CONSELHO PONTIFÍCIO PARA A PASTORAL DOS MIGRANTES E ITINERANTES O SANTUÁRIO Memória, Presença e Profecia do Deus vivo
Introdução
1. Sentido e objectivo do documento No interior da grande peregrinação que Cristo, a Igreja e a humanidade realizaram e devem continuar a realizar na história, todo o cristão é chamado a inserir-se e participar. O santuário para o qual ele se dirige deve tornar-se por excelência "a tenda do encontro", como a Bíblia chama ao tabernáculo da aliança” (1). Estas palavras unem directamente a reflexão sobre a peregrinação àquela sobre o santuário (2), que é normalmente a meta visível do itinerário dos peregrinos: “Sob o nome de santuário, entende-se a igreja ou outro lugar sagrado, aonde os fiéis em grande número, por algum motivo especial de piedade, fazem peregrinações, com a aprovação do Ordinário local” (3). No santuário, o encontro com o Deus vivo é proposto através da experiência vivificante do Mistério proclamado, celebrado e vivido: “Nos santuários, oferecem-se aos fiéis meios de salvação mais abundantes, anunciando com diligência a palavra de Deus, incentivando adequadamente a vida litúrgica, principalmente com a Eucaristia e a celebração da penitência, e cultivando as formas aprovadas de piedade popular” (4). Assim, “os santuários são como pedras miliares que orientam o caminho dos filhos de Deus sobre a terra” (5), promovendo a experiência de convocação, encontro e construção da comunidade eclesial. Estas características valem de modo muito singular para os santuários surgidos na Terra Santa nos lugares santificados pela presença do Verbo Encarnado e são particularmente reconhecíveis naqueles consagrados pelo martírio dos Apóstolos e de quantos testemunharam a fé com o próprio sangue. Aliás, a inteira história da Igreja peregrinante pode encontrar-se reflectida em numerosos santuários, “antenas permanentes da Boa Nova” (6), ligados a eventos decisivos da evangelização ou da vida de fé de povos e de comunidades. Todo o santuário pode ser considerado portador duma mensagem precisa, uma vez que nele se representa no hoje o evento que fundou o passado, que continua a falar ao coração dos peregrinos. Em particular, os santuários marianos oferecem uma autêntica escola de fé sob o exemplo e a intercessão materna de Maria. Testemunhas da riqueza multíplice da acção salvífica de Deus, todos os santuários são também no presente um inestimável dom da graça à Sua Igreja. Reflectir, por isso, sobre a natureza e a função do santuário pode contribuir de maneira eficaz para acolher e viver o grande dom de reconciliação e de vida nova, que a Igreja oferece continuamente a todos os discípulos do Redentor e, através deles, à inteira família humana. Daqui deriva o sentido e o objectivo do presente documento, que desejaria fazer-se eco da vida espiritual que nasce nos santuários, do empenho pastoral daqueles que ali exercem o próprio ministério e da irradiação que eles têm nas Igrejas locais. A reflexão que a seguir se apresenta é apenas uma modesta ajuda para apreciar sempre mais o serviço que os santuários prestam à vida da Igreja. 2. À escuta da revelação Para que a reflexão sobre o santuário seja nutriente para a fé e fecunda para a acção pastoral, é necessário que ela derive da escuta obediente da revelação, na qual são apresentadas com densidade a mensagem e a força de salvação contidas no “mistério do Templo”. Na linguagem bíblica, sobretudo paulina, o termo “mistério” exprime o desígnio divino de salvação que se vem realizando na vicissitude humana. Quando na escola da Palavra de Deus se perscruta o “mistério do Templo”, percebe-se, para além dos sinais visíveis da história, a presença da “glória” divina (cf. Sl 29, 9), isto é, a manifestação de Deus três vezes Santo (cf. Is 6, 3), a sua presença em diálogo com a humanidade (cf. 1 Rs 8, 30-53), o seu ingresso no tempo e no espaço, através “da tenda” que Ele pôs no meio de nós (cf. Jo 1, 14). Aparecem assim as linhas de uma teologia do templo, em cuja luz pode ser melhor compreendido também o significado do santuário. Esta teologia é caracterizada por uma concentração progressiva: em primeiro lugar, emerge a figura do “templo cósmico”, celebrado por exemplo pelo Salmo 19 através da imagem dos “dois sóis”, o “sol da Tora”, ou seja, da revelação explicitamente dirigida a Israel (vv. 8-15), e o “sol do céu” que “narra a glória de Deus” (vv. 2-7) através duma revelação universal silenciosa, mas eficaz, destinada a todos. No interior deste templo a presença divina é viva em todas as partes, como recita o Salmo 139, e é celebrada uma liturgia aleluítica, atestada pelo Salmo 148, que além das criaturas celestes introduz 22 criaturas terrestres (tantas quantas são as letras do alfabeto hebraico, para significar a totalidade da criação) que entoam um aleluia universal. Há, portanto, o templo de Jerusalém, guardião da Arca da aliança, lugar santo por excelência da fé hebraica e permanente memória do Deus da história, que estabeleceu aliança com o Seu povo e a ele permanece fiel. O templo é a casa visível do Eterno (cf. Sl 11, 4), preenchida pela nuvem da Sua presença (cf. 1 Rs 8, 10.13), repleta da Sua “glória” (cf. 1 Rs 8, 11). Por fim, há o templo novo e definitivo, constituído pelo Filho eterno que veio na carne (cf. Jo 1, 14), o Senhor Jesus crucificado e ressuscitado (cf. Jo 2, 19-21), que faz dos crentes n'Ele o templo de pedras vivas, que é a Igreja peregrina no tempo: “Aproximai-vos d'Ele, pedra viva, rejeitada pelos homens, mas escolhida e preciosa aos olhos de Deus. E vós mesmos, como pedras vivas, entrai na construção dum edifício espiritual, por meio dum sacerdócio santo, cujo fim é oferecer sacrifícios espirituais que serão agradáveis a Deus, por Jesus Cristo” (1 Pd 2, 4-5). Ao aproximar-se d'Aquele que é “pedra viva” constrói-se o edifício espiritual da aliança nova e perfeita e prepara-se a festa do Reino “ainda não” plenamente realizado mediante os sacrifícios espirituais (cf. Rm 12, 1-2), agradáveis a Deus precisamente porque actuados em Cristo, por Ele e com Ele, a Aliança em pessoa. A Igreja, apresenta-se assim sobretudo como “o templo santo, representado de modo visível nos santuários de pedra” (7). 3. As arcadas fundamentais Na luz destes testemunhos é possível aprofundar o “mistério do Templo” em três direcções, que correspondem às três dimensões do tempo e constituem também as arcadas fundamentais de uma teologia do santuário, que é memória, presença e profecia do Deus connosco. Em relação ao passado único e definitivo do evento salvífico, o santuário oferece-se como memória da nossa origem junto do Senhor do céu e da terra; em relação ao presente da comunidade dos remidos, reunida no tempo que está entre o primeiro e o último Advento do Senhor, delineia-se como sinal da divina Presença, lugar da aliança, onde sempre de novo se exprime e se regenera a comunidade da aliança; em relação à futura realização da promessa de Deus, àquele “ainda não” que é o objecto da maior esperança, o santuário apresenta-se como profecia do amanhã de Deus no hoje do mundo. Em relação a cada uma destas três dimensões será possível desenvolver também as linhas inspiradoras de uma pastoral dos santuários, capaz de traduzir na vida pessoal e eclesial a mensagem simbólica do templo, no qual se reúne a comunidade cristã convocada pelo Bispo e pelos sacerdotes seus colaboradores.
