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MADRE MARIA LUISA MERKERT (1817-1872)
Aos trinta e três anos, em 1850, tendo retornado à sua cidade natal de Nysa, na Silésia, depois de um longo caminho espiritual marcado por obstáculos, incompreensões e contrariedades, Maria Merkert encontrou-se totalmente só e cercada de olhares desconfiados. Mas aquele era o momento designado pela Providência Divina para a actuação do extraordinário carisma com que Deus havia enriquecido a sua serva: ser apóstola da caridade para com os doentes e os mais necessitados. Cada carisma é um dom, uma possibilidade concreta que o Espírito Santo oferece a cada homem e a cada mulher para encontrar-se com o Senhor. Maria Merkert, como uma moderna samaritana, havia recebido o carisma de encontrar Jesus padecente, abandonado, doente, naqueles que sofriam. E ela fez-se solidária com eles, servindo os miseráveis, crianças abandonadas e pobres. O seu pensamento constante era este: "Cuidai de tudo com atenção, assisti os doentes com amor e paciência e não vos ocupeis de nada que impeça o vosso dever". Maria Merkert não poderia imaginar que aquele ponto do caminho, onde toda a sua obra parecia fracassar, como um mero caso, era o momento escolhido por Deus para provar a sua fé. Ela havia escrito: "Não percamos o ânimo, façamos o que está ao nosso alcance e o mais Deus completará. O mais está nos mãos de Deus". "O mais está nos mãos de Deus". Deus foi o seu conforto e a sua força, como reconhece o decreto sobre as suas virtudes heróicas da Congregação para a Causa dos Santos, de 20 de Dezembro de 2004. "Maria Merkert perseverou na sua missão em tempos muito difíceis e exortava as suas filhas espirituais a comportar-se com a mesma fidelidade". A Serva de Deus Maria Merkert, nasceu na cidade de Nysa, na Silésia, então diocese de Breslávia, no reino da Prússia, a 21 de Setembro de 1817, filha de pais profundamente religiosos, Carlos Antônio e Maria Bárbara Pfitzner. Maria Merkert, com a sua irmã mais velha Matilde, viveu a infância (orfã de pai já aos nove meses de idade) e a juventude nutrida por uma ardente espiritualidade cristã incentivada pelo exemplo de sua mãe, aprendendo as noções elementares na escola católica local. Em 1842 morreu também a sua mãe. A dureza da vida quotidiana e a direcção da casa fizeram dela uma mulher cuidadosa, hábil nos trabalhos manuais e muito prudente. Foi em 1842 que a Providência Divina se manifestou, através de um encontro que se pode pensar tenha sido casual, com a jovem Dorota Clara Wolff, então com trinta e sete anos de idade e interiormente iluminada. Maria se sentiu chamada assim como Clara a cumprir uma particular missão: amar a Deus de modo absoluto, curando os membros sofredores do Corpo de Cristo, segundo as Palavras do Senhor: "Todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes (Mt 25, 40). Assim, Maria, sua irmã Matilde, Dorota Clara e a conterrânea Francisca Werner, uniram-se para iniciar a trabalhar sem nenhuma aprovação canónica, nem votos religiosos, buscando imitar Cristo no seu amor misericordioso, assistindo com admirável abnegação os doentes, sobretudo os agonizantes e as crianças abandonadas em suas casas. Maria era sempre vista ao lado das camas num pobre dormitório colectivo, atendendo com paciência e dignidade a cada necessidade material e também espiritual. Aquelas mulheres corajosas (denominadas popularmente como "irmãs cinzentas") eram assistidas espiritualmente pelo vigário da paróquia de São Tiago, Pe. Francisco Fischer. Era necessário, todavia, encaminhar-se e obter um reconhecimento jurídico por parte da Igreja. O vigário redigiu para elas em 1844 os Estatutos, preparando e transformando a sociedade religiosa em uma verdadeira congregação religiosa. Por este motivo Dorota Clara Wolff e Maria Merkert, com a aprovação do Arcebispo de Praga, iniciaram a 24 de Dezembro de 1846 a formação religiosa do noviciado e um adequado aprendizado dos métodos de assistência aos doentes, com as irmãs de São Carlos Borromeu de Praga, com a intenção de retornarem a Nysa como irmãs canonicamente reconhecidas, como uma nova congregação. Matilde não pode segui-las, pois o Senhor a chamou para Si no dia 8 de Março de 1846. A experiência espiritual da Serva de Deus conheceu então o pleno cumprimento no amor a Cristo crucificado, o homem das dores que sabe bem o que é a humilhação e a rejeição. Foi uma dura prova. O ideal das irmãs de São Carlos