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SECRETARIA DE ESTADO

DISCURSO DO CARDEAL ANGELO SODANO
POR OCASIÃO DO 60º ANIVERSÁRIO DA ORGANIZAÇÃO
DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A ALIMENTAÇÃO
E A AGRICULTURA (FAO)*

Senhores Chefes de Estado
e de Governo
Senhor Director-Geral
Senhoras e Senhores!

Sinto-me feliz por participar nesta assembleia extraordinária, reunida para celebrar o 60º aniversário da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura. Trago também a todos os presentes a saudação deferente de Sua Santidade o Papa Bento XVI, que por meu intermédio deseja fazer chegar a todos cordiais bons votos de proveitoso trabalho.

1. É uma data significativa a que hoje celebramos. Ela faz-nos voltar ao momento feliz da instituição da FAO, que surgiu para libertar a humanidade do espectro da fome mediante a promoção da actividade agrícola em todos os Países, com uma efectiva cooperação entre os Estados. Trata-se de um objectivo sempre actual e que se torna urgente como nunca, face a uma situação mundial, que vê povos atingidos por pesadas e recorrentes crises alimentares, enquanto que noutros países a abundância da produção apresenta não poucos interrogativos sobre os seus modelos de vida.

Hoje, a FAO depara-se com um mundo que, apesar de algumas dolorosas visões, manifesta uma necessidade crescente de se reunir em volta de objectivos comuns para dar um sentido solidário à convivência da família humana.

Por conseguinte, sinto o dever de dirigir a quantos trabalham na FAO um especial agradecimento, e em particular a Vossa Excelência, Senhor Director-Geral, a quem renovo a expressão da mais profunda gratidão pelo compromisso até agora assumido num sector tão importante como o da alimentação e da agricultura.

2. A ninguém passa despercebido um dado: a instituição da FAO coincide com a formação da mais "ampla família das Nações", a cujos ideais a Organização está associada, como realça bem a sintonia existente entre os princípios orientadores que regem a sua Constituição e os que estão contidos na Carta das Nações Unidas. Promover o desenvolvimento agrícola e a formação de condições que garantam plenamente o direito fundamental à alimentação constitui uma contribuição determinante para a causa da segurança internacional, e por conseguinte, da paz. Ao instituir a FAO a 16 de Outubro de 1945 a Comunidade internacional não manifestou apenas o desejo de fortalecer uma cooperação eficaz entre os Estados num sector fundamental como o da agricultura, mas deixou também entrever a intenção de encontrar modos adequados para garantir uma alimentação suficiente para o mundo inteiro, graças a uma partilha racional dos frutos da terra.

Hoje, depois de sessenta anos, não se deve permitir que as enormes dificuldades que esta tarefa ainda apresenta diminuam a determinação no compromisso.

3. A celebração de um aniversário é um momento para reflectir sobre o que foi realizado até agora e sobre os obstáculos que se impõem à acção futura. Concretamente, quais são os motivos que impedem à acção internacional de modificar a realidade mundial rumo a uma dimensão digna da pessoa humana? Sabe-se que a nível mundial é possível dispor de alimentos suficientes para satisfazer as necessidades de todos. Então, por que tantas pessoas correm o risco de morrer de fome? São muitos os motivos desta situação paradoxal na qual abundância e escassez coexistem.

Um deles consiste no facto de que algumas formas de assistência ao desenvolvimento estão subordinadas à actuação por parte dos Países mais pobres, de políticas de aperfeiçoamentos estruturais, para poder aceder ao mercado dos produtos agrícolas. Nos Países mais progredidos existe, depois, uma cultura consumista que tende a exaltar falsas necessidades em desvantagem das reais.

4. Uma campanha eficaz contra a fome exige, portanto, muito mais que a simples indicação de como devem funcionar correctamente os mecanismos de mercado ou as técnicas para obter níveis mais altos de produção alimentar. Antes de tudo, torna-se necessário redescobrir o sentido da pessoa humana, na sua dimensão individual e comunitária, começando pela vida familiar da qual descendem o sentido de solidariedade e de partilha. Tenho diante de mim a imagem da família rural chamada a gerir com o seu trabalho a pequena empresa familiar, mas também a transmitir a ideia de relações baseadas no intercâmbio de conhecimentos recíprocos, valores, assistência imediata e respeito. Um quadro que corresponde bem àquela necessidade de construir os relacionamentos entre os povos com base numa disponibilidade constante e autêntica, capaz de fazer com que cada País esteja preparado para satisfazer as necessidades de quantos se encontram em necessidade.

5. Ilustres Autoridades, nestes vossos esforços ao serviço do bem comum, a Igreja Católica está ao vosso lado, como testemunha a atenção com a qual a Santa Sé segue a actividade da FAO desde 1948. Ao celebrar este 60º Aniversário convosco, a mesma Sé Apostólica deseja garantir-vos o seu apoio constante ao vosso compromisso pela causa do homem, que concretamente significa abertura à vida, respeito pela ordem da criação e adesão àqueles princípios éticos que desde sempre estão na base da vivência social. Os meus votos dirigem-se depois a quantos trabalham, a todos os níveis, para garantir a eficácia da acção da Organização: que sejam capazes de manifestar no seu contributo não só a excelência do serviço técnico e profissional, mas também relacionamentos de verdadeira amizade, que se manifestem em estima sincera pelas diversas tradições e culturas dos povos da terra.

6. O Profeta Isaías proclamava a alvorada da paz universal, relacionando-a com uma imagem que assume um grande significado para a FAO: só haverá paz, de facto, quando os povos "transformarem as suas espadas em relhas de arados, e as suas lanças em foices" (cf. Is 2, 4).

Nestas palavras temos a consideração da luta contra a fome como prioridade e compromisso destinado a fornecer a cada um os meios para ganhar o próprio pão quotidiano, em vez de destinar os recursos a conflitos e guerras. Quanto mais se gasta para armamentos, menos resta para os famintos. A luta contra a fome constitui a difícil tarefa, à qual vós, responsáveis da FAO, estais chamados, juntamente com os organizadores do Programa Alimentar Mundial (PAM). O Papa Bento XVI, por meu intermédio, envia-vos o seu calor e encorajamento por este compromisso ao serviço da comunidade internacional. Que Deus Omnipotente, doador de todos os bens, encha a vossa obra de abundantes bênçãos!


*L'Osservatore Romano. Edição semanal em português n°43 p.4, 20.

 

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