I - O Santuário, memória da origem
4. Memória da obra de Deus O santuário é, antes de tudo, lugar da memória da acção poderosa de Deus na história, que está na origem do povo da aliança e da fé de cada um dos crentes. Já os Patriarcas recordam o encontro com Deus mediante a erecção de um altar ou memorial (cf. Gn 12, 6-8; 13, 18; 33, 18-20), ao qual retornam em sinal de fidelidade (cf. Gn 13, 4; 46, 1), e Jacob considera “morada de Deus” o lugar da sua visão (cf. Gn 28, 11-22).Na tradição bíblica, portanto, o santuário não é simplesmente o fruto duma obra humana, repleta de simbolismos cosmológicos ou antropológicos, mas testemunha a iniciativa de Deus no Seu comunicar-se aos homens, para estabelecer com eles o pacto da salvação. O significado profundo de todo o santuário é recordar na fé a obra salvífica do Senhor (8). No clima da adoração, da invocação e do louvor Israel sabe que foi o seu Deus que quis livremente o Templo, e não a pretensão humana que O obrigou. Disto é testemunho exemplar a esplêndida oração de Salomão, que parte precisamente da dramática consciência da possibilidade de ceder à tentação idolátrica: “Mas, em verdade, habitará Deus sobre a terra? Se nem o céu, se nem os altíssimos céus Vos podem conter, muito menos esta casa que edifiquei! Apesar disso, Senhor, meu Deus, atendei à oração e às súplicas do Vosso servo: ouvi o clamor e a prece que hoje Vos dirijo. Que os Vossos olhos estejam dia e noite abertos sobre esse templo, do qual dissestes: O Meu nome residirá ali. Ouvi a oração que Vosso servo Vos faz neste lugar” (1 Rs 8, 27-29). O santuário, portanto, não é edificado porque Israel quer aprisionar a presença do Eterno, mas, exactamente ao contrário, porque Deus vivo, que entrou na história, que caminhou com o Seu povo na nuvem, durante o dia, e no fogo durante a noite (cf. Êx 13, 21), quer dar um sinal da Sua fidelidade e da Sua presença sempre actual no meio do Seu povo. O Templo será, pois, não a casa edificada pelas mãos dos homens, mas o lugar que testemunha a iniciativa d'Aquele, que é o único a edificar a casa. É a verdade simples e grande confiada às palavras do profeta Natã: “Vai e diz ao Meu servo David: Diz o Senhor: Não és tu que Me construirás uma casa para Eu habitar... Será Ele próprio quem edificará uma casa para ti. Quando chegar o fim dos teus dias e repousares com teus pais, então suscitarei, depois de ti, um filho teu, que nascerá de ti e consolidarei o seu reino. Ele Me construirá um templo, e firmarei para sempre o seu régio trono. Eu serei para ele um pai e ele será para Mim um filho” (2 Sm 7, 5.11-14). O santuário assume, portanto, o carácter de memória viva da origem, a partir do alto, do povo da aliança, eleito e amado. Ele é o apelo permanente ao facto que não se nasce da carne nem do sangue como povo de Deus (cf. Jo 1, 13), mas que a vida de fé nasce da iniciativa admirável de Deus, que entrou na história para nos unir a Si e nos mudar o coração e a vida. O santuário é a memória eficaz da obra de Deus, o sinal visível que proclama a todas as gerações quão grande Ele é no amor, e testemunha como foi Ele que nos amou primeiro (cf. Jo 4, 19) e quis ser o Senhor e Salvador do Seu povo. Como se exprimia Gregório de Nissa em referência aos Lugares Santos, em todo o santuário podem ser reconhecidos “os vestígios da grande bondade do Senhor para connosco”, “os sinais salvíficos de Deus que nos vivificou” (9), “as recordações da misericórdia do Senhor em relação a nós” (10). 5. A iniciativa “a partir do alto” Aquele que no Antigo Testamento é o Templo de Jerusalém, no Novo Testamento encontra o seu cumprimento mais alto na missão do Filho de Deus, que Se torna o novo Templo, a habitação do Eterno entre nós, a aliança em pessoa. O episódio da expulsão dos vendedores que estavam no templo (cf. Mt 21, 12-13), proclama que o espaço sagrado, por um lado, se dilatou a todas as nações - como confirma também o particular de grande valor simbólico do véu do templo “que se rasgou em duas partes, de alto a baixo” (Mc 15, 38) -; por outro, se concentrou na pessoa d'Aquele que, vencedor da morte (cf. 2 Tm 1, 10), poderá ser para todos o sacramento do encontro com Deus. Aos chefes religiosos, Jesus diz: “Destruí este santuário e Eu em três dias o levantarei”. Ao referir-se à réplica deles - “Foram precisos quarenta e seis anos para edificar este santuário e Tu reedificá-lo-ás em três dias?” - o evangelista João comenta: “Mas Ele falava do santuário do Seu corpo. Por isso, quando Ele ressuscitou dos mortos, recordaram-se os discípulos do que tinha dito e acreditaram na Escritura e na palavra que Jesus dissera” (Jo 2, 19-22). Também na economia da nova Aliança o Templo é o sinal da iniciativa do amor de Deus na história: Cristo, o enviado do Pai, o Deus que Se fez homem por nós, sacerdote supremo e definitivo (cf. Hb 7), é o Templo novo, o Templo esperado e prometido, o santuário da nova e eterna Aliança (cf. Hb 8). Tanto no Antigo como no Novo Testamento, portanto, o santuário é a memória viva da origem, isto é, da iniciativa com a qual Deus nos amou primeiro (cf. 1 Jo 4, 19). Todas as vezes que Israel olhou para o Templo com os olhos da fé, todas as vezes que com estes mesmos olhos os cristãos olham para Cristo, novo Templo, e para os santuários que eles mesmos edificaram a partir do édito de Constantino, como sinal de Cristo vivo no meio de nós, neste sinal reconheceram a iniciativa do amor de Deus vivo pelos homens (11). Deste modo, o santuário testemunha que Deus é maior do que o nosso coração, que nos amou desde sempre e nos deu o seu Filho e o Espírito Santo, porque quer habitar em nós e fazer de nós o Seu templo e, dos nossos membros, o santuário do Espírito Santo, como diz São Paulo: “Não sabeis que sois templos de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá. Porque o templo de Deus, que sois vós, é santo” (1 Cor 3, 16-17; cf. 6, 19); “porque nós somos o templo de Deus vivo, como Deus diz: "Habitarei e caminharei entre eles, e serei o seu Deus, e eles serão o Meu povo"” (2 Cor 6, 16). O santuário é o lugar da permanente actualização do amor de Deus, que pôs a Sua tenda no meio de nós (cf. Jo 1, 14), por isso, como afirma Santo Agostinho, no lugar santo “não há sucessão de dias como se cada dia tivesse de chegar e depois passar. O início de um não indica o fim do outro, porque nele se encontram presentes todos contemporaneamente. A vida, à qual esses dias pertencem, não conhece ocaso” (12). No santuário ressoa assim, de modo sempre novo, o anúncio jubiloso de que “Deus nos amou primeiro e nos deu a capacidade de O amar... Não nos amou para nos deixar feios como éramos, mas para nos mudar e nos tornar belos... De que modo seremos belos? Amando-O, a Ele que é sempre belo. Quanto mais crescer em ti o amor, tanto mais crescerá a beleza; a caridade é precisamente a beleza da alma” (13). O santuário, então, recorda constantemente que a vida nova não nasce “de baixo” por uma iniciativa puramente humana, que a Igreja não é fruto simplesmente da carne nem do sangue (cf. Jo 1, 13), mas que a existência remida e a comunhão eclesial em que ela se exprime, nascem
“do alto” (cf. Jo 3, 3), da iniciativa gratuita e surpreendente do amor trinitário que precede o amor do homem (cf. 1 Jo 4, 9-10). 6. Admiração e adoração Para a vida cristã, quais são as consequências desta primeira e fundamental mensagem, que o santuário transmite enquanto memória da nossa origem junto do Senhor? Podem-se determinar três perspectivas fundamentais. Em primeiro lugar, o santuário recorda que a Igreja nasce da iniciativa de Deus: iniciativa que a piedade dos fiéis e a aprovação pública da Igreja reconhecem no evento de fundação, que está na origem de cada santuário. Portanto, em tudo aquilo que se refere ao santuário e em tudo o que nele se exprime, é preciso discernir a presença do mistério, obra de Deus no tempo, manifestação da Sua presença eficaz, escondida sob os sinais da história. Esta convicção é, além disso, veiculada no santuário através da mensagem específica a ele conexa, tanto em referência aos mistérios da vida de Jesus Cristo, quanto em relação a qualquer um dos títulos de Maria, “modelo de virtude diante de toda a comunidade dos eleitos” (14), e também em relação a cada um dos Santos, cuja memória proclama “as grandes obras de Cristo nos Seus servos” (15). Aproximamo-nos do mistério com uma atitude de admiração e de adoração, com um sentido de maravilha diante do dom de Deus; por esta razão, entra-se no santuário com o espírito de adoração. Quem não é capaz de se maravilhar com a obra de Deus, quem não percebe a novidade daquilo que o Senhor opera com a Sua iniciativa de amor, nem sequer poderá perceber o sentido profundo e a beleza do mistério do Templo, que no santuário se faz reconhecer. O respeito devido ao lugar santo exprime a consciência de que, diante da obra de Deus, é preciso que nos ponhamos não numa lógica humana, que tem a pretensão de definir tudo com base naquilo que se vê e se produz, mas numa atitude de veneração, rica de admiração e de sentido do mistério. Certamente, é preciso uma adequada preparação para o encontro com o santuário, a fim de captar, para além dos aspectos visíveis, artísticos ou de folclore, a obra gratuita de Deus evocada pelos vários sinais: aparições, milagres, eventos fundacionais, que constituem o verdadeiro primeiro início de cada santuário enquanto lugar da fé. Esta preparação desenvolver-se-á, antes de tudo, nas etapas do caminho que conduz o peregrino ao santuário, como acontecia com os peregrinos de Sião que se preparavam para o grande encontro com o Santuário de Deus, através do canto dos Salmos das ascensões (Sl 120-134), que são uma verdadeira e própria catequese litúrgica sobre as condições, a natureza e os frutos do encontro com o mistério do Templo. A disposição topográfica do santuário e de cada um dos seus ambientes, o comportamento respeitoso que será solicitado também aos simples visitantes, a escuta da Palavra, a oração e a celebração dos sacramentos, serão instrumentos válidos para ajudar a compreender o significado espiritual de quanto nele é vivido. Este conjunto de actos exprimirá o acolhimento do santuário, aberto a todos e em particular à multidão de pessoas que, na solidão de um mundo secularizado e dessacralizado, percebem no mais íntimo do seu coração a nostalgia e o fascínio da santidade (16). 7. Acção de graças Em segundo lugar, o santuário recorda a iniciativa de Deus e faz-nos compreender que essa iniciativa, fruto de puro dom, deve ser acolhida em espírito de acção de graças. Entramos no santuário, antes de tudo, para agradecer, conscientes de que fomos amados por Deus antes que nós mesmos fôssemos capazes de O amar; para exprimir o nosso louvor ao Senhor pelas maravilhas por Ele operadas (cf. Sl 136); para Lhe pedir perdão dos pecados cometidos; para implorar o dom da fidelidade na nossa vida de crentes e a ajuda necessária ao nosso peregrinar no tempo. Os santuários constituem nesse sentido uma excepcional escola de oração, onde especialmente a atitude perseverante e confiante dos humildes testemunha a fé na promessa de Jesus: “Pedi e dar-se-vos-á” (Mt 7, 7) (17). Perceber o santuário como memória da iniciativa divina significa, então, educar-se para a acção de graças, nutrindo no coração um espírito de reconciliação, de contemplação e de paz. O santuário recorda-nos que a alegria da vida é, antes de tudo, fruto da presença do Espírito Santo, que anima em nós também o louvor de Deus. Quanto mais formos capazes de louvar o Senhor e de fazer da vida uma perene acção de graças ao Pai (cf. Rm 12, 1), apresentada em união com aquela única e perfeita de Cristo Sacerdote, especialmente na celebração da Eucaristia, tanto mais o dom de Deus será acolhido e tornado fecundo em nós. Deste ponto de vista, a Virgem Maria é “modelo por excelência”. Ela, em espírito de acção de graças, soube deixar-se cobrir pela sombra do Espírito (cf. Lc 1, 35), para que nela o Verbo fosse encarnado e dado aos homens. Ao olharmos para ela, compreendemos que o santuário é o lugar do acolhimento do dom que vem do alto, a morada em que, em acto de agradecimento, nos deixamos amar pelo Senhor, precisamente segundo o seu exemplo e com a sua ajuda. O santuário recorda deste modo que, onde não há gratidão, o dom se perde; onde o homem não sabe dizer obrigado ao seu Deus que todos os dias, também na hora da provação, o ama de modo novo, o dom permanece ineficaz. O santuário testemunha que a vocação da vida não é dissipação, atordoamento, fuga, mas louvor, paz e alegria. A compreensão profunda do santuário educa assim para viver a dimensão contemplativa da vida, não só no interior do santuário, mas em todo o lugar. E visto que é em particular a celebração eucarística dominical que se põe como ápice e fonte da inteira vida do cristão, vivida como resposta de gratidão e de oferta ao dom que vem do alto, o santuário convida de modo muito especial a redescobrir o domingo, que é “o dia do Senhor”, e também “senhor dos dias”, “festa primordial”, “posta não só para ritmar a sucessão do tempo, mas para revelar o seu sentido profundo”, que é a glória de Deus tudo em todos (20). 8. Partilha e empenho Em terceiro lugar, o santuário, enquanto memória da nossa origem, mostra como este sentido de admiração e de acção de graças nunca deve prescindir da partilha e do empenho pelos outros. O santuário recorda o dom de um Deus, que de tal modo nos amou que construiu a Sua tenda no meio de nós, para nos trazer a salvação, para Se fazer companheiro da nossa vida, solidário com o nosso sofrimento e com a nossa alegria. Esta solidariedade divina é testemunhada também pelos eventos fundacionais dos vários santuários. Se assim Deus nos amou, também nós somos chamados a amar os outros (cf. Jo 4, 12) para sermos, com a vida, o templo de Deus. O santuário impele-nos à solidariedade, a ser “pedras vivas”, que se apoiam uma na outra na construção em torno da pedra angular, que é Cristo (cf. 1 Pd 2, 4-5). Para nada serviria viver o “tempo do santuário”, se este não nos impelisse ao “tempo da estrada”, ao “tempo da missão” e ao “tempo do serviço”, lá onde Deus se manifesta como amor para com as criaturas mais débeis e mais pobres. Como nos recordam as palavras de Jeremias, mencionadas também no ensinamento de Jesus, o templo, sem a fé e sem o empenho pela justiça, reduz-se a um “covil de ladrões” (cf. Jr 7, 11; Mt 21, 13). Os santuários mencionados por Amós não têm sentido, se neles não se procura verdadeiramente o Senhor (cf. Am 4, 4; 5, 5-6). A liturgia sem uma vida baseada na justiça transforma-se numa farsa (cf. Is 1, 10-20; Am 5, 21-25; Os 6, 6). A palavra profética chama o santuário à sua inspiração, despojando-o do sacralismo vazio, da idolatria, para o tornar semente fecunda de fé e de justiça no espaço e no tempo. Eis, então, que o santuário, memória da nossa origem junto do Senhor, se torna o contínuo apelo ao amor de Deus e à partilha dos dons recebidos. A visita ao santuário mostrará então os seus frutos, de modo particular no empenho caritativo, na acção pela promoção da dignidade humana, da justiça e da paz, valores para os quais os crentes se sentirão chamados de modo novo.
