DEPARTAMENTO PARA AS CELEBRAÇÕES LITÚRGICAS
PRESIDIDA POR SUA SANTIDADE SEXTA-FEIRA SANTA MEDITAÇÕES preparadas por jovens libaneses
Introdução «Alguém correu para Ele e ajoelhou-se perguntando: “Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?”» (Mc 10, 17). A esta pergunta, que arde no mais fundo do nosso ser, Jesus deu resposta percorrendo o caminho da cruz. Contemplamo-Vos, Senhor, nesta estrada, sendo Vós o primeiro que a seguistes e, no fim dela, «lançastes a vossa cruz como uma ponte através da morte, a fim de que os homens pudessem passar da terra da morte para a da Vida» (Santo Efrém, o Sírio, Homilia). A chamada, que fazeis para Vos seguir, é dirigida a todos, especialmente aos jovens e a quantos se sentem provados por divisões, guerras ou injustiças e lutam por ser, no meio de seus irmãos, sinais de esperança e obreiros de paz. Por isso, colocamo-nos com amor diante de Vós, apresentamo-Vos os nossos sofrimentos, voltamos os nossos olhares e os nossos corações para a vossa Santa Cruz e, encorajados pela vossa promessa, rezamos: «Bendito seja o nosso Redentor, que nos deu a vida com a sua morte. Ó [divino] Redentor, realizai em nós o mistério da vossa redenção, pela vossa paixão, a vossa morte e ressurreição» (Liturgia Maronita).
I ESTAÇÃO
Do Evangelho segundo São Marcos 15, 12-13.15 «Tomando novamente a palavra, Pilatos disse-lhes: “Então que quereis que faça daquele a quem chamais rei dos judeus?” Eles gritaram novamente: “Crucifica-o!” (…) Pilatos, desejando agradar à multidão, soltou-lhes Barrabás; e, depois de mandar flagelar Jesus, entregou-o para ser crucificado». Na presença de Pilatos, detentor do poder, Jesus deveria ter obtido justiça. Com efeito, Pilatos tinha o poder para reconhecer a inocência de Jesus e libertá-lo. Mas o governador romano preferiu servir a lógica dos seus interesses pessoais e cedeu às pressões políticas e sociais. Condenou um inocente para agradar à multidão, sem satisfazer a verdade. Entregou Jesus ao suplício da cruz, apesar de saber que era inocente… Antes lavara-se as mãos! No mundo de hoje, existem muitos «Pilatos» que, nas suas mãos, detêm as rédeas do poder e usam-nas ao serviço dos mais fortes. Muitos são aqueles que, fracos e covardes face a estas correntes de poder, empenham a sua autoridade ao serviço da injustiça e espezinham a dignidade do homem e o seu direito à vida. Senhor Jesus,
II ESTAÇÃO
Do Evangelho segundo São Marcos 15, 20 «Depois de o terem escarnecido, tiraram-lhe o manto de púrpura e revestiram-no das suas vestes. Levaram-no, então, para o crucificar». Os soldados, que Jesus Cristo tem pela frente, crêem ter todo o poder sobre Ele, ao passo que «por Ele é que tudo começou a existir, e sem Ele nada veio à existência» (Jo 1, 3). Em todo o tempo, o homem acreditou que ele próprio podia substituir Deus e determinar por si mesmo o bem e o mal (cf. Gn 3, 5), sem referência ao seu Criador e Salvador. Julgou-se omnipotente, capaz de excluir Deus da vida própria e da dos seus semelhantes, em nome da razão, do poder ou do dinheiro. Também hoje o mundo se curva a realidades que procuram expulsar Deus da vida do homem, como o laicismo cego que sufoca os valores da fé e da moral em nome duma suposta defesa do homem, ou o fundamentalismo violento que toma como pretexto a defesa dos valores religiosos (cf. Exort. ap. Ecclesia in Medio Oriente, 29). Senhor Jesus,
III ESTAÇÃO
Do Livro do profeta Isaías 53, 5 «Foi ferido por causa dos nossos crimes, esmagado por causa das nossas iniquidades. O castigo que nos salva caiu sobre ele, fomos curados pelas suas chagas». Aquele que sustenta na sua mão divina os luzeiros do céu e na presença do qual tremem as potestades celestes…, ei-lo que cai por terra, desprotegido, sob o jugo pesado da cruz. Aquele que trouxe a paz ao mundo, ferido pelos nossos pecados, cai sob a carga das nossas culpas. «Vede, ó fiéis, o nosso Salvador que avança pelo caminho do Calvário. Oprimido por amargos sofrimentos, as forças abandonam-no. Vamos ver este acontecimento incrível, que ultrapassa a nossa compreensão e é difícil de descrever. Os alicerces da terra foram abalados e um medo terrível se apoderou dos presentes quando o seu Criador e Deus foi esmagado sob o peso da cruz e se deixou conduzir à morte, por amor de toda a humanidade» (Liturgia Caldeia). Senhor Jesus,
IV ESTAÇÃO
Do Evangelho segundo São Lucas 2, 34-35.51b «Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: “Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; uma espada trespassará a tua alma. Assim hão-de revelar-se os pensamentos de muitos corações”. (…) Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração». Ferido e atribulado, carregando a cruz da humanidade, Jesus encontra sua mãe e, no seu rosto, toda a humanidade. Maria, Mãe de Deus, foi a primeira discípula do Mestre. Acolhendo a palavra do Anjo, encontrou pela primeira vez o Verbo encarnado e tornou-se templo do Deus vivo. Encontrou-o, sem compreender como o Criador do céu e da terra tenha querido escolher uma menina, uma criatura frágil, para encarnar neste mundo. Encontrou-o numa busca constante do seu Rosto, no silêncio do coração e na meditação da Palavra. Julgava ser ela que o buscava, mas, na verdade, era Ele que a procurava. Agora, enquanto carrega a cruz, encontra-a. Jesus sofre ao ver sua mãe sofrer, e Maria por ver sofrer o seu Filho. Mas, deste sofrimento comum, nasce uma humanidade nova. «A paz esteja contigo! Nós vos suplicamos, ó Santa repleta de glória, Virgem perpétua, Mãe de Deus, Mãe de Cristo. Fazei subir à presença do vosso dilecto Filho a nossa prece para que perdoe os nossos pecados» (Theotokion, tirado do Orologion copto, Al-Aghbia 37). Senhor Jesus,
V ESTAÇÃO
Do Evangelho segundo São Lucas 23, 26 «Quando o iam conduzindo, lançaram mão de um certo Simão de Cirene, que voltava do campo, e carregaram-no com a cruz, para a levar atrás de Jesus». O encontro de Jesus com Simão de Cirene é um encontro silencioso, uma lição de vida: Deus não quer o sofrimento nem aceita o mal. E o mesmo se diga do ser humano. Mas o sofrimento, acolhido na fé, transforma-se em caminho de salvação; então, aceitamo-lo como Jesus e ajudamos a carregá-lo como Simão de Cirene. Senhor Jesus,
VI ESTAÇÃO
Do Livro dos Salmos Sal 27, 8-9 «O meu coração murmura por ti, os meus olhos te procuram; é a tua face que eu procuro, Senhor. Não desvies de mim o teu rosto, nem afastes, com ira, o teu servo. Tu és o meu amparo: não me rejeites nem abandones, ó Deus, meu Salvador!» A Verónica procurou-vos no meio da multidão. Procurou-vos e finalmente vos encontrou. Quando o vosso sofrimento estava no auge, ela quis suavizá-lo, enxugando-vos o rosto com um pano. Um pequeno gesto, mas exprimia todo o seu amor por Vós e toda a sua fé em Vós; ficou gravado na memória da nossa tradição cristã. Senhor Jesus,
VII ESTAÇÃO
Do Livro dos Salmos Sal 22, 8.12 «Todos os que me vêem escarnecem de mim; estendem os lábios e meneiam a cabeça. (…) Não te afastes de mim, porque estou atribulado e não há quem me ajude». Jesus está sozinho sob o peso interior e exterior da cruz. Sobrevém a queda, quando o peso do mal se torna demasiado grande e parece já não haver limite à injustiça e à violência. Mas Ele volta a levantar-se, fortalecido com a confiança infinita que tem em seu Pai. Perante os homens que o abandonam à sua sorte, a força do Espírito o levanta; une-o inteiramente à vontade do Pai, à vontade do amor que tudo pode. Senhor Jesus, na vossa segunda queda,
VIII ESTAÇÃO
Do Evangelho segundo São Lucas 23, 27-28 «Seguiam Jesus uma grande multidão de povo e umas mulheres que batiam no peito e se lamentavam por Ele. Jesus voltou-se para elas e disse-lhes: “Filhas de Jerusalém, não choreis por mim, chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos”». No caminho do Calvário, o Senhor encontra as mulheres de Jerusalém. Estas mulheres choram o sofrimento do Senhor, como se se tratasse de um sofrimento sem esperança. Olhando a cruz, elas não vêem senão o madeiro, sinal de maldição (cf. Dt 21, 23), ao passo que o Senhor a desejou como meio de Redenção e Salvação. Na Paixão e Crucifixão, Jesus oferece a sua vida em resgate por muitos. Assim deu Ele alívio a quantos estavam oprimidos sob o jugo e consolou os aflitos. Enxugou as lágrimas das mulheres de Jerusalém e abriu-lhes os olhos à verdade pascal. O nosso mundo está cheio de mães aflitas, de mulheres feridas na sua dignidade, lesadas pelas discriminações, a injustiça e o sofrimento (cf. Exort. ap. Ecclesia in Medio Oriente, 60). Ó Cristo padecente, sede a sua paz e o bálsamo das suas feridas. Senhor Jesus,
IX ESTAÇÃO
Da Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios 5, 14-15 «O amor de Cristo nos absorve completamente, ao pensar que um só morreu por todos e, portanto, todos morreram. Ele morreu por todos, a fim de que, os que vivem, não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou». Pela terceira vez, Jesus cai sob a cruz, sobrecarregado com os nossos pecados, e pela terceira vez procura levantar-se reunindo as forças que lhe restam, para continuar o caminho para o Gólgota, recusando deixar-se esmagar e sucumbir à tentação. A partir da sua Encarnação, Jesus carrega a cruz do sofrimento humano e do pecado. Assumiu plena e eternamente a natureza humana, mostrando aos homens que a vitória é possível e que o caminho da filiação divina está aberto. Senhor Jesus,
X ESTAÇÃO
Do Livro dos Salmos Sal 22, 19 «Repartem entre si as minhas vestes e sorteiam a minha túnica». Na plenitude dos tempos, revestistes-Vos, Senhor Jesus, da nossa humanidade, Vós cujas «franjas do manto enchiam o templo» (Is 6, 1); agora, caminhais entre nós, e quantos tocam a franja das vossas vestes ficam curados. Mas, até destas vestes, fostes despojado, Senhor! Roubámo-Vos a capa, e Vós destes-nos também a túnica (cf. Mt 5, 40). Permitistes que o véu da vossa carne se rasgasse, para sermos de novo admitidos à presença do Pai (cf. Heb 10, 19-20). Pensávamos que podíamos realizar-nos por nós mesmos, independentemente de Vós (cf. Gn 3, 4-7). Resultado: demos por nós nus, mas, no vosso amor infinito, revestistes-nos da dignidade de filhos e filhas de Deus e da vossa graça santificante. Concedei, Senhor, aos filhos das Igrejas Orientais – despojados por vários contratempos, incluindo às vezes a perseguição, e debilitados pela emigração – a coragem de permanecer nos seus países para anunciarem a Boa Nova. Ó Jesus, Filho do Homem,
XI ESTAÇÃO
