1. Vim a Linz com uma alegria no coração deveras grande, pela honra que o Santo Padre Bento XVI quis afectuosamente conceder-me, ao designar-me para presidir ao solene rito da Beatificação do servo de Deus Franz Jägerstätter como seu representante. Apraz-me manifestar-vos a alegria, muito particular, por ver hoje inscrito no álbum dos beatos um leigo, casado, pai de família.
O servo de Deus Giorgio La Pira, popularmente conhecido na Itália, mas não só, como o "santo presidente da câmara municipal" de Florença, com o traço profético que jamais falta aos santos, escreveu há 50 anos, embora num contexto muito diferente e distante do actual:
"A santidade do nosso século terá esta característica: será uma santidade dos leigos. Cruzamos pelas ruas com quem daqui a cinquenta anos talvez esteja sobre os altares: pelas ruas, nas fábricas, no parlamento, nas aulas universitárias" (1).
Naquela época este desejo parecia quase impossível de ser concretizado, hoje vemos que devido ao último Concílio, e à sua generosa actuação através do ministério petrino de João Paulo II, são factos que se realizaram, não só com palavras, e continuam a sê-lo com o elevado magistério de Bento XVI.
2. A peculiaridade do nosso beato está contida no seu martírio (1943), inserido no contexto histórico particularmente trágico do período do III Reich, durante a segunda guerra mundial. O beato Franz era um homem do nosso tempo, um homem normal, com alguns defeitos e até por um certo período, com um estilo de vida bastante leviano e mundano. Contudo, seguindo a sua vocação e com a graça de Deus conseguiu colocar a vontade de Deus acima de tudo, chegando, após longas lutas internas a uma vida extraordinária de testemunho cristão. Pelas suas convicções de fé enfrentou a morte. O seu caminho é um desafio e um encorajamento para todos os cristãos que podem tomar o seu exemplo, para viver com coerência e empenho radical a própria fé, também até às extremas consequências se for necessário. Os beatos e os santos tem dado sempre o exemplo do que significa e representa ser cristão, também em particulares momentos concretos da história.
Num tempo como o nosso, no qual não faltam os condicionamentos e até a manipulação das consciências e das inteligências, às vezes através de formas sub-reptícias que se servem das modernas e mais avançadas tecnologias, o testemunho do beato Franz, da sua indómita coragem e da sua firme e forte coerência é um importantíssimo exemplo.
3. São comovedoras as palavras contidas na última carta enviada à sua esposa Franziska Schwaniger, em especial quando afirma: "Dou graças também ao nosso Salvador porque pude sofrer por Ele. Confio na sua infinita misericórdia; espero que Ele me perdoe tudo e não me abandone na minha última hora... Observai os mandamentos e, com a graça de Deus, ver-nos-emos em breve no Céu!" (Doc. 21, Summ., 187-188).
São palavras que nos levam à essência, pois os santos sabem sempre ir ao essencial, que aqui é reconduzível àquele "serva mandata", "cumpre os mandamentos" (cf. Mt 19, 17) com o qual Jesus responde a quem quer saber o que deve fazer para ter a vida eterna.
Ao invocar a protecção especial do novo beato, o mártir Franz Jägerstätter, sobre esta venerada igreja diocesana de Linz, apraz-me transmitir a este querido povo de Deus, iniciando pelo seu venerado pastor D. Ludwig Schwarz, pelos presbíteros, diáconos, religiosos e religiosas e todos os irmãos e irmãs na fé, a especial Bênção Apostólica do Santo Padre Bento XVI, a fim de que vos acompanhe no caminho rumo à santidade, à qual todos somos chamados.
(1). L'Osservatore Romano, 6-7 de Setembro de 2004, pág.9.