II. O Santuário, lugar da Presença divina
9. Lugar da aliança O mistério do santuário não só evoca a nossa origem junto do Senhor, mas recorda-nos também que Deus, que outrora nos amou, jamais cessa de nos amar e que hoje, no momento concreto da história em que nos encontramos, diante das contradições e dos sofrimentos do presente, Ele está connosco. A voz unânime do Antigo e do Novo Testamento testemunha como o Templo é não só o lugar da recordação de um passado salvífico, mas também o ambiente da experiência presente da Graça. O santuário é o sinal da Presença divina, o lugar da sempre nova actualização da aliança dos homens com o Eterno e entre si. Ao ir ao santuário, o piedoso israelita redescobria a fidelidade do Deus da promessa a cada “hoje” da história (21). Ao olharem para Cristo, novo santuário, de cuja presença viva no Espírito os templos cristãos são sinal, os seguidores de Cristo sabem que Deus está sempre vivo e presente entre eles e para eles. O Templo é a habitação santa da Arca da aliança, o lugar em que se actualiza o pacto com Deus vivo, e o povo de Deus tem a consciência de constituir a comunidade dos crentes, “a raça eleita, sacerdócio real, nação santa” (1 Pd 2, 9). São Paulo recorda: “Já não sois hóspedes nem peregrinos, mas sois concidadãos dos santos e membros da família de Deus, edificados sobre o alicerce dos Apóstolos e dos Profetas, com Cristo por pedra angular. N'Ele qualquer construção, bem ajustada, cresce para formar um templo santo no Senhor, em união com o Qual também vós sois integrados na construção, para vos tornardes, no Espírito, habitação de Deus” (Ef 2, 19-22). É Deus que, ao habitar entre os seus e nos seus corações, faz deles o Seu santuário vivo. O santuário de “pedras mortas” remete Àquele que nos faz santuário de “pedras vivas” (22). O santuário é o lugar do Espírito, porque é o lugar em que a fidelidade de Deus nos atinge e nos transforma. Vai-se ao santuário, antes de tudo, para invocar e acolher o Espírito Santo, para depois levar este Espírito a todas as acções da vida. Neste sentido, o santuário oferece-se como o apelo constante da presença viva do Espírito Santo na Igreja, que nos foi dado por Cristo ressuscitado (cf. Jo 20, 22), para glória do Pai. O santuário é um convite visível a haurir da invisível fonte de água viva (cf. Jo 4, 14); convite, cuja experiência pode ser feita sempre para viver na fidelidade à aliança com o Eterno na Igreja. 10. Lugar da Palavra A expressão “comunhão dos santos”, que se encontra na secção do Credo relativa à obra do Espírito, pode servir para exprimir com densidade um aspecto do mistério da Igreja, peregrina na história. O Espírito Santo, penetrando nos membros do corpo de Cristo, faz da Igreja o santuário vivo do Senhor, como recorda o Concílio Vaticano II: “A Igreja é também muitas vezes chamada construção de Deus (1 Cor 3, 9)... Esta construção recebe vários nomes: casa de Deus (1 Tm 3, 15), na qual habita a Sua família; habitação de Deus no Espírito (cf. Ef 2, 19-22); tabernáculo de Deus com os homens (Ap 21, 3); e sobretudo templo santo, o qual, representado pelos santuários de pedra e louvado pelos Santos Padres, é com razão comparado, na Liturgia à cidade santa, a nova Jerusalém. Nela, com efeito, somos edificados cá na terra como pedras vivas (cf. 1 Pd 2, 5)” (23). Neste Templo santo da Igreja o Espírito age de maneira especial através dos sinais da nova aliança, que o santuário guarda e oferece. Entre esses sinais põe-se a Palavra de Deus. O santuário é por excelência o lugar da Palavra, na qual o Espírito chama à fé e suscita a “comunhão dos fiéis”. Mais do que nunca é importante associar o santuário à escuta perseverante e acolhedora da Palavra de Deus, que não é qualquer palavra humana, mas o próprio Deus vivo no sinal da sua Palavra. O santuário, no qual a Palavra ressoa, é o lugar da aliança, onde Deus confirma ao Seu povo a Sua fidelidade, para iluminar o caminho e consolar. O santuário pode tornar-se um lugar excelente de aprofundamento da fé, num espaço privilegiado e num tempo favorável, diversos do ordinário; pode oferecer ocasiões de nova evangelização; pode contribuir para promover a religiosidade popular “rica de valores” (24), levando-a a uma consciência de fé mais exacta e amadurecida (25); pode facilitar o processo de inculturação (26). Será, portanto, necessário desenvolver nos santuários “uma catequese apropriada” (27), que, enquanto tiver em consideração os eventos que se celebram nos lugares visitados e a sua índole peculiar, não deverá esquecer a necessária hierarquia na exposição das verdades da fé, nem uma colocação no interior do itinerário litúrgico no qual a Igreja toda participa” (28). Neste serviço pastoral de evangelização e catequese, devem ser ressaltados os aspectos específicos conexos com a memória do santuário em que opera, com a mensagem particular a ele unida e com o “carisma” que o Senhor lhe confiou e que a Igreja reconheceu e com o património muitas vezes riquíssimo das tradições e dos costumes que nele se estabeleceram. Na mesma perspectiva de serviço à evangelização poder-se-à recorrer a iniciativas culturais e artísticas, tais como encontros, seminários, exposições, conferências, concursos e manifestações sobre temas religiosos. “No passado os nossos santuários estavam repletos de mosaicos, de pinturas, de esculturas religiosas para ensinar a fé. Teremos nós bastante vigor espiritual e génio para criar "imagens eficazes" e de grande qualidade, adequadas à cultura de hoje? Trata-se não só do primeiro anúncio da fé em um mundo com frequência muito secularizado, ou da catequese para aprofundar esta fé, mas também da inculturação da mensagem evangélica a nível de cada povo, de cada tradição cultural” (29). Por este motivo, é indispensável no santuário a presença de agentes pastorais capazes de iniciar o diálogo com Deus e a contemplação do mistério imenso que nos envolve e nos atrai. Deve ser sublinhada a relevância do ministério dos sacerdotes, dos religiosos e das comunidades responsáveis dos santuários (30), e como consequência a importância da sua formação específica, adequada ao serviço que devem prestar. Contemporaneamente, deve ser promovida a contribuição de leigos preparados para o empenho de catequese e de evangelização, conexo com a vida dos santuários, de maneira que também nos santuários se exprima a riqueza de carismas e de ministérios que o Espírito Santo suscita na Igreja do Senhor, e os peregrinos se beneficiem do multíplice testemunho dado pelos diversos agentes da pastoral. 11. Lugar do encontro sacramental Os santuários, lugares em que o Espírito fala também através da mensagem específica ligada a cada um deles e reconhecida pela Igreja, são também lugares privilegiados das acções sacramentais, especialmente da Reconciliação e da Eucaristia, nas quais a Palavra encontra a sua mais densa e eficaz actuação. Os sacramentos realizam o encontro dos vivos com Aquele que os torna continuamente vivos e os nutre com vida sempre nova na consolação do Espírito Santo. Eles não são ritos repetitivos, mas eventos de salvação, encontros pessoais com Deus vivo, que no Espírito atinge todos os que a Ele vão famintos e sedentos da Sua verdade e da Sua paz. Quando no santuário se celebra um sacramento, não “se faz” então alguma coisa, mas encontra-se Alguém, ou melhor esse Alguém é Cristo, que na graça do Espírito, Se faz presente para Se comunicar a nós e mudar a nossa vida, inserindo-nos de maneira sempre mais fecunda na comunidade da aliança, que é a Igreja. Lugar de encontro com o Senhor da vida, o santuário enquanto tal é sinal seguro da presença de Deus que actua no meio do Seu povo, porque nele, através da sua Palavra e dos Sacramentos, Ele se comunica a nós. Por isso, vai-se ao santuário como ao Templo de Deus vivo, ao lugar da aliança viva com Ele, a fim de que a graça dos Sacramentos liberte os peregrinos do pecado e lhes conceda a força de recomeçarem com vigor e alegria renovados no coração, para serem entre os homens testemunhas transparentes do Eterno. O peregrino chega muitas vezes ao santuário particularmente disposto a pedir a graça do perdão e deve ser ajudado a abrir-se ao Pai, “rico em misericórdia (Ef 2, 4)”(31), na verdade e na liberdade, com plena consciência e responsabilidade, de maneira que do encontro de graça brote uma vida verdadeiramente nova. Uma adequada liturgia penitencial comunitária poderá ajudar a viver melhor a celebração pessoal do sacramento da penitência, que “é o meio para saciar o homem com aquela justiça que provém do mesmo Redentor” (32). Os lugares em que se realiza essa celebração devem ser oportunamente dispostos para favorecer o recolhimento (33). Visto que “o perdão, concedido gratuitamente por Deus, implica como consequência uma real mudança de vida, uma eliminação progressiva do mal interior, um renovamento da própria existência”, os agentes pastorais dos santuários sustentem com todas as formas possíveis a perseverança dos peregrinos nos frutos do Espírito. Além disso, prestem especial atenção à oferta daquela expressão do “dom total da misericórdia de Deus”, que é a indulgência, mediante a qual “é concedida, ao pecador arrependido, a remissão da pena temporal devida pelos seus pecados já perdoados quanto à culpa” (34). Na profunda experiência “da comunhão dos santos”, que o peregrino vive no santuário, ser-lhe-á mais fácil compreender “quanto cada um pode ser útil aos outros - vivos ou defuntos - a fim de estarem de modo cada vez mais íntimo unidos ao Pai celeste” (35). Quanto à celebração da Eucaristia, deve-se recordar que ela é o centro e o ápice da inteira vida do santuário, evento de graça no qual “está contido todo o tesouro espiritual da Igreja” (36). Por este motivo, é oportuno que manifeste de modo especial a unidade que brota do sacramento eucarístico, reunindo numa mesma celebração os diversos grupos de visitantes. De igual modo, a presença eucarística do Senhor Jesus seja adorada não só individualmente, mas também por parte de todos os grupos de peregrinos com particulares actos de piedade preparados com grande solicitude, como acontece de facto em muitíssimos santuários, na convicção de que a “Eucaristia contém e exprime todas as formas de oração” (37). Sobretudo a celebração dos sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia dá aos santuários uma particular dignidade: “não são lugares do que é marginal e acessório mas, ao contrário, lugares do essencial, lugares aonde se vai para obter "a Graça", antes ainda que "as graças"” (38). 12. Lugar de comunhão eclesial Regenerados pela Palavra e pelos Sacramentos, aqueles que vieram ao santuário de “pedras mortas” tornam-se o santuário de “pedras vivas” e, assim, são capazes de fazer uma experiência renovada da comunhão de fé e de santidade que é a Igreja. Neste sentido, pode-se dizer que no santuário pode nascer de novo a Igreja dos homens vivos no Deus vivo. É nele que cada um pode redescobrir o dom que a criatividade do Espírito lhe fez para a utilidade de todos; e é também no santuário que cada um pode discernir e maturar a própria vocação e tornar-se disponível a realizá-la no serviço aos outros, especialmente na comunidade paroquial, ali onde se integram as diferenças humanas e se articulam na comunhão eclesial (39). Portanto, tenha-se uma cuidadosa atenção à pastoral vocacional e à da família, “lugar privilegiado onde se desenvolve toda a grande e íntima vicissitude de cada irrepetível pessoa humana” (40). A comunhão no Espírito Santo, realizada através da comunhão nas realidades santas da Palavra e dos Sacramentos, gera a comunhão dos Santos, o povo de Deus altíssimo, que se torna tal pelo Espírito Santo. De modo particular, a Virgem Maria, “figura da Igreja na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo” (41), venerada como é em tantos santuários (42), ajuda os fiéis a compreender e a acolher esta acção do Espírito Santo, que suscita a comunhão dos Santos em Cristo. A viva experiência da unidade da Igreja, que se faz nos santuários, pode além disso ajudar os peregrinos a discernir e a acolher o impulso do Espírito, que os impele de modo especial a orar e a trabalhar em vista da unidade de todos os cristãos (43). O empenho ecuménico pode encontrar nos santuários um lugar de excepcional promoção, porque neles se favorece aquela conversão do coração e a santidade da vida, que são “a alma de todo o movimento ecuménico” (44), e se experimenta a graça da unidade dada pelo Senhor. No santuário, além disso, pode realizar-se de maneira concreta a “comunicação nas coisas espirituais”, sobretudo na oração comum e no uso do lugar sagrado” (45), que favorece grandemente o caminho da unidade, quando é conduzida no máximo respeito dos critérios estabelecidos pelos Pastores. Esta experiência de Igreja deve ser particularmente sustentada por um adequado acolhimento dos peregrinos ao santuário, que tenha em conta o que é específico de cada grupo e de cada pessoa, as expectativas dos corações e as suas autênticas necessidades espirituais. No santuário aprende-se a abrir o coração a todos, em particular, a quem é diferente de nós: o hóspede, o estrangeiro, o imigrado, o refugiado, aquele que professa outra religião, o não-crente. Deste modo, o santuário, além de se oferecer como espaço de experiência de Igreja, torna-se um lugar de convocação aberta à humanidade inteira. Deve-se, de facto, observar que em não poucas ocasiões, seja por motivo de tradições históricas e culturais, seja por circunstâncias favorecidas pela moderna mobilidade humana, os crentes em Cristo se encontram, como companheiros de peregrinação aos santuários, tanto com os irmãos membros de outras Igrejas e Comunidades eclesiais, como com os fiéis de outras religiões. A certeza de que o desígnio de salvação também os abraça (46), o reconhecimento da sua fidelidade às próprias convicções religiosas, tantas vezes exemplar (47), a experiência vivida em comum de mesmos eventos da história, abrem um novo horizonte de urgência para os diálogos ecuménico e inter-religioso, que o santuário ajuda a viver diante do Mistério santo de Deus, que a todos acolhe (48). Todavia, é preciso ter presente que o santuário é o lugar de encontro com Cristo através da Palavra e dos Sacramentos. Por este motivo deve-se vigiar continuamente para evitar qualquer forma de possível sincretismo. Ao mesmo tempo, o santuário apresenta-se como sinal de contradição em relação a movimentos pseudo-espiritualistas, como por exemplo a New Age, porque a um genérico sentimento religioso baseado no potenciamento exclusivo das faculdades humanas, o santuário opõe o forte sentido da primazia de Deus e a necessidade de se abrir à Sua acção salvífica em Cristo, para a plena realização da existência humana.
III. O Santuário, profecia da pátria celeste
13. Sinal de esperança O santuário, memória da nossa origem junto do Senhor e sinal da presença divina, é também profecia da nossa Pátria última e definitiva: o Reino de Deus, que se realizará quando “Eu colocarei o meu santuário no meio deles para sempre”, segundo a promessa do Eterno (Ez 37, 26). O sinal do santuário não só nos recorda de donde viemos e quem somos, mas abre também o nosso olhar para discernir para onde caminhamos, rumo a que meta se dirige a nossa peregrinação na vida e na história. O santuário como obra das mãos do homem remete para Jerusalém celeste, nossa Mãe, a cidade que desce de Deus, toda adornada como uma esposa (cf. Ap 21, 2), santuário escatológico perfeito para onde a gloriosa presença divina está dirigida e é pessoal: “não vi templo algum na cidade, porque o Senhor, Deus Todo-Poderoso, é o seu Templo, assim como o Cordeiro” (Ap 21, 22). Naquela cidade-templo já não haverá lágrimas, nem tristeza, nem sofrimento, nem morte (cf. Ap 21, 4). Assim, o santuário oferece-se como um sinal profético de esperança, uma evocação do maior horizonte ao qual se abre a promessa que não engana. Nas contradições da vida, o santuário, edifício de pedra, torna-se um apelo à Pátria que se divisa, embora ainda não possuída, cuja expectativa entrelaçada de fé e de esperança sustenta o caminho dos discípulos de Cristo. Nesse sentido, é significativo que depois das grandes provações