The Holy See
back up
Search
riga

 SECRETARIA DE ESTADO DA SANTA SÉ

INTERVENÇÃO DO CHEFE DA DELEGAÇÃO DA SANTA SÉ
NA 91ª SESSÃO DA CONFERÊNCIA INTERNACIONAL
 DO TRABALHO

"Libertar-se da pobreza através do trabalho"

16 de junho de 2003

 

Senhor Presidente

Estamos aqui reunidos, num contexto internacional particular e altamente representativo das sociedades, graças à estrutura tripartida da Organização Internacional do Trabalho. Por conseguinte, é de muito bom grado que vos transmito a todos a mensagem da Igreja católica, que é uma mensagem ética e, portanto, universal.

1. "Libertar-se da pobreza através do trabalho": como é evocador para a Santa Sé o tema sobre o qual está centrada a 91ª Sessão Internacional do Trabalho! E isto, pelos três motivos, que aqui expomos:

1.1. Já o verbo "libertar" é uma palavra forte, que significa "tornar livre", tornar a pessoa humana livre neste caso da pobreza, um fenómeno que se pode comparar à escravidão, porque atinge profundamente o homem, na sua dignidade: o ser humano que fica desprovido do que lhe é necessário para viver é um ser humilhado, ao qual são negados os seus direitos económicos e sociais e mesmo, nos casos extremos, o seu direito à vida. Contudo, a pobreza não é ou não é mais uma fatalidade! Este é o motivo pelo qual libertar um homem da pobreza constitui um imperativo ético "que se impõe à consciência da humanidade" (João Paulo II, Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1993); e a Igreja católica, cuja missão consiste essencialmente em "servir o homem", todo o homem, ao preocupar-se pelas suas exigências da vida de todos os dias (cf. Mater et magistra, 2), deve estar na linha de vanguarda na luta contra a pobreza.

1.2. Além disso, aqui o verbo "libertar" é utilizado na sua forma pronominal. Isto significa que os pobres constituem a parte directamente interessada neste processo de libertação, e supõe-se que participem na sua libertação da pobreza. De resto, é necessário "abandonar a mentalidade que considera os pobres pessoas e povos como se fossem um fardo" (Centesimus annus, 28).
1.3. Por fim, a Santa Sé não poderia deixar de estar plenamente de acordo com a existência de um vínculo directo entre a pobreza, o trabalho e o desemprego. A Igreja católica, que se define como a Igreja dos pobres e que por eles fez a sua "opção preferencial", sabe muito bem que eles "aparecem sob variados aspectos... [e] em muitos casos, como um resultado da violação da dignidade do trabalho humano: e isto, quer porque as possibilidades do trabalho humano são limitadas o flagelo do desemprego quer porque são desprezados o valor do próprio trabalho e os direitos que dele derivam, especialmente o direito ao justo salário e à segurança da pessoa do trabalhador e da sua família" (Laborem exercens, 8).

2. Agora, gostaria de chamar a atenção para um valor que ressoa na consciência de todos, um valor que, talvez com termos um pouco desusados, se exprime pelo sentido da honra. É necessário pôr tudo em acção para dar continuidade aos compromissos assumidos. Neste caso específico, volto o meu pensamento para o compromisso assumido por parte da Comunidade internacional, em ordem a reduzir para metade, até ao ano de 2015, o número de pessoas que vivem na pobreza extrema.

2.1. No contexto da sua Mensagem para o Dia Mundial da Paz do corrente ano, o Papa João Paulo II recordou precisamente esta exigência, de não faltar à palavra dada: "Pacta sunt servanda, diz uma antiga máxima. Se todos os compromissos devem ser respeitados, é preciso velar de modo particular pelo respeito dos compromissos assumidos em relação aos pobres (...) Os sofrimentos causados pela pobreza aumentaram dramaticamente, em virtude da perda da confiança. O resultado final é o desaparecimento de toda a esperança" (n. 8).

2.2. Uma categoria que precisa de maneira especial de confiança, porque tem o futuro à sua frente, é a dos jovens que, nos países pobres, constituem a grande maioria da população. Por conseguinte, é necessário que as instituições responsáveis pela orientação da política do trabalho, aos níveis tanto nacional como internacional, prestem a máxima atenção ao problema fundamental constituído pelo desemprego que atinge os jovens (cf. Laborem exercens, 18).

2.3. É evidente que a dificuldade desta tarefa é enorme! Por isso, é oportuno recordar aqui a necessidade de unir a grandeza das finalidades ao sentido da realidade. Uma oportunidade para caminhar nesta direcção poderia ser oferecida, talvez, pelos quadros estratégicos que visam a redução da pobreza. Com efeito, se é verdade que aquilo que se espera dos países pobres, em ordem à elaboração destes quadros, é de grande complexidade, porque pressupõe a existência de instrumentos técnicos de que eles ainda não dispõem, e também de instituições políticas, cuja credibilidade nem sempre é assegurada, é também verdade que reconhecer a necessidade da participação, por mais difícil que ela seja, constitui um modo de consolidar o processo de libertação da pobreza na realidade local. É fundamental o papel que desempenha e que deve continuar a desempenhar a Organização Internacional do Trabalho, com vista a integrar os objectivos do emprego e do trabalho decente nas estratégias de redução da pobreza. A Igreja católica, por sua vez, em muitos casos tem posto a sua experiência ao serviço das comunidades locais, no quadro deste processo de participação dos pobres, que exigem cada vez mais para expressar a sua criativa personalidade de cidadãos (cf.  Sollicitudo  rei socialis, 15).

 

 

 

top