PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A FAMÍLIA IV ENCONTRO MUNDIAL DAS FAMÍLIAS
CONCLUSÕES DO CONGRESSO TEOLÓGICO-PASTORAL Manila, Filipinas
Estamos a celebrar a família cristã como "boa nova para o terceiro milénio", mas onde é que podemos encontra uma "boa nova", nos primeiros anos deste novo milénio? Ameaçadas pelo terrorismo, pela guerra, pela fome e pela incerteza económica, muitas pessoas vivem no medo. Este medo é frequentemente sentido pelas famílias; contudo, é precisamente no seio da família que podemos encontrar a "boa nova" de um amor que vence o medo e traz esperança ao mundo. Afirmamos que a própria família cristã é uma grande portadora da boa nova de Jesus Cristo para este milénio. Ela é verdadeiramente um agente de evangelização (cf. Papa João Paulo II, Familiaris consortio, 52). Além disso, mais do que um simples objecto do interesse da pastoral da Igreja, a família é também um dos agentes de evangelização mais eficazes da Igreja (cf. Papa João Paulo II, Ecclesia in Asia, 46). A esperança de Cristo pode oferecer uma visão para o futuro enquanto, através da família, sobressai nalguns sectores específicos. 1. Boa nova para a vida Como santuário da vida, a família diz "sim" à vida. Cada pessoa e cada família, através da qual passa a própria vida (cf. Ecclesia in Asia, 46) são simplesmente administradoras da vida e têm a responsabilidade de a proteger e promover desde o princípio até ao seu termo. No seio da família, os indivíduos cujas vidas são ameaçadas encontram alívio, segurança e cuidado amoroso. Por conseguinte, as famílias são testemunhas de Cristo e missionárias de amor e de vida (cf. Familiaris consortio, 54). Uma vez mais, afirmamos o direito inalienável à vida de todos os seres humanos. Assim, exortamos todos os políticos a defenderem a vida humana desde o seu início, a partir do momento da sua concepção até à morte natural. Pedimos aos legisladores, de modo particular, que respondam positivamente à recente Nota da Congregação para a Doutrina da Fé, sobre as suas responsabilidades de cristãos e de cidadãos. As práticas contrárias à vida, como o aborto, as experiências embrionais, a clonagem e a eutanásia não podem ser toleradas em qualquer sociedade livre que defenda a família. 2. Boa nova para a sociedade A sociedade justa depende do bem-estar da sua comunidade básica, da sua célula vital essencial, a família. Contudo, hoje em dia graves problemas éticos e sociais afligem numerosas famílias. As nossas principais preocupações são as seguintes: as famílias divididas e enfraquecidas, quando os seus membros são obrigados a emigrar por motivos de trabalho; A visão de uma sociedade favorável à família desafia as próprias famílias a tomarem iniciativas, a lutarem em favor de políticas sociais e por uma legislação que promova e salvaguarde os direitos da família, uma justa distribuição dos recursos e a ajuda às pessoas mais vulneráveis e indefesas. 3. Boa nova para os pobres Afirmamos a nossa solidariedade para com as famílias mais pobres. Com muita frequência, são precisamente as famílias mais pobres que manifestam uma incrível determinação e energia, no momento de enfrentar os desafios (cf. Familiaris consortio, 43). Educar para a maternidade e paternidade responsáveis, com a ajuda de medidas económicas e legislativas adequadas, contribui para a luta contra a pobreza que, em muitos casos, é humilhante. Rejeitamos com firmeza a prática do controlo demográfico, quer ele seja promovido por agências internacionais, governamentais ou particulares. As famílias mais pobres sofrem o impacto dos programas e das políticas de controlo demográfico, que absorvem grandes quantias de dinheiro, gastos para a promoção do aborto, da esterilização e da contracepção. Exortamos os governos a fim de que se dediquem a políticas concretas que favoreçam as famílias mais pobres, em termos de assistência à saúde, educação, reforma agrária, emprego e habitação. Propomos como uma alternativa autêntica ao controlo demográfico, que não corresponde à verdade acerca do homem e da mulher, uma regulação natural da fertilidade, que não apenas ajude os casais a distanciarem os nascimentos de maneira moral e sadiamente correcta, mas também leve o marido e a mulher a uma partilha mútua e à igualdade. 