CONGREGAÇÃO PARA A EVANGELIZAÇÃO DOS POVOS INTERVENÇÃO DO CARDEAL CRESCENZIO SEPE
I. Premissa Em nome de toda a Congregação missionária, aqui representada também por Suas Excelências D. Robert Sarah, Secretário, e D. Albert Malcolm Ranjith, Secretário Adjunto, e pelo Rev.do Pe. Massimo Cenci, P.I.M.E., Subsecretário, saúdo-vos a todos, caros representantes dos mass media e agradeço-vos a vossa presença aqui. Antes de vos apresentar brevemente o conteúdo da Mensagem para o próximo Dia Missionário Mundial que, como bem sabeis, vai ser celebrado no penúltimo domingo do mês de Outubro, desejo informar-vos que, a partir deste ano, o Santo Padre desejou antecipar a divulgação do seu texto. Com efeito, até ao ano passado, ele era publicado na Solenidade do Pentecostes. Doravante, será divulgado na Festa do Baptismo do Senhor. A antecipação tem a finalidade de permitir que as Dioceses do mundo inteiro, as Conferências Episcopais internacionais e nacionais, as Famílias religiosas e os Institutos missionários que trabalham pelo mundo fora disponham da Mensagem do Papa a partir do mês de Janeiro, de maneira a poderem estudá-la e inseri-la na sua própria realidade, integrando-a harmoniosamente no serviço pastoral que cada Organismo é chamado a prestar no âmbito da sua própria competência. Com esta iniciativa, deseja evitar-se que a Missio ad gentes seja vivida em termos de excepcionalidade ou de extraordinariedade. Não se pode permitir, sem atraiçoar o Evangelho de Jesus Cristo, que a dimensão missionária seja vista como uma espécie de Gata Borralheira da experiência de fé, ou da prática pastoral dos Bispos e dos Sacerdotes. Com efeito, a Missão constitui uma parte fulcral do itinerário de cada Comunidade cristã: "A Igreja é por sua natureza missionária, porque o mandato de Jesus Cristo não é algo contingente e exterior, mas alcança o próprio coração da Igreja. Por isso, toda a Igreja e cada uma das Igrejas é enviada ad gentes" (Redemptoris missio, 62). Com efeito, o mandato missionário constituiu a preocupação de Jesus, antes do seu regresso definitivo para o Pai. Na Galileia, no derradeiro encontro com os Apóstolos, depois da Ressurreição, Cristo ordenou: "Ide, pois, e ensinai todas as nações, baptizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a cumprir tudo quanto vos tenho mandado" (Mt 28, 19-20). Este é o testamento, que o Senhor entregou à Igreja e que nela viveu nos dois mil anos da sua história. Assim, em obediência ao Senhor Jesus e impelidos pelo Espírito Paráclito, os primeiros discípulos do Senhor partiram para todas as direcções do mundo então conhecido. Ao longo destes vinte séculos, no tempo da provação, plêiades de mártires permaneceram fiéis à Boa Nova, recordando-se das palavras que o Apóstolo das Nações dirigiu ao discípulo Timóteo: "Não te envergonhes, portanto, do testemunho de nosso Senhor, nem de mim, seu prisioneiro; participa comigo nos trabalhos do Evangelho, fortificado pelo poder de Deus" (2 Tm 1, 8). E hoje, no início do século XXI, a Igreja católica volta a partir com confiança, para percorrer um novo trecho do caminho ao encontro do mundo, também porque a senda ainda é longa e repleta de dificuldades. Trata-se de um itinerário cheio de mistérios, mas fascinante; insidioso, mas seguro, porque é acompanhado por Maria Santíssima, Estrela da Evangelização. II. Conteúdo da mensagem Neste ano, o Dia Missionário Mundial, que se celebra no domingo 19 de Outubro, coincidirá também com a comemoração do XXV aniversário de Pontificado do Papa João Paulo II, com a Beatificação de Madre Teresa de Calcutá e com o encerramento do Ano do Rosário. Nesta perspectiva, o