortes que dizem respeito inclusive àqueles que já estão a receber o tratamento. A comunidade global tem a grande responsabilidade de oferecer um acesso justo e constante a estes tratamentos. Falhar nisto não só causará perdas e sofrimentos indizíveis às pessoas e famílias directamente atingidas pela doença, mas terá também graves consequências económicas, sociais e de saúde pública para toda a família humana. Particularmente vulneráveis são as crianças com VIH ou com uma co-infecção do VIH-TBC. Um diagnóstico precoce e um tratamento oportuno são muito menos acessíveis às crianças seropositivas do que aos adultos. Sem este acesso pelo menos um terço destas crianças morrerá antes de completar um ano de vida e pelo menos metade delas morrerão até ao final do segundo ano de vida. Esta perda de futuras gerações e líderes já não se pode enfrentar com o silêncio ou a indiferença. Presidente! Através dos seus compromissos globais em 2001 e 2006, os Chefes de Estado e de Governo formularam uma ideia de acesso justo, mas também de acção concreta e completa em resposta à difusão global do VIH. Os desafios actuais colocam em dúvida a nossa capacidade de respeitar estas promessas. Todavia, diante da ameaça constante do VIH e da SIDA, devemos reconhecer as exigências de solidariedade mundial da família humana, de uma avaliação honesta das modalidades utilizadas no passado, que se basearam mais sobre a ideologia do que sobre a ciência e os valores, e de uma acção determinada que respeite a dignidade humana e promova o desenvolvimento integral de cada pessoa e de toda a sociedade.
|