Hoje, em Belém, como na noite de Natal de há dois mil anos, Deus que se fez homem vem dar um novo início à "paz na terra"... na Terra Santa. O lugar sagrado da Natividade de Jesus acaba de conhecer um longo Calvário, mas enfim chegou a manhã da Páscoa. Prostramo-nos diante de Deus, "três vezes Santo", pois é Ele que nos conduz sempre pelos caminhos que, segundo o profeta Isaías, nunca são os nossos, impelindo-nos assim a compreender melhor que Ele é o único Mestre da história. Esta Santa Missa exprime, em todo o seu esplendor pascal, a plenitude de uma Eucaristia de louvor, de expiação e de reconciliação. Ela deve ajudar-nos a descobrir melhor as raízes autênticas da paz, que mergulham no coração do homem reconciliado com Deus.
Unimo-nos às comunidades franciscana, greco-ortodoxa e arménia, que são responsáveis por este lugar santo e deram o testemunho do amor de Deus no meio de muitos sofrimentos. Agradecemos às organizações caritativas e humanitárias, tanto locais como internacionais, que ofereceram e ainda continuam a oferecer a assistência e o conforto a Belém e às cidades vizinhas. Rezamos por todos os participantes nas negociações, a fim de que dêem prova de grande inteligência, de imaginação e de inspiração, para chegar ao termo de uma longa corrida de obstáculos e "restituir este lugar santo a Deus e ao homem", segundo uma expressão de João Paulo II. Estamos gratos aos meios de comunicação, cuja tarefa também é difícil, que nos mantiveram na expectativa para nos aproximar na maior medida possível dos dois povos dilacerados mas, apesar de tudo, unidos na sua profunda aspiração à justiça e à paz.
Belém, um nome que ressoa incessantemente, com todas as suas harmonias de ternura divina, de fraternidade humana e de paz universal. Belém é a primeira cidade santa, cujo nome aprendi ao colo da minha mãe, que me falava acerca do nascimento de Jesus na gruta de Belém. Era maravilhoso. Ainda criança