É tempo de Quaresma! É tempo de renovação espiritual, em preparação para a Páscoa do Senhor. No clima austero deste tempo litúrgico, realiza-se o rito da ordenação episcopal do nosso querido Monsenhor Paul Richard Gallagher, chamado pelo Santo Padre a fazer parte do Colégio Episcopal e destinado ao Burundi, como Núncio Apostólico. Deverá levar àquele País frutos de bem, ao serviço da Santa Igreja. Deverá fazer ressoar nele o Evangelho de Cristo, com o convite severo que hoje foi proclamado e que é actual como nunca neste momento histórico da vida do Burundi, repetindo a todos: "se não vos converterdes, perecereis todos da mesma forma" (Lc 13, 5).
1. Um rito fascinante
Um dia já distante, o jovem Paul Richard ouviu a voz do Senhor que o chamava a segui-lo, e ele respondeu generosamente "sim", tornando-se presbítero da Santa Igreja. Hoje, por meu intermédio, o Senhor pede-lhe para desempenhar o seu ministério a um nível mais alto do nosso sacerdócio, como é o do Episcopado. A finalidade é sempre a mesma, a de continuar no mundo a obra de Cristo, Bom Pastor.
Não me prolongo a explicar o significado do rito de hoje. Ele já é muito eloquente e fala directamente a todos nós. Como fizeram os Apóstolos com os seus primeiros Sucessores, imporei sobre a cebeça do eleito as minhas mãos. O mesmo farão os Bispos presentes, pronunciando as palavras essenciais do rito:
"Efundi agora sobre a cabeça deste Eleito o poder que vem de vós, ó Pai, o vosso Espírito que rege e guia: vós o destes ao vosso Filho predileto, Jesus Cristo, e ele transmitiu-o aos Santos Apóstolos, que nas várias partes da terra têm a Igreja como teu santuário, para louvor e glória do vosso nome" (Oração de ordenação).
2. A linguagem dos símbolos
Depois, este rito bimilenário é enriquecido por uma série de símbolos, que realçam muito bem a missão do Bispo. Sobre a cabeça do eleito será colocado o Evangelho, para indicar que dele, cada um de nós, deve tirar a inspiração para a sua vida pessoal e para a sua actividade apostólica. Porei depois o anel no dedo do novo Bispo, para lhe recordar o dever da fidelidade à Igreja, Esposa de Cristo. Colocarei sobre a sua cabeça a mitra, para indicar a todos a sua dignidade episcopal. Colocarei depois nas suas mãos o pastoral, exortando-o a guiar com amor de Pai o povo santo de Deus.
Todos estes são sinais eloquentes com que a liturgia nos quer fazer compreender, estimar e amar aquele que foi chamado pelo Senhor a ser Sucessor dos Apóstolos, para a edificação da Santa Igreja de Deus.
Também o símbolo da prostração no chão, durante o cântico das ladainhas dos Santos, quer recordar-nos que tudo vem de Deus, que nós somos criaturas pequeninas perante Ele e que confiamos unicamente na sua graça.
3. A missão do Núncio
O novo Bispo não desempenhará a sua missão numa determinada diocese, como fazem normalmente os Bispos residenciais, coadjutores ou auxiliares. Ele colaborará com o Santo Padre, Pastor da Igreja universal. Contudo, é sempre a mesma missão pastoral, para a difusão do Reino de Deus no mundo.
É verdade que ao nosso Bispo Paul é dado também o antigo título da Igreja de Hodelm na Escócia, agora suprimida. Isto corresponde à tradição de conservar a memória histórica das antigas comunidades cristãs, mas sabemos que o essencial é constituído pelo facto de que o novo Bispo é incluído no Colégio episcopal, ao qual Cristo confiou a missão de dar continuidade à obra do Colégio apostólico até ao fim dos séculos. Na época de Jesus, os Apóstolos eram 12. Agora, os Bispos são mais de 4.600, isto é, 2.600 governam uma diocese e outros 2.000 são Bispos titulares ou Eméritos. É sempre o mesmo fogo do Pentecostes que os deve estimular a anunciar ao mundo de hoje o Reino de Deus e a levar aos homens do nosso tempo a Palavra e os Sacramentos da salvação.
4. Rumo ao Burundi
O nosso estimado D. Paul prepara-se agora para partir na volta de Bujumbura, capital do Burundi. É um País que sofreu muito devido às conhecidas vicissitudes destes últimos anos, é uma Igreja que foi provada pelas discórdias dos seus filhos e que agora está a trabalhar para propor a todos o caminho da reconciliação e do perdão. Já há dois mil anos São Paulo dissera que na Igreja "não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem nem mulher, porque todos sois concluía o Apóstolo um só em Cristo Jesus" (Gl 3, 28). Hoje, cada cristão deverá saber que não há hutu nem tutsi, não há africano nem europeu, porque somos todos filhos do mesmo Pai, que está nos céus.
De resto, esta é a recomendação que o Papa João Paulo II confiou às populações do Burundi durante a viagem realizada àquele País em Setembro de 1990. Naquela ocasião, o Santo Padre disse claramente a todos, autoridades e povo: "Consolidai a vossa unidade, mas não com resignação ou na desconfiança, mas radicando-a solidamente por meio da reconciliação e do perdão" (Insegnamenti de João Paulo II, XIII, 2, pág. 445).
Consciente da gravidade da situação local, o Papa acrescentava: "Para alguns, isto pode parecer insuperável, porque as feridas ainda doem. Como esquecê-las? A vossa plena reconciliação não consiste em esquecer o passado. Deveis considerar isto na verdade, mas deveis encontrar-vos novamente e superar juntos o que vos dividiu, para construir uma nova unidade" (ibid., pág. 445).
5. O exemplo de D. Courtney
Inspirando-se em tais princípios evangélicos, o saudoso Núncio Apostólico D. Michael Courtney trabalhou com intensidade no Burundi. Como qualquer Representante Pontifício, ele deu o seu contributo pelo progresso da Igreja naquele País e manteve as relações com as autoridades civis, a fim de instaurar uma colaboração entre Igreja e Estado, para o bem daquelas populações.
Como nos jogos olímpicos, agora a tocha passa para novas mãos, para as mãos do nosso querido D. Paul Gallagher.
Rezamos por ele e estaremos sempre ao seu lado com a nossa solidariedade. Também o Papa, que por meu intermédio o abençoa de coração, está próximo dele. Está-lhe próxima a sua amada Arquidiocese, aqui dignamente representada pelo seu Pastor, D. Patrick Kelly, Arcebispo de Liverpool.
Intercederão por ele do céu todos os Santos, que agora invocaremos nas Ladainhas.
6. Conclusão
Amado Monsenhor, parte sereno para o Burundi, que muito espera de ti. Que tu possas ser um porta-voz de esperança para aquelas queridas populações. A Virgem Santíssima, muito venerada em terra africana, seja a estrela luminosa que orienta o teu caminho. Hoje mais do que nunca, nós a invocamos com as palavras da antiga sequência Alma Redemptoris Mater: "Sucurre cadenti, surgere qui curat populo!". "Vem, ó Maria, em auxílio do povo que cai e procura levantar-se!".
E assim, com o auxílio que vem do alto, também o Burundi reencontrará o caminho da concórdia, para o progresso material e espiritual daquela nobre Nação.
Estão hoje presentes aqui um grupo de membros da sua família e de amigos, que vieram a Roma para participar neste significativo dia da tua vida. Saúdo-os calorosamente, e peço-lhes que continuem a estar próximos de ti com a oração e o apoio. A todos concedo a minha bênção.