Ao dar graças a Deus, juntamente convosco, começando pelo Eminentíssimo e Venerado Irmão Arcebispo Cardeal Crescenzio Sepe, pelo grande dom da nova beata Maria Josefina de Jesus Crucificado à Igreja de Nápoles, volta à mente a reflexão de Thomas Merton: "Não há membro da Igreja que não deva algo ao Carmelo" (Ascesa alla verità, Milão 1955, 12), que neste rito solene encontra ulterior confirmação. De facto, a Igreja de Nápoles deve hoje ao Carmelo, lugar e escola de santidade, não só o dom precioso de uma sua filha elevada às honras dos altares, mas também a mais competente exortação à vocação universal à santidade, ao seu insubstituível valor, à sua perene actualidade.
Como representante do Sumo Pontífice Bento XVI para presidir à hodierna beatificação, sinto toda a honra e a alegria em constatar as maravilhosas obras de Deus, ainda melhor ao admirar as suas obras-primas, que são os santos e beatos que esta veneranda arquidiocese, com o seu número considerável e crescente de beatos e santos, oferece à admiração de toda a Igreja.
São muito oportunas as palavras grandes e bíblicas do Servo de Deus, o Papa Paulo VI, dirigidas exactamente aos carmelitas: "Vós sois "filhos de santos", olhai atentamente para a imensa herança espiritual, que vos foi entregue..." (Audiência geral de 11 de Julho de 1973). Palavras que me apraz aplicar aos homens e às mulheres, gerados na fé, nesta Igreja napolitana. Sim, queridos napolitanos, também vós sois filhos de santos: deles aprendemos a elevar, até às realidades celestes, os horizontes da esperança, sem eliminar o empenho à edificação da cidade terrena, mesmo com todas as suas problemáticas, urgentes e inquietadoras.
Quanto mais nós contemplamos o Senhor, no meio dos seus santos, entrando em viva comunhão com Ele, mais forte se torna em nós a esperança do empenho efectivo e eficaz para melhorar e mudar o mundo circunstante. Em particular, ao olhar para a história e para a mensagem da beata Josefina, compreendemos melhor a exigência iniludível da dimensão contemplativa, na vida de cada cristão. O seu exemplo indica-nos também a estrada concreta para a cultivar.
Depois, a sua existência foi uma verdadeira escola de caridade, quer para as irmãs de hábito, quer para o vasto campo de apostolado, por ela, cultivado mesmo sendo monja de clausura, foi unicamente para fazer amar mais o Senhor. De facto, ela, como Santa Teresinha do Menino Jesus, não quis "ser uma santa pela metade" (Teresa do M.J., Obras completas, cit., 91 e 942), também com as suas peculiaridades e os seus dons místicos, com várias experiências espirituais fora do comum. Tudo se encontra resumido numa frase que constituiu o programa unitário de toda a vida da beata: "Quero viver alimentando-me da vontade de Deus... Quero que a minha vontade seja uma só massa com a vontade de Deus".
E ainda no seu diário: "Desejo fervorosamente viver na vontade de Deus, sei que desse modo se fazem os santos, e quero tornar-me santa para dar glória a Deus". Programa que deve ser a grande aspiração de todos os cristãos, em plena conformidade com a palavra de Cristo, Único e Supremo modelo: "O meu alimento é fazer a vontade do Pai" (cf. Jo 4, 34), porque: "Quem faz a vontade de Deus permanece eternamente" (1 Jo 2, 17).
Concluo com a grande honra de vos transmitir a particular bênção apostólica e a saudação de Bento XVI que, como vos demonstrou, conserva Nápoles no seu coração, esta Igreja, o seu venerado pastor e todos os componentes do Povo de Deus.
Confio-vos à poderosa intercessão da nova beata, a fim de que a todos proteja e conduza ao caminho da santidade.
Nápoles, 1 de Junho de 2008
José Card. SARAIVA MARTINS
Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos