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INTERVENÇÃO DE D. SILVANO MARIA TOMASI,
 OBSERVADOR PERMANENTE DA SANTA SÉ
NA II REUNIÃO DA 1ª CONFERÊNCIA DE EXAME
 DA CONVENÇÃO SOBRE A PROIBIÇÃO
 DAS MINAS ANTI-HOMEM

Genebra, 28 de junho de 2004

 

 
Senhor Presidente

Por ocasião da realização da II Reunião preparatória para o Encontro de Nairobi, desejo transmitir-vos o apoio pessoal e o apreço do Papa João Paulo II pelo profundo compromisso e pelos esforços contínuos que fazeis para que a 1ª Conferência de exame tenha bom êxito. O Papa terá a ocasião durante esta Reunião de enviar uma mensagem especial. Por agora, contento-me com recordar alguns pontos que a Santa Sé considera fundamentais para o bom êxito do Encontro de Nairobi.

Ao mesmo tempo que são "a arma do pobre", as minas tornaram o pobre mais pobre, as víctimas sem mãos e sem pés, as crianças sem futuro, os camponeses sem terras para cultivar e as jovens gerações sem futuro no seu território ancestral e, por conseguinte, a única alternativa é o desenraizamento e a migração com destinos incertos. A chamada arma dos pobres fez com que os países pobres fossem ainda mais pobres. Um simples olhar à geografia dos países mais atingidos é suficiente para tomar consciência desta injustiça suplementar que aprofunda ainda mais os sulcos que é necessário eliminar no caminho da construção da paz.

Esta arma absurda faz de quantos ela pretende defender as suas primeiras vítimas tanto em tempos de guerra como em tempos de paz. As consequências prolongam-se durante muitos anos e deixam fendas abertas sem reconciliação real e definitiva.

Apesar do progresso realizado depois da entrada em vigor da Convenção, milhões de víctimas continuam, todos os anos, a atingir milhões de inocentes cuja única falta é a de se terem encontrado um dia no lugar errado. Estas víctimas têm direito ao reconhecimento, a tomar a palavra a fim de participar com toda a sociedade nas decisões que lhes dizem respeito. Elas não devem ser víctimas silenciosas. São membros de pleno direito da sociedade.

A Convenção de Otava, é pioneira e eficaz. A sua originalidade pode ser um exemplo a seguir nos momentos difíceis no início deste milénio. Os problemas são resolvidos melhor pela própria cooperação entre os países e as regiões na sua diversidade e especificidade. A colaboração entre governos e os diferentes componentes da sociedade civil fez deste modelo inovador o segredo do bom êxito da luta contra as minas anti-homem. Cada entidade, cada pessoa pode dar o seu contributo, por modesto que seja, a fim de realizar este sonho realizável, o de um mundo sem minas, um mundo cujos caminhos servem para relacionar os homens entre si e não para os submeter e dissociar, cujos campos servem para realizar as condições para uma vida digna e progredida e não devem ser uma fonte de morte e de fechamento em si mesmo.

Vossa Excelência, Senhor Presidente, sabe muito bem o que é necessário fazer. Apesar das importantes realizações dos âmbitos da destruição dos arsenais e da eliminação das minas, permanecem grandes desafios. Nenhum país sozinho é capaz de as eliminar. A cooperação deve estar na base de qualquer acção em vista do futuro com confiança e optimismo: cooperação a todos os níveis, entre países atingidos e não atingidos, entre países ricos e países em vias de desenvolvimento, entre os que possuem a tecnologia e os meios adequados e os que não os possuem, entre governos e sociedade civil... Esta cooperação tem outro nome, o da unidade da família humana e da solidariedade entre todos os seus componentes.

Falta encorajar e convencer quantos ainda estão longe do esforço feito por um grande número de países. A norma estabelecida pela Convenção deveria ser, na prática, universal, pois ela traduz uma preocupação humanitária sem ambiguidade. Quantas vezes, Senhor Presidente, a humanidade deplorou as víctimas e os danos causados por uma tomada de posição tardia de evidência humanitária? Quantas vezes deploramos uma paz tardia porque pensamos que os interesses de uns podem ser garantidos esquecendos outros? Quantas vezes deploramos as opções indiscriminadas por certas armas que são reconhecidas como fonte de preocupação e de sofrimento suplementares injustificadas e, ao mesmo tempo, são fonte de segurança e de protecção? Deste ponto de vista, Senhor Presidente, a Convenção de Otava constitui um passo significativo pelo caminho recto, o da paz fundada na justiça, na reconciliação, na liberdade e na cooperação sincera entre todos os países.

Muito obrigado, Senhor Presidente!

 

 

 

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