do exílio, o povo eleito tenha sentido a necessidade de exprimir o sinal da esperança edificando o Templo, santuário da adoração e do louvor. Israel fez todo o sacrifício possível a fim de que fosse restituído aos seus olhos e ao seu coração este sinal, que não só lhe recordasse o amor de Deus que o escolheu e vive no meio dele, mas lhe evocasse também a nostalgia da meta última da promessa, para a qual estão a caminho os peregrinos de Deus de todos os tempos. O evento escatológico sobre o qual se funda a fé dos cristãos, é a reconstrução do templo-corpo do Crucificado, efectuada com a Sua ressurreição gloriosa, penhor da nossa esperança (cf. 2 Cor 15, 12-28). Ícone vivo desta esperança é sobretudo a presença nos santuários dos doentes e daqueles que sofrem (49). A meditação da acção salvífica de Deus ajuda-os a compreender que, através dos seus sofrimentos, eles participam de maneira privilegiada na força sanadora da redenção realizada em Cristo (50) e proclamam diante do mundo a vitória do Ressuscitado. Ao lado deles, todos os que os acompanham e os assistem com caridade operosa são testemunhas da esperança do reino, inaugurado pelo próprio Senhor Jesus a partir dos pobres e dos que sofrem: “Ide contar a João o que vistes e ouvistes: Os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos ficam limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, a Boa Nova é anunciada aos pobres” (Lc 7, 22). 14. Convite à alegria A esperança que não engana (cf. Rm 5, 5) enche de alegria o coração (cf. Rm 15, 13). No santuário, o povo de Deus aprende a ser a “Igreja da alegria”. Quem entrou no mistério do santuário sabe que Deus já está em acção nesta vicissitude humana, que já agora, apesar das trevas do tempo presente, é o alvorecer do tempo que deve vir, que o Reino de Deus já está presente e, por isso, o nosso coração já pode estar repleto de alegria, confiança e esperança, não obstante o sofrimento, a morte, as lágrimas e o sangue, que cobrem a face da terra. O Salmo 122, um dos Salmos cantados pelos peregrinos a caminho rumo ao Templo, diz: “Exultei quando me disseram: "Iremos à casa do Senhor"...”. É um testemunho que evoca os sentimentos de todos aqueles que se dirigem para o santuário, antes de tudo a alegria do encontro com os irmãos (cf. Sl 133, 1). No santuário celebra-se a “alegria do perdão” que impele a “fazer festa e a alegrar-se” (Lc 15, 32), porque “há alegria entre os anjos de Deus por um só pecador que se arrepende” (Lc 15, 10). Ali reunidos à volta da mesma mesa da Palavra e da Eucaristia, experimenta-se a “alegria da comunhão” com Cristo, que foi sentida por Zaqueu quando O acolheu em sua casa “cheio de alegria” (Lc 19, 6). É esta a “alegria perfeita” (Jo 15, 11), que ninguém jamais poderá tirar (cf. Jo 16, 23) de um coração fiel que se tornou, ele mesmo, templo vivo do Eterno, santuário de carne da adoração d'Ele em espírito e verdade. Com o Salmista todo o peregrino é convidado a dizer: “Então entrarei no altar de Deus, o Deus da minha alegria jubilosa: e Vos cantarei ao som da harpa, ó Deus, Deus meu” (Sl 43, 4). 15. Apelo à contínua conversão e à renovação O sinal do santuário testemunha-nos que não somos criados para viver e morrer, mas para viver e vencer a morte na vitória de Cristo. Como consequência, a comunidade que celebra o seu Deus no santuário recorda que é Igreja peregrina rumo à Pátria prometida, em estado de contínua conversão e de renovação. O santuário presente não é ponto último de chegada. Ao saborearem nele o amor de Deus, os crentes reconhecem que não são como simples pessoas que chegaram, mas, pelo contrário, percebem com mais intensidade a nostalgia da Jerusalém celeste, o desejo do céu. Assim, os santuários fazem-nos reconhecer, por um lado, a santidade daqueles aos quais são dedicados e, por outro, a nossa condição de pecadores que devem começar, cada dia de novo, a peregrinação rumo à graça. Desse modo, eles ajudam-nos a descobrir que a Igreja “é simultaneamente santa e sempre necessitada de purificação” (51), porque os seus membros são pecadores. A Palavra de Deus ajuda-nos a manter vivo este apelo, de modo especial através da crítica dos profetas ao santuário reduzido a lugar de ritualismo vazio: “Quem reclamou de vós semelhantes dons, para pisardes os meus átrios? Não me ofereçais mais sacrifícios sem valor, o incenso é-me abominável, as neoménias, os sábados, as reuniões de culto, as festas e solenidades são-me insuportáveis... Cessai de fazer o mal, aprendei a fazer o bem, procurai o que é justo, socorrei o oprimido, fazei justiça ao órfão, defendei a viúva” (Is 1, 12-17). Sacrifício agradável a Deus é o coração contrito e humilhado (cf. Sl 51, 19-21). Como afirma Jesus: “Nem todo o que Me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos Céus, mas sim aquele que faz a vontade de Deus Pai que está nos Céus” (Mt 7, 21). A contínua conversão é inseparável do anúncio do horizonte, para o qual se estende a esperança teologal. Todas as vezes que a comunidade dos crentes se reúne no santuário, fá-lo para recordar a si mesma o outro santuário, a cidade futura, a habitação de Deus que queremos iniciar a construir já neste mundo e que não podemos deixar de desejar, cheios de esperança e conscientes das nossas limitações, empenhados em preparar, quanto mais possível, o advento do Reino. O mistério do santuário recorda assim à Igreja peregrina sobre a terra a sua condição de provisoriedade, o facto de estar encaminhada para uma meta maior, a pátria futura, que preenche o coração de esperança e de paz. Este estímulo à constante conversão na esperança, este testemunho da primazia do Reino de Deus, do qual a Igreja é início e primícias, deverão ser cuidados de modo particular na acção pastoral dos santuários, ao serviço do crescimento da comunidade e de cada um dos crentes. 16. Símbolo dos céus novos e da terra nova O santuário assume uma relevância profética, porque é sinal da maior esperança, que evoca a meta última e definitiva, onde todo o homem será plenamente homem, respeitado e realizado segundo a justiça de Deus. Por este motivo, ele torna-se o apelo constante a criticar a miopia de todas as realizações humanas, que quereriam impor-se como absolutas. O santuário pode ser considerado, portanto, como contestação de quaisquer presunção mundana, ditadura política, ou ideologia que pretende dizer tudo sobre o homem, porque nos recorda que há outra dimensão, a do Reino de Deus que deve vir em plenitude. No santuário ressoa constantemente o Magnificat, no qual a Igreja “vê debelado nas suas raízes o pecado do princípio da história terrena do homem e da mulher: o pecado da incredulidade e da pouca fé em Deus” e no qual “Maria proclama com vigor a não ofuscada verdade acerca de Deus: o Deus santo e omnipotente, que desde o princípio é a fonte de todas as dádivas, aquele que fez grande coisas” (52). No santuário é testemunhada a dimensão escatológica da fé cristã, isto é, a sua tensão para a plenitude do Reino. Sobre esta dimensão se funda e floresce a vocação ético-política dos crentes a serem, na história, consciência evangelicamente crítica das propostas humanas, que chama os homens ao destino maior, que lhes impede de se empobrecerem na miopia daquilo que é realizado, e os obriga a pôr-se incessantemente como fermento (cf. Mt 13, 33) para uma sociedade mais justa e mais humana. Precisamente porque é apelo à outra dimensão, a do “novo céu e da nova terra” (Ap 21, 1), o santuário estimula a viver como fermento crítico e profético neste céu e nesta terra presentes, e renova a vocação do cristão a viver no mundo, embora não seja do mundo (cf. Jo 17, 16). Essa vocação é rejeição das instrumentalizações ideológicas de qualquer sinal, para ser presença estimulante ao serviço da construção do homem todo em cada homem, segundo a vontade do Senhor. Nesta luz, compreende-se como uma atenção acção pastoral pode fazer dos santuários lugares de educação para os valores da ética, em particular a justiça, a solidariedade, a paz e a salvaguarda da criação, a fim de contribuir para o crescimento da qualidade da vida para todos.