Do Evangelho segundo São João 19, 16a.19 «Então, entregou-o para ser crucificado. (…) Pilatos redigiu um letreiro e mandou pô-lo sobre a cruz. Dizia: “Jesus Nazareno, Rei dos Judeus”». Eis o Messias esperado, suspenso no madeiro da cruz entre dois ladrões. As duas mãos que abençoaram a humanidade estão trespassadas. Os dois pés que palmilharam a nossa terra para anunciar a Boa Nova estão suspensos entre a terra e o céu. Os olhos cheios de amor, que, com um simples olhar, curaram os enfermos e perdoaram os nossos pecados, já não fixam senão o Céu. Senhor Jesus,
XII ESTAÇÃO
Do Evangelho segundo São Lucas 23, 46 «Dando um forte grito, Jesus exclamou: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”. Dito isto, expirou». Do alto da cruz, um grito! Grito de abandono no momento da morte, grito de confiança no sofrimento, grito do parto de uma nova vida. Vemo-Vos, suspenso na Árvore da Vida, entregar o vosso espírito nas mãos do Pai, fazendo jorrar a vida em abundância e moldando a nova criatura. Hoje, também nós enfrentamos os desafios deste mundo: sentimos que as ondas das preocupações nos submergem e fazem vacilar a nossa confiança. Senhor, reforçai intimamente a nossa certeza de que, enquanto repousarmos nas mãos que nos formaram e acompanham, nenhuma morte nos vencerá. E possa cada um de nós exclamar: «Ontem, estava crucificado com Cristo, Nas trevas das nossas noites,
XIII ESTAÇÃO
Do Evangelho segundo São João 19, 26-27a «Então, Jesus, ao ver ali ao pé a sua mãe e o discípulo que Ele amava, disse à mãe: “Mulher, eis o teu filho!” Depois, disse ao discípulo: “Eis a tua mãe!”». Senhor Jesus, aqueles que Vos amam permanecem ao vosso lado e conservam a fé. Na hora da agonia e da morte, quando o mundo pensa que o mal triunfa e que a voz da verdade e do amor, da justiça e da paz é silenciada, a fé deles não desfalece. Ó Maria, nas vossas mãos, colocamos a nossa terra. «Como é triste ver esta terra bendita sofrer nos seus filhos que encarniçadamente se destroçam uns aos outros, e morrem!» (Exort. ap. Ecclesia in Medio Oriente, 8). Parece que não há nada que possa acabar com o mal, o terrorismo, o homicídio e o ódio. «Diante da cruz, na qual o vosso Filho estendeu as suas mãos imaculadas para a nossa salvação, ó Virgem, nos prostramos neste dia: concedei-nos a paz» (Liturgia Bizantina). Rezamos
XIV ESTAÇÃO
Do Evangelho segundo São João 19, 39-40 «Nicodemos, aquele que antes tinha ido ter com Jesus de noite, apareceu também trazendo uma mistura de perto de cem libras de mirra e aloés. Tomaram então o corpo de Jesus e envolveram-no em panos de linho com os perfumes, segundo o costume dos judeus». Nicodemos recebe o corpo de Cristo, cuida dele e depõe-no num sepulcro, no meio de um jardim que recorda o da Criação. Jesus deixa-se sepultar tal como se deixou crucificar, no mesmo abandono, inteiramente «entregue» nas mãos dos homens e «perfeitamente unido» a eles «até ao sono sob a laje do túmulo» (São Gregório de Narek). Aceitar as dificuldades, os acontecimentos dolorosos, a morte… exige uma esperança firme, uma fé viva. A pedra colocada à entrada do túmulo será removida, e surgirá uma nova vida. Na realidade, «pelo Baptismo fomos sepultados com Ele na morte, para que, tal como Cristo foi ressuscitado de entre os mortos pela glória do Pai, também nós caminhemos numa vida nova» (Rm 6, 4). Recebemos a liberdade de filhos de Deus, para não voltar à escravidão; a vida é-nos dada em abundância, para não mais nos contentarmos com uma vida sem beleza nem significado. Senhor Jesus,
© Copyright 2013 - Libreria Editrice Vaticana
|
|