Santo Padre desejou indicar a "Oração do Rosário" como um tema de reflexão para o Dia Missionário Mundial. Por conseguinte, esta proposta insere-se no itinerário desejado pelo Papa para que se viva a devoção do Rosário: "Um ano a ser vivido sob o olhar daquela que, segundo o arcano desígnio divino, com o seu "sim", tornou possível a salvação da humanidade". E o Dia Missionário Mundial poderá imprimir um impulso generoso neste compromisso de oração da Comunidade eclesial. As finalidades, indicadas pela Mensagem do Papa, são três: "Uma Igreja mais contemplativa", "uma Igreja mais santa" e "uma Igreja mais missionária", sempre acompanhada da Virgem Santíssima, Estrela da Nova Evangelização, aurora luminosa e guia segura do nosso caminho (cf. Mensagem, n. 1). 1. Contemplação A recitação quotidiana do Rosário abre, e torna praticáveis, aos arautos do Evangelho, os caminhos da Missão. Com efeito, o Rosário não é senão uma peregrinação pelos caminhos da salvação, percorrida com Maria Santíssima para contemplar, com os seus olhos de crente, o verdadeiro rosto de Jesus Cristo. Maria oferece-se como missionária e faz-se "narradora" do Evangelho de Jesus Cristo, a partir da singular experiência de Deus, que Ela teve a ventura de viver, como mulher de fé e como Mãe de Deus. 2. Santidade Maria Santíssima é um autêntico "modelo" de fé. Com efeito, nela não só as palavras do Evangelho encontraram um eco extraordinário, mas Ela mesma se tornou, por vocação, o verdadeiro tabernáculo de Deus. Vivendo ao seu lado, em contemplação dos mistérios da salvação, a Igreja torna-se santa. Santidade e missão afirma o Papa são um binómio inseparável da vocação de cada baptizado. Contemplando os mistérios do Rosário voltando a percorrer o itinerário da economia salvífica o missionário é encorajado a seguir Cristo e a compartilhar a sua vida. Analogamente ao mistério de encarnação vivido em Maria, Cristo torna-se em cada um dos crentes "carne da sua carne", a ponto de levar o Apóstolo Paulo a dizer: "Já não sou eu que vivo. É Cristo que vive em mim" (Gl 2, 20). 3. Missionariedade Por fim, Maria torna a Igreja mais missionária. Foi Ela que pediu aos servidores: "Fazei o que Ele vos disser" (Jo 2, 5). Ela põe Jesus em acção e apressa o passo dos missionários. Mas é sempre Maria que, com a sua presença no Cenáculo, prepara os Apóstolos para o acontecimento do Pentecostes e os encoraja a "partir". Ela anima e acompanha não apenas os missionários individualmente, mas toda a Igreja cristã a ir e a propagar o Evangelho. Se a fé não for transmitida, apaga-se. E, hoje mais do que nunca, as nossas comunidades cristãs têm necessidade de "narrar-testemunhar" a fé. III. Qual é a realidade contemporânea da Igreja em "missão"? Deixando aos meus colaboradores a apresentação da vida da Igreja nos vários Continentes, onde se desempenha a actividade missionária, desejo apresentar-vos alguns dados que, sem a pretensão de querer exprimir todo o compromisso e o zelo dos trabalhadores do Evangelho, ajudam a intuir a orientação da difusão do Evangelho no mundo inteiro. Estes dados dizem respeito de modo específico ao mundo da Missio ad gentes. Dados da "Propaganda Fide" Circunscrições Eclesiásticas confiadas à Congregação missionária No dia 31 de Dezembro de 2002, o total das Circunscrições Eclesiásticas (Arquidioceses, Dioceses, Vicariatos Apostólicos, Prefeituras Apostólicas, Missio Sui Iuris, Administrações Apostólicas, Ordinariados Militares e Abadias Territoriais) que dependiam da "Propaganda Fide" eram 1.075, o que corresponde a quase 39% de todas as Circunscrições Eclesiásticas da Igreja católica espalhada pelo mundo. Delas, 478 