Conclusão
17. Convergência de esforços O santuário é não só uma obra humana, mas também um sinal visível da presença de Deus invisível. Por esta razão, exige-se uma oportuna convergência de esforços humanos e uma adequada consciência dos papéis e das responsabilidades por parte dos protagonistas da pastoral dos santuários, precisamente para favorecer o pleno reconhecimento e o acolhimento fecundo do dom que o Senhor faz ao Seu povo, através de cada santuário. O santuário oferece um precioso serviço a cada uma das Igrejas particulares, cuidando sobretudo da proclamação da Palavra de Deus, da celebração dos sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia (53). Este serviço exprime e vivifica os vínculos históricos e espirituais que os santuários têm com as Igrejas, no meio das quais surgiram, e requer a plena inserção da acção pastoral realizada pelo santuário na dos Bispos, com a particular atenção àquilo que em maior medida atém ao “carisma” do lugar e ao bem espiritual dos fiéis, que para ali se dirigem em peregrinação. Sob a guia dos Bispos singularmente ou da inteira Conferência Episcopal, segundo os casos, os santuários definem a sua específica identidade pastoral e a sua estrutura de organização, que deve ser expressa nos próprios estatutos (54). Esta participação dos santuários na pastoral diocesana requer, aliás, que se proveja à preparação específica das pessoas e das comunidades que deverão ocupar-se deles. Igualmente importante será promover a colaboração e o associacionismo entre os santuários, de modo especial de uma mesma área geográfica e cultural, e a coordenação da sua acção pastoral com a do turismo e da mobilidade em geral. O multiplicar-se de iniciativas nesse sentido - dos congressos a nível mundial, aos encontros continentais e nacionais (55) - evidenciou a crescente afluência aos santuários, estimulou a tomada de consciência de novas urgências e favoreceu novas respostas pastorais aos mudados desafios dos lugares e dos tempos. O “mistério do templo” oferece, portanto, uma riqueza de estímulos, que devem ser meditados e feitos frutificar na acção. Enquanto memória da nossa origem, o santuário recorda a iniciativa de Deus e faz com que o peregrino a acolha com o sentido da admiração, da gratidão e do empenho. Enquanto lugar da Presença divina, ele testemunha a fidelidade de Deus e a Sua acção incessante no meio do Seu povo, mediante a Palavra e os Sacramentos. Enquanto profecia, ou seja, reenvio à Pátria celeste, recorda que nem tudo foi realizado, mas ainda deve realizar-se em plenitude segundo a promessa de Deus, para o Qual estamos a caminho; precisamente mostrando a relatividade de tudo aquilo que é penúltimo em relação à última Pátria, o santuário faz descobrir Cristo como Templo novo da humanidade reconciliada com Deus. Tendo presentes estas três dimensões teológicas do santuário, a pastoral dos santuários deverá cuidar da contínua renovação da vida espiritual e do empenho eclesial, numa intensa vigilância crítica a respeito de todas as culturas e realizações humanas, mas também num espírito de colaboração, aberto às exigências do diálogo ecuménico e inter-religioso. 18. Maria, santuário vivo A Virgem Maria é o santuário vivo do Verbo de Deus, a Arca da aliança nova e eterna. Com efeito, a narração do anúncio do anjo a Maria é modelada por Lucas sobre um fim contraponto com as imagens da tenda do encontro com Deus no Sinai e do templo de Sião. Assim como a nuvem cobria o povo de Deus em marcha no deserto (cf. Nm 10, 34; Dt 33, 12; Sl 91, 4) e a mesma nuvem, sinal do mistério divino presente no meio de Israel, pairava sobre a Arca da aliança (cf. Êx 40, 35), de igual modo a sombra do Altíssimo envolve e penetra o tabernáculo da nova aliança, que é o seio de Maria (cf. Lc 1, 35). Antes, o evangelista Lucas recorda de maneira subtil as palavras do anjo no cântico que o profeta Sofonias eleva na presença de Deus em Sião. A Maria é dito: “Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo... Não tenhas receio, Maria, ... Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho...” (Lc 1, 28-31). A Sião, o profeta diz: “Solta gritos de alegria, ó filha de Sião... O Senhor é rei de Israel no meio de ti (no teu seio)... Não temas Sião... O Senhor, teu Deus, está no meio de ti (no teu seio) como poderoso salvador” (Sf 3, 14-17). No “seio” (be qereb) da filha de Sião, símbolo de Jerusalém, sede do templo, manifesta-se a presença de Deus com o Seu povo; no seio da nova filha de Sião o Senhor estabelece o seu templo perfeito para uma comunhão plena com a humanidade, através do seu Filho, Jesus Cristo. O tema é reafirmado na cena da visita de Maria a Isabel. A pergunta que esta última dirige à futura mãe de Jesus, tem uma dimensão alusiva: “E donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor?” (Lc 1, 43). As palavras remetem, com efeito, para as de David diante da Arca do Senhor: “Como entrará a arca do Senhor em minha casa?” (2 Sm 6, 9). Maria é, por conseguinte, a nova Arca da presença do Senhor: entre outras coisas, aqui, pela primeira vez no Evangelho de Lucas, aparece o título Kyrios, “Senhor”, aplicado a Cristo, o título que na Bíblia grega traduzia o sagrado nome divino Jhwh. Assim como a Arca do Senhor ficou na casa de Obededon três meses, cumulando-a de bênçãos (cf. 2 Sm 6, 11), assim também Maria, a Arca viva de Deus, permaneceu três meses na casa de Isabel com a sua presença santificante (cf. Lc 1, 56). É iluminadora, a propósito, a afirmação de Santo Ambrósio: “Maria era o templo de Deus, não o Deus do templo, e por isso deve ser adorado somente Aquele que actuava no templo” (56). Por este motivo, “a Igreja mantém, em toda a sua vida, uma ligação com a Mãe de Deus que abraça, no mistério salvífico, o passado, o presente e o futuro; e venera-a como Mãe espiritual da humanidade e Advogada na ordem da graça” (57), como demonstra a presença dos numerosos santuários marianos espalhados pelo mundo (58), que constituem um autêntico
“Magnificat missionário” (59). Nos múltiplos santuários marianos, afirma o Santo Padre, “não apenas as pessoas individualmente ou grupos locais, mas por vezes inteiras nações e continentes procuram o encontro com a Mãe do Senhor, como Aquela que é feliz porque acreditou, que é a primeira entre aqueles que acreditaram e por isso se tornou a Mãe do Emanuel. Na mesma linha se enquadra o apelo da Terra da Palestina, pátria espiritual de todos os cristãos, porque foi a pátria do Salvador do mundo e da sua Mãe; de igual modo, o apelo dos numerosos templos que a fé cristã ergueu no decorrer dos séculos em Roma e no mundo inteiro; e, ainda, o apelo de centros como Guadalupe, Lourdes, Fátima e os outros espalhados pelos diversos países, entre os quais, como poderia eu deixar de recordar o da minha terra natal, Jasna Góra? Talvez se pudesse falar de uma "geografia" específica da fé e piedade marianas, a qual abrange todos estes lugares de particular peregrinação do Povo de Deus; este busca o encontro com a Mãe de Cristo, procurando achar no clima de especial irradiação da presença materna daquela que acreditou, a consolidação da própria fé” (60). Os responsáveis da pastoral do santuários prestem uma constante atenção a esta finalidade, a fim de que as diversas expressões da piedade mariana se integrem na vida litúrgica, que é o centro e a definição do santuário. Ao aproximar-se de Maria, o peregrino deve sentir-se chamado a viver aquela “dimensão pascal” (61), que gradualmente transforma a sua vida através do acolhimento da Palavra, da celebração dos sacramentos e do empenho a favor dos irmãos. Do encontro comunitário e pessoal com Maria, “estrela da evangelização” (62), os peregrinos serão impelidos, como os Apóstolos, a anunciar com a palavra e o testemunho de vida “as maravilhas de Deus” (Act 2, 11). Cidade do Vaticano, 8 de Maio de 1999. + Arcebispo STEPHEN FUMIO HAMAO Presidente + Arcebispo FRANCESCO GIOIA Secretário
1) PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A PASTORAL DOS MIGRANTES E ITINERANTES, A peregrinação no Grande Jubileu do Ano 2000 (11.4.1998), 32; o texto remete para Êx 27, 21; 29, 4.10-11.30.32.42.44. 2) Cf. o documento citado do PONT. CONSELHO e o da CONFERÊNCIA EPISCOPAL ITALIANA:
“Vinde, subamos ao monte do Senhor” (Is 2, 3). A peregrinação no limiar do terceiro milénio (29.6.1998). 3) Código de Direito Canónico, cân. 1230. 4) Ibid., cân. 1234 § 1. 5) JOÃO PAULO II, Homilia aos fiéis de Correintes, Argentina (9.4.1987). 6) JOÃO PAULO II, Angelus (12.7.1992). 7) CONC. ECUM. VAT. II, Const. dogm. Lumen gentium, 6. 8) Os diversos santuários que Israel teve (Sichem, Betel, Bersabeia, Silo) estão todos ligados às histórias dos Patriarcas e são memoriais do encontro com Deus vivo. 9) Epist. 3, 1: Sources Chrétiennes 363, 124. 10) Ibid., 3, 2: SCh 363, 126. 11) Nos santuários é possível “acender em cada lar o fogo do amor divino”, como TEODORETO DE CIRO observa a propósito da Igreja edificada em honra de Santa Tecla, (História Religiosa 29, 7: SCh 257, 239). 12) SANTO AGOSTINHO, Carta a Proba, 130, 8, 15. 13) SANTO AGOSTINHO, Comentário à carta de João, IX, 9. 14) CONC. ECUM. VAT. II, Const. dogm. Lumen gentium, 65. 15) CONC. ECUM. VAT. II, Const. dogm. Sacrosanctum concilium, 111. 16) Cf. JOÃO PAULO II, Homilia no santuário de Belém, Brasil (8.7.1980). 17) O Catecismo da Igreja Católica recorda: “Os santuários são para os peregrinos, em busca das suas fontes vivas, lugares excepcionais para se viver "em Igreja" as formas da oração cristã” (2691). 18) CONC. ECUM. VAT. II, Const. dogm. Lumen gentium, 54 e 65. 19) PSEUDO EUSÉBIO DE ALEXANDRIA, Sermão 16: PG 86, 416. 20) JOÃO PAULO II, na Carta Apostólica Dies Domini (31.5.1998), afirma: “Retomam-se também antigas formas de religiosidade, como por exemplo a peregrinação: muitas vezes os fiéis aproveitam o descanso dominical para irem aos Santuários, talvez mesmo com a família inteira, passar mais algumas horas de intensa experiência de fé. São momentos de graça que é preciso alimentar com uma adequada evangelização e guiar com verdadeira sabedoria pastoral” (n. 52). 21) Pensa-se ainda nos Salmos das ascensões ao templo de Jerusalém e na imagem de Deus guardião de Israel que eles oferecem (cf. em particular Sl 121 e 127). 22) GREGÓRIO DE NISSA escreve: “Onde quer que estejas, Deus virá a ti, se a morada da tua alma se encontrar tal que o Senhor possa habitar em ti” (Epistula 2, 16: SCh 363, 121). 23) CONC. ECUM. VAT. II, Const. dogm. Lumen gentium, 6. 24) PAULO VI, Exort. Apost. Evangelii nuntiandi (8.12.1975), 48. 25) Cf. JOÃO PAULO II, Homilia no santuário de Zapopán, México (30.1.1979). 26) Cf. COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL, Doc. Fides et inculturatio (1987), III, 2-7. 27) PONT. CONS. PARA A PASTORAL DOS MIGRANTES E ITINERANTES, Caminha rumo ao esplendor, o Senhor caminha contigo. Actas do I Congresso Mundial da Pastoral para os Santuários e as Peregrinações (Roma 26-29.2.1992), Documento final, 8, pág. 240. 28) A peregrinação no Grande Jubileu do Ano 2000, o.c., 34. 29) JOÃO PAULO II, Mensagem para o 50º aniversário da Organização Católica Internacional do Cinema (31.10.1978). 30) Cf. CONC. ECUM. VAT. II, Decr. Presbyterorum ordinis, 4. 31) JOÃO PAULO II, Carta Enc. Dives in misericordia (30.11.1980), 1. 32) JOÃO PAULO II, Carta Enc. Redemptor hominis (4.3.1979), 20. 33) Para as linhas fundamentais a respeito da catequese e da celebração do sacramento da Reconciliação, cf. JOÃO PAULO II, Exort. Apost. PÓS SINODAL Reconciliatio et Paenitentia (2. 12.1984). 34) JOÃO PAULO II, Bula de proclamação do Grande Jubileu do Ano 2000 Incarnationis mysterium (29.11.1998), 9. 35) Ibid., 10. Cf. PAULO VI, Const. Apost. Indulgentiarum doctrina (1.1.1967). 36) CONC. ECUM. VAT. II, Decr. Presbyterorum ordinis, 5. 37) Catecismo da Igreja Católica, 2643; cf. PAULO VI, Cart. Enc. Mysterium fidei (3.9.1965). CONGR. PARA O CULTO DIVINO, Instr. Inaestimabile donum (3.4.1980). 38) JOÃO PAULO II, Carta ao Arcebispo Pasquale Macchi por ocasião do VII Centenário do Santuário da Casa Santa de Loreto, (15.8.1993), 7. 39) Cf. CONC. ECUM. VAT. II, Decr. Apostolicam actuositatem, 10. 40) JOÃO PAULO II, Discurso na Audiência geral (3.1.1979); cf. CONC. ECUM. VAT. II, Decr. Apostolicam actuositatem, 11. 41) CONC. ECUM. VAT. II, Const. dogm. Lumen gentium, 63. 42) JOÃO PAULO II, afirma: “Os santuários marianos são como que a casa da Mãe, etapas de paragem e de repouso no longo caminho que leva a Cristo; são centros, onde, mediante a fé simples e humilde dos "pobres em espírito" (cf. Mt 5, 3), se retoma contacto com as grandes riquezas que Cristo confiou e deu à Igreja, em particular os Sacramentos, a graça, a misericórdia, a caridade para com os irmãos sofredores e doentes” (Angelus, 21.6.1987). 43) Cf. CONC. ECUM. VAT. II, Decr. Unitatis redintegratio, 4. 44) Ibid., 8. 45) PONT. CONS. PARA A UNIDADE DOS CRISTÃOS, Directório para a aplicação dos Princípios e das Normas sobre o Ecumenismo (25.3.1993), 29 e 103. 46) Cf. CONC. ECUM. VAT. II, Const. dogm. Lumen gentium, 16. 47) Cf. JOÃO PAULO II, Carta Enc. Redemptor hominis (4.3.1979), 6. 48) Cf. JOÃO PAULO II, Carta Apost. Tertio millennio adveniente (10.11.1994), 52-53. 49) Cf. JOÃO PAULO II, Homilia na S. Missa para os Doentes na Basílica de S. Pedro (11.2.1990). 50) Cf. CONC. ECUM. VAT. II, Const. dogm. Lumen gentium, 41; JOÃO PAULO II, Carta Apost. Salvifici doloris (11.2.1984). 51) CONC. ECUM. VAT. II, Const. dogm. Lumen gentium, 8; cf. Decr. Unitatis redintegratio, 6-7. 52) JOÃO PAULO II, Carta Enc. Redemptoris Mater (25.3.1987), 37. 53) Mas é pastoralmente oportuno que os sacramentos do Baptismo, da Confirmação e do Matrimónio sejam celebrados nas paróquias de residência, ajudando os fiéis a compreender o significado comunitário destes sacramentos; cf. JOÃO PAULO II, Exort. Apost. Christifideles laici (30.12.1988), 26. 54) Código de Direito Canónico, cân. 1232. Nesse sentido, a Conferência Episcopal Francesa, por exemplo, elaborou uma Carta dos Santuários. 55) O Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes trabalha nesta direcção, como demonstra a organização dos dois Congressos Mundiais (Roma, 26-29.2.1992 e Éfeso, Turquia, 4-7.5.1998) e dos dois a nível regional (Máriapócs, Hungria, 2-4.9.1996 e Pompeia, Itália, 17-21.10.1998), cf. relativas Actas. 56) De Spiritu Sancto III, 11, 80. 57) JOÃO PAULO II, Carta Enc. Redemptoris Mater (25.3.1987), 47. 58) JOÃO PAULO II recorda: “Sei muito bem que cada povo, cada País, e também cada diocese tem os seus lugares santos em que o coração de todo o povo de Deus pulsa, poder-se-ia dizer, de modo mais vivo: lugares de um encontro especial entre Deus e os seres humanos; lugares em que Cristo habita de maneira especial no meio de nós. Se estes lugares são com tanta frequência consagrados à sua Mãe, isto revela-nos de forma mais completa a natureza da sua Igreja”. Homilia no santuário de Knock, Irlanda (30.9.1979). 59) JOÃO PAULO II, Mensagem ao III Congresso missionário Latino-americano (Bogotá, 6.7.1987). 60) JOÃO PAULO II, Carta Enc. Redemptoris Mater (25.3.1987), 28. 61) CONGR. PARA O CULTO DIVINO, Carta circular aos Presidentes das Comissões Litúrgicas nacionais Orientações e propostas para a celebração do Ano mariano (3.4.1987), 78. Notiziae 23 (1987), pág. 386. 62) Paulo VI, Exort. Apost. Evangelii nuntiandi (8.12.1975), 82.
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