Borromeu, no entanto, discordava de alguns pontos da missão que Dorota Clara e Maria se sentiam chamadas a cumprir, sobretudo na assistência aos doentes a domicílio, que as irmãs praticavam extraordinariamente. Sentindo a mudança dos seus planos de vida, Dorota Clara deixou o noviciado de Praga e se separou para sempre de Maria. Esta, cheia de angústia e de perplexidade interior, em 30 de Junho de 1850, juntamente com Francisca Werner decidem deixar as irmãs de São Carlos Borromeu e retornar a Nysa. Como Jesus só e abandonado no Jardim das Oliveiras, a Serva de Deus bebeu o cálice amargo, da incompreensão e hostilidade da parte de muitos, escandalizados pela sua decisão. Foi abandonada também pelo seu director espiritual, Pe. Francisco Fischer. Era aquela, porém, a escola da cruz. Sua especial vocação e missão iniciada em 1842, dava-lhe serenidade, confiança e a esperança de que tudo, no final, sairia bem. "Não percamos o ânimo e impenhemo-nos a fazer o que podemos: o mais está nas mãos de Deus". Não obstante a pesada atmosfera de prejuízos, Francisca Werner e Maria Merkert recomeçaram em Nysa as actividades caritativas sob a protecção de Santa Isabel da Turíngia (1207-1231), conhecida como a santa da caridade para com os indigentes e doentes. Elas conheciam a biografia escrita por Conrado de Marburgo (confessor de Santa Isabel) onde dizia sobre a mesma: "Mandou construir um hospital perto de seu castelo, e recolhia todo tipo de doentes [...]. Visitava-os pessoalmente duas vezes por dia, pela manhã e à tarde. Cuidava directamente dos mais repugnantes. Dava comida para alguns, procurava cama para outros, carregando-os sobre seus próprios ombros, empenhando-se sempre em cada atividade para fazer o bem". A fé destas duas mulheres vinha da protecção divina. Assimilava os ensinamentos da Carta aos Hebreus: "A fé é um modo de possuir desde agora o que se espera" (Hb 11, 1). Os sofrimentos morais foram os exercícios onde aprenderam a apoiar-se somente em Deus. Um ano antes da sua morte, a Serva de Deus escreveu: "Coloquemos fiel e devotamente a nossa vida nas mãos de Deus, pois prometemos dedicar as nossas fracas forças exclusivamente ao seu serviço". Tanto amor oferecido, tanta alegria no sofrimento. Os caminhos de Deus estão muito distantes daqueles percorridos pelos homens e os acontecimentos servem para compreender plenamente a sua vontade. Maria Merkert estava convencida sobre a vontade de Deus e dedicou todas as suas forças aos sofredores e àqueles que necessitavam de ajuda, não temendo nem mesmo pela sua própria vida. A Associação (como eram chamadas as irmãs) constituiu-se em Nysa para curar os doentes abandonados sob a protecção de Santa Isabel. Não era possível, esquecer ou deixar de falar sobre tanta bondade em meio a população e as autoridades civis: em um ano foram tratadas 383 pessoas doentes, distribuídos 11.561 pratos de comida aos pobres. No final de Novembro de 1850, depois de meio ano de actividade, o Magistério civil se declarou disposto a apoiá-las plenamente. Em 4 de Setembro de 1859, chegou também a aprovação da Associação de Santa Isabel por parte do bispo de Breslávia, D. Henrique Förster. A Associação contava já com 60 membros e 11 casas filiais, além da Casa Mãe de Nysa. A partir daquele dia a Associação passou a ser uma Congregação religiosa de direito diocesano. Em 5 de Março de 1860, pela primeira vez, as irmãs professaram os votos religiosos. Maria Merkert foi eleita a primeira Madre-Geral. Em 1871 a Congregação recebeu o reconhecimento pontifício do Beato Pio IX com DECRETUM LAUDIS, confirmado definitivamente em 1887 por Leão XIII. A longa estrada marcada por ofensas, mágoas, obstáculos, calúnias e heroícos sacrifícios, foi reconhecida pela Igreja como "um caminho de Deus". Hoje as Irmãs de Santa Isabel são aproximadamente 1700 e servem a Igreja e a sociedade em várias nações da Europa e da América Latina; também em Jerusalém testemunham com a vida e o trabalhooamormisericordiosode Deus. A Serva de Deus, enfraquecida sob o peso da abnegação, do sacrifício, das responsabilidades e do dinamismo em servir que brotou da sua profunda fé, morreu aos 55 anos de idade, em 14 de Novembro de 1872. As co-irmãs, "órfãs", saudaram-na como uma mãe: "Adeus, nossa amada, querida e boa Mãe". A sua figura permanece viva e actual porque os sofredores na Igreja têm sempre necessidade de ajuda de um "bom Samaritano".
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