estão na África; 85 na América; 453 na Ásia; 14 na Europa; e 56 na Oceânia. As Arquidioceses são 177; as Dioceses, 755; os Vicariatos Apostólicos, 74; as Prefeituras Apostólicas, 45; as Missio Sui Iuris, 11; as Administrações Apostólicas, 6; os Ordinariados Militares, 6; e as Abadias Territoriais, 1. Pessoal Apostólico Ao serviço da Missio ad gentes, trabalham cerca de 80.000 sacerdotes, 52.000 dos quais pertencem ao clero diocesano; 33.000 são religiosos. No que diz respeito à distribuição geográfica, 27.000 trabalham na África; 44.000, na Ásia; 6.000, na América; 5.000, na Oceânia; e 3.000, na Europa. Além disso, a sua actividade missionária é coadjuvada por 28.000 religiosos não sacerdotes; 450.000 religiosas; e 1.650.000 catequistas. Seminários maiores e menores De resto, nos seus próprios territórios a "Propaganda Fide" acompanha a formação espiritual e académica de 280 Seminários maiores interdiocesanos e de 110 Seminários menores, com um total de 65.000 seminaristas maiores e 85.000 seminaristas menores, assegurando-lhes também o devido subsídio económico. Outro dado diz respeito às Ordenações sacerdotais que, durante a última década, foram cerca de 1.900 por ano. Actividades sócio-assistenciais Por fim, é necessário recordar também o compromisso com vista à construção de inúmeras igrejas-capelas (sobretudo para as pequenas comunidades espalhadas pelas áreas rurais). Acrescentem-se a tudo isto as actividades educativas (cerca de 42.000 escolas); as actividades de assistência à saúde (1.600 hospitais, mais de 6.000 dispensários e 780 leprosários); e as várias actividades caritativas e sociais (12.000 iniciativas). Actividades em Roma A este imenso campo de obras missionárias devem ser somadas algumas instituições e iniciativas da Congregação missionária em Roma: a Pontifícia Universidade Urbaniana (a única Universidade exclusivamente missionária no mundo, com cerca de 1.300 alunos e 110 professores); o Pontifício Colégio São Pedro e o Pontifício Colégio internacional São Paulo (dois Institutos para sacerdotes provenientes dos países de missão, que neles completam os seus estudos superiores; actualmente, há 340 alunos inscritos); o Pontifício Colégio Urbano, para seminaristas (140 estudantes); o "Foyer" Paulo VI, para a formação de irmãs (80 religiosas); o Colégio "Mater Ecclesiae", de Castelgandolfo, para a formação de catequistas (90 leigos); e o Centro Internacional de Animação Missionária C.I.A.M., para a Missio ad gentes. Todavia, o dado mais importante e significativo diz respeito ao número dos missionários (Bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos) que testemunham até com a sua própria vida, a fidelidade a Cristo e à Igreja. Segundo as estatísticas, o número destas testemunhas nos últimos dez anos é de cerca de mil pessoas. Porém, este número é sem dúvida aproximativo, porque se refere exclusivamente a alguns países, aos casos certos e dos quais se recebeu alguma notícia. IV. Conclusão Como podeis constatar, diante de nós existem campos de trabalho em fermento; estratégias e programas missionários. Os desafios que se apresentam ao Evangelho são numerosos e sempre novos. A messe ainda é grande e exige trabalhadores zelosos e generosos, prontos para partir. Precisamente porque há tanto trabalho, os missionários e as missionárias são convidados a unir as mãos, a fixar o seu olhar em Maria e a recitar o Rosário. Também nisto está o segredo da Missão. No vasto mar aberto da Missão, a Igreja iça as suas velas, impelida pelo vigor do Espírito Santo, orientada pela Mãe do Salvador, Estrela da Evangelização.
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