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LUÍS BOCCARDO (1861- 1936)

 

O Cónego Luís Boccardo, presbítero da Arquidiocese de Turim, nasceu em Moncalieri (Itália) a 9 de Agosto de 1861. Entrou no Seminário diocesano em 1875, recebeu a Ordenação sacerdotal a 7 de Junho de 1884 e, em seguida, foi destinado como vice-pároco do irmão, o Beato Cônego João Maria Boccardo, pároco de Pancalieri.

Quase um ano depois, o beato Cónego José Allamano chamou o Pe. Luís para ser vice-reitor e padre espiritual dos jovens presbíteros do Internato Eclesiástico da Consolata de Turim. O Internato Eclesiástico da Consolata era uma instituição idealizada e realizada pelo teólogo Luís Guala. Era um colégio onde os sacerdotes recém-ordenados, antes de serem enviados para as paróquias como vice-párocos, permaneciam por dois anos para aperfeiçoar os estudos, de modo especial os de moral. Durante o reitorado de São José Cafasso (1849-1860) o Internato teve o momento mais luminoso da sua história.

Em 1913, o fundador das Irmãs "Pobres Filhas de São Caetano", Pe. João Maria, faleceu deixando como herança ao seu irmão Luís a Congregação, já bastante difundida em várias regiões da Itália, da qual se tornou o superior-geral. Em 1919, o Bispo de Turim confiou-lhe também a direcção do Instituto para os Cegos, que se encontrava numa situação financeira muito difícil.

Naqueles anos o Pe. Luís saneou a balança do Instituto para os Cegos, organizou a vida da congregação das irmãs Pobres Filhas de São Caetano e construiu a sua nova Casa-Mãe em Turim. Fundou e dirigiu a secção piemontesa da União Apostólica do Clero, escreveu apreciadíssimos livros de espiritualidade e hagiografias, escreveu artigos em vários jornais, pregou dezenas de cursos de exercícios espirituais, trabalhou nos cárceres, foi confessor no santuário da Consolata.

Fundou escolas de religião, nelas ensinou e dirigiu-as, num período em que o ensino da religião tinha sido abolido das escolas estatais pelo regime de Mussolini. A característica mais saliente da figura do Cônego Luís Boccardo, que o torna até hoje muito actual, foi sem dúvida o assíduo empenho na direcção espiritual, para a qual verdadeiramente deu o melhor de si.

Em 1931 construiu e doou à diocese de Turim o precioso santuário de Jesus Cristo-Rei e Sacerdote, o primeiro a difundir no Piemonte esta devoção proposta pelo Papa.

Em 1932 fundou o ramo contemplativo das irmãs Pobres Filhas de São Caetano, as "Filhas de Jesus Rei e Sacerdote", religiosas não videntes de vida contemplativa, que até hoje dão continuidade à entrega de se consumirem pelo Senhor na oração para o bem de todos os homens.

O bom Cónego faleceu no dia 9 de Junho de 1936. O seu corpo repousa no santuário por ele edificado.

O processo para a causa de beatificação e de canonização teve início em Turim, no dia 8 de Agosto de 1961.

Mas, que sentido pode ter o emprego de tanta energia, força, recurso, trabalho e pesquisa histórica, para fazer conhecer um sacerdote que viveu há mais de setenta anos?

É preciso dizer que a Igreja beatifica e canoniza, ou seja, apresenta a uma diocese, a um instituto religioso ou até mesmo ao mundo inteiro, as pessoas que julga exemplares para celebrar a santidade de Deus, o três vezes santo; e isso não é pouco se nos recordarmos que o Senhor nos quer santos, isto é, felizes por sermos seus filhos!

Relativamente ao Pe. Luís, podem ser citados três motivos muito importantes e válidos para a beatificação: o amor pelo sacerdócio; a "pastoral de ambiente" e a atenção aos portadores de deficiências.

Antes de tudo, o amor pelo sacerdócio e pelos presbíteros. A sua dedicação aos sacerdotes, silenciosa e escondida, mas muito eficaz e necessária. Hoje de todas as partes se sente a exigência de considerar a figura do presbítero (diocesano ou não) e de se ocupar concretamente dele, dos seus problemas ligados à saúde, à espiritualidade, à frustração da pastoral e ao seu crescimento humano e afectivo. O Pe. Luís amou o seu seminário e trabalhou por ele: a formação poderia ser um ponto de partida para um repensamento sobre o sacerdócio.

Por toda a sua vida, o Pe. Luís dedicou-se ao difícil, massacrante, silencioso e pouco visível serviço pastoral da direcção espiritual. Embora nunca tenha sido pároco, ele trabalhou na "pastoral de ambiente" como é definida hoje com termos modernos. Se o seminário é o ponto de partida, este poderia ser a indicação para o caminho: um repensamento da vida e do testemunho do sacerdote nas várias e concretas situações da vida.

O terceiro e último motivo para a beatificação: poucos anos antes de morrer o Pe. Luís fundou as irmãs Filhas de Jesus Rei, não videntes de vida contemplativa. A atenção aos portadores de deficiências não é uma novidade para o Cônego Boccardo que durante toda a vida, com efeito, se prodigalizou pelos doentes e deficientes, pelos que nada contavam.

"Proclamam-se demasiados beatos", disse alguém. Pode ser... Mas, nesta sociedade frequentemente desorientada e fragmentada, sejam bem-vindos os exemplos daqueles que souberam descobrir o Senhor como único centro unificador da própria existência. Bem-vindos os santos intercessores junto do coração de Deus Pai a fim de que possamos descobri-lo, conhecê-lo e amá-lo como fonte de toda a santidade, inclusive da nossa!

 

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