4. Boa nova para os jovens As crianças e os jovens reuniram-se para celebrar e aprofundar a sua fé num Congresso de Filhos e de Filhas, que foi organizado paralelamente a este Congresso teológico-pastoral. É com alegria que reconhecemos o seu papel vital como membros integrantes das nossas famílias e como membros activos da Igreja viva. Confirmamos os direitos e a dignidade de todas as nossas crianças. Elas nunca deveriam ser esquecidas, nem abandonadas nas ruas. Pelo contrário, devem ser protegidas, especialmente quando são ameaçadas pela exploração através da prostituição, da pornografia, do trabalho infantil, do tráfico de estupefacientes, da adopção homossexual e da "educação sexual" imoral. Uma nova ameaça contra as crianças é representada pela utilização imprópria da Internet, quando ela se introduz no seio da vida familiar e debilita os direitos e os deveres dos próprios pais. 5. Boa nova para o mundo Transmitindo a boa nova de Jesus Cristo, a família cristã alcança todos os povos. Ela é o lugar "onde a verdade sobre o Evangelho constitui a regra de vida e o dom que os seus membros oferecem à comunidade mais alargada" (Ecclesia in Asia, 46). A família desempenha a sua missão em numerosas e diferentes culturas em toda a terra, mas o futuro da humanidade passa sempre pela família. Por conseguinte, fazemos um apelo a fim de que se realizem estratégias mais criativas para a evangelização, de maneira especial em consideração das rápidas transformações culturais. Além disso, realçamos a necessidade de respeitar as culturas das populações indígenas, cujos valores familiares muitas vezes preparam o caminho para a palavra de Deus. Cada "Igreja doméstica" é uma cidadela de fé, não apenas nas sociedades secularizadas, mas também nos países em que os cristãos ainda sofrem em virtude da profissão da sua fé. Expressamos a nossa solidariedade para com as famílias cristãs que são perseguidas, onde a liberdade religiosa é ignorada ou deturpada pela violência e a discriminação. A família é chamada a ser uma comunidade de paz. Por isso, expressamos a nossa solidariedade para com as famílias que vivem em nações e regiões ameaçadas pela guerra, onde as famílias enfrentam a perspectiva de se tornarem vítimas inocentes dos vários conflitos. 6. Boa nova para a Igreja Como a menor de todas as comunidades cristãs, a "Igreja doméstica" constitui a célula viva de toda a Igreja, enquanto oferece uma visão da evangelização e do crescimento espiritual dentro da Igreja. Exortamos todos os responsáveis pelos planos pastorais a fazerem da família a sua prioridade, a delinearem as perspectivas e os planos pastorais em cada diocese e paróquia, à volta da família. A família manifesta-se não meramente como um sujeito passivo da evangelização e da atenção, mas como um sujeito activo, na realidade, como um agente na missão de Cristo na sua Igreja. A família precisa de voltar a descobrir o sentido de ser um "mistério". Uma espiritualidade mais profunda da família deriva da Palavra de Deus e da sagrada Eucaristia. Alimentadas pelo Verbo, as famílias são atraídas para o Mistério pascal do sacrifício e do banquete de Cristo. Aqui, o amor abnegado de Jesus Cristo, Esposo da Igreja, motiva o amor nupcial e familiar. Reconhecemos e valorizamos o papel desempenhado pelos novos movimentos religiosos, que se caracterizam pelo seu compromisso em prol da família. Revigorados pelo poder o Espírito Santo, dotados das suas espiritualidades distintivas, os movimentos podem mostrar-nos como evangelizar na e através da família. A família católica vai ao encontro dos outros cristãos e membros de outras religiões. A união da família pode inspirar o caminho ecuménico da unidade dos cristãos e do diálogo inter-religioso. Confirmamos a necessidade de uma cooperação mais concreta entre os cristãos e as pessoas de boa vontade, em ordem a enfrentar os desafios que se apresentam a todas as famílias. Fomos honrados pela presença de representantes de outras Igrejas e movimentos eclesiais, que participaram no nosso Encontro Mundial, compartilhando connosco a mesma visão da família cristã, como portadora da boa nova. Por fim, agradecemos ao Santo Padre, o Papa João Paulo II, a sua orientação e o seu encorajamento. Além disso, agradecemos ao Arcebispo de Manila, Cardeal Jaime Sin, que nos recebeu a todos aqui, assim como estamos gratos ao Pontifício Conselho para a Família e à Conferência Episcopal das Filipinas, por terem organizado este Encontro Mundial. Vivendo em unidade e através do amor abnegado, as famílias cristãs constituem um reflexo de Deus e da Santíssima Trindade. Foi numa família que o Filho se fez carne no meio do nosso mundo, mediante o poder do Espírito Santo. Cotemplando este mistério, encomendamos confiadamente todas as nossas famílias à amável protecção de Maria, Rainha da Família, e a São José, seu esposo. E rezamos para que a boa nova de Jesus Cristo, que as famílias cristãs difundem através do testemunho e da palavra, possa afastar o medo e transmitir a esperança a este nosso mundo.
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