The Holy See
back up
Search
riga

HOMILIA DO CARDEAL ROGER ETCHEGARAY
 NA SANTA MISSA DE EXPIAÇÃO
E DE RECONCILIAÇÃO
CELEBRADA EM BELÉM

Domingo, 12 de Maio de 2002

 

 


Hoje, em Belém, como na noite de Natal de há dois mil anos, Deus que se fez homem vem dar um novo início à "paz na terra"... na Terra Santa. O lugar sagrado da Natividade de Jesus acaba de conhecer um longo Calvário, mas enfim chegou a manhã da Páscoa. Prostramo-nos diante de Deus, "três vezes Santo", pois é Ele que nos conduz sempre pelos caminhos que, segundo o profeta Isaías, nunca são os nossos, impelindo-nos assim a compreender melhor que Ele é o único Mestre da história. Esta Santa Missa exprime, em todo o seu esplendor pascal, a plenitude de uma Eucaristia de louvor, de expiação e de reconciliação. Ela deve ajudar-nos a descobrir melhor as raízes autênticas da paz, que mergulham no coração do homem reconciliado com Deus.

Unimo-nos às comunidades franciscana, greco-ortodoxa e arménia, que são responsáveis por este lugar santo e deram o testemunho do amor de Deus no meio de muitos sofrimentos. Agradecemos às organizações caritativas e humanitárias, tanto locais como internacionais, que ofereceram e ainda continuam a oferecer a assistência e o conforto a Belém e às cidades vizinhas. Rezamos por todos os participantes nas negociações, a fim de que dêem prova de grande inteligência, de imaginação e de inspiração, para chegar ao termo de uma longa corrida de obstáculos e "restituir este lugar santo a Deus e ao homem", segundo uma expressão de João Paulo II. Estamos gratos aos meios de comunicação, cuja tarefa também é difícil, que nos mantiveram na expectativa para nos aproximar na maior medida possível dos dois povos dilacerados mas, apesar de tudo, unidos na sua profunda aspiração à justiça e à paz.

Belém, um nome que ressoa incessantemente, com todas as suas harmonias de ternura divina, de fraternidade humana e de paz universal. Belém é a primeira cidade santa, cujo nome aprendi ao colo da minha mãe, que me falava acerca do nascimento de Jesus na gruta de Belém. Era maravilhoso. Ainda criança, familiarizei-me com Maria, José, os pastores, os magos e até mesmo com os anjos; eu considerava Belém como minha própria aldeia e sentia-me belemita! E hoje, mais do que nunca, somos todos filhos de Belém.

Que extraordinário poder de evocação tem o Presépio, para quem dele se aproxima com um espírito de criança! Na sua homilia pronunciada na "Praça da Manjedoura", no dia 22 de Março de 2000, o Papa disse-nos:  "Hoje dirigimos o olhar para um momento de há dois mil anos, mas em espírito abraçamos todos os tempos... Celebramos um Menino recém-nascido, mas incluímos todos os homens e mulheres, onde quer que estejam. Hoje... proclamamos com força, em todos os tempos e praças, e a cada pessoa:  "A paz esteja convosco! Não tenhais medo!"" (Ed. port. de L'Osservatore Romano de 25 de Março de 2000, pág. 9, n. 5).

A paz entre os homens, a paz entre os povos, não pode nascer e crescer, se não existir antes em cada homem, em cada povo. Agora, temos que dirigir o nosso olhar para além de Belém e incluir a Terra Santa num único horizonte. A alegre empresa que hoje festejamos deve levar a instaurar a paz em toda a Terra de Cristo. Tudo pela justiça, tudo pelo diálogo e nada com o recurso à violência. O caminho é muito íngreme e longo. A porta que abre este caminho é ainda mais estreita do que a entrada baixa desta Basílica da Natividade. Quantas ruínas devemos desaterrar, ruínas que são materiais, mas sobretudo morais!

Todos nós temos a obrigação de nos perdoarmos uns aos outros. Todos nós precisamos uns dos outros. Por isso, devemos encorajar-nos reciprocamente. A misericórdia de Deus sempre desce a um nível mais profundo do que a miséria do homem.

Deste modo, com os Anjos do Campo dos Pastores, cantemos:  "Glória a Deus,  e  Paz  aos  homens  de  boa vontade!".

Jesus, Maria e José, oxalá a terra inteira acolha a mensagem de Belém!

 

 

top