INTERVENÇÃO DA SANTA SÉ DISCURSO DO REV.MO MONS. PIETRO PAROLIN Sede da FAO - Roma Senhor Presidente Tenho a honra de transmitir as saudações e os bons votos da Santa Sé a todos os participantes nesta Conferência internacional, que está a realizar-se em Roma, na sede da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura. Esta Conferência, organizada pela Comissão das Nações Unidas para o exercício dos direitos inalienáveis do Povo Palestino, tem em vista dar um novo impulso à reflexão e ao compromisso da comunidade internacional, das Confissões religiosas, dos grupos parlamentares e da sociedade civil, a fim de determinar os desafios que devem ser enfrentados e a abordagem que deveria ser adoptada em vista de contribuir para a construção da paz entre os israelenses e os palestinos. Esta Conferência realiza-se no momento em que o Governo da Unidade Nacional, formado pela Autoridade Palestina no sábado passado 17 de Março, está a dar o primeiro passo. Sem dúvida, é positivo que este Governo seja o produto de um compromisso entre os principais grupos políticos palestinos. Ele põe termo a vários meses de conflito armado, severo e violento, que provocou numerosas vítimas, muitas vezes inocentes, no meio do Povo Palestino que já sofreu demasiado. A comunidade internacional formula votos a fim de que este novo Governo constitua um interlocutor autorizado e confiável, capaz de orientar o seu povo com um sentido de responsabilidade e realismo, em vista do estabelecimento de uma paz justa com os israelenses que têm o direito de viver em paz no seu próprio Estado (cf. Discurso do Papa Bento XVI ao Corpo Diplomático acreditado na Santa Sé, 8 de Janeiro de 2007) e da instituição de um Estado livre, independente e soberano, que todos esperam ver estabelecido para os palestinos. A Santa Sé tem acompanhado sempre com particular atenção os acontecimentos das últimas décadas: milhares de católicos vivem nessa terra, que gostamos de chamar "Terra Santa", uma vez que ela conserva a memória viva dos acontecimentos que assinalaram a nossa história da salvação. Milhões de católicos e de cristãos do mundo inteiro contemplam esta terra, na esperança de a poder visitar como peregrinos. Recentemente, o próprio Papa Bento XVI desejou evidenciar esta atenção, dirigindo assim uma mensagem aos católicos que vivem no Médio Oriente. Ele observava que, "nas presentes circunstâncias, caracterizadas por poucas luzes e demasiadas sombras, é para mim motivo de consolação e de esperança saber que as comunidades cristãs do Médio Oriente, cujos sofrimentos intensos me são conhecidos, continuam a ser comunidades vivas e activas, decididas a dar testemunho da sua fé com a identidade específica nas sociedades que as circundam. Elas desejam poder contribuir de maneira construtiva para aliviar as urgentes necessidades das suas respectivas sociedades e de toda a região" (Mensagem aos Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio, aos irmãos e irmãs católicos do Médio Oriente). Em tal mensagem, o Papa esclarece pormenorizadamente como é que esta contribuição construtiva deveria realizar-se. Tomo a liberdade de citar alguns trechos mais relevantes da sua mensagem, uma vez que contêm recomendações realmente úteis a propósito do espírito com que se deveria empreender a tarefa de criar as condições para uma paz genuína e justa entre israelenses e palestinos: "As notícias quotidianas que chegam do Médio Oriente não deixam de mostrar um crescendo de situações dramáticas, quase sem saída. Trata-se de vicissitudes que, em quantos se encontram envolvidos nas mesmas, suscitam naturalmente recriminações e rancor, predispondo os ânimos a propósitos de desforra e de vingança. Estamos conscientes de que estes não são sentimentos cristãos; ceder aos mesmos torna as pessoas interiormente duras e rancorosas, muito distantes daquela "mansidão e humildade" de que Jesus Cristo se nos propôs como modelo... Assim, perder-se-ia a ocasião de oferecer uma contribuição propriamente cristã para a solução dos gravíssimos problemas desta nossa época". "Não seria verdadeiramente sábio, sobretudo neste momento, perder tempo e interrogar-se sobre quem sofreu mais ou desejar apresentar a conta das injustiças sofridas, enumerando as razões que se expõem a favor da própria tese. Isto foi feito com frequência no passado, com resultados pelo menos decepcionantes". "Em última análise, o sofrimento irmana todos, e quando alguém sofre deve sentir antes de tudo o desejo de compreender quanto pode sofrer o outro que se encontra numa situação análoga. O diálogo paciente e humilde, feito de escuta recíproca e destinado à compreensão da situação do outro já deu bons frutos em muitos países precedentemente devastados pela violência e pelas vinganças. Um pouco de confiança na humanidade do próximo, sobretudo se está a sofrer, não pode deixar de dar resultados válidos. Hoje esta disposição interior é invocada de maneira autorizada de muitas partes... Caríssimos, através de vós desejo dirigir-me também aos vossos concidadãos, homens e mulheres das várias Confissões cristãs, das diversas religiões, e a todos aqueles que procuram com honestidade a paz, a justiça e a solidariedade, mediante a escuta recíproca e o diálogo sincero. A todos e a cada um de vós, digo: perseverai com coragem e confiança! Além disso, a quantos têm a responsabilidade de orientar os acontecimentos, peço sensibilidade, atenção e proximidade concretas, que ultrapassem cálculos e estratégias, a fim de que se edifiquem sociedades mais justas e mais pacíficas, no respeito autêntico por todos os seres humanos" (Ibidem). Concluo a minha breve saudação, formulando votos de bom êxito para a presente Conferência. Em nome da Santa Sé, desejo manifestar a minha firme convicção de que as diferentes Confissões religiosas presentes na Terra Santa podem oferecer uma contribuição determinante para o relançamento dos diálogos de paz entre israelenses e palestinos, nomeadamente através do empreendimento de promoção, entre os seus membros, das atitudes por mim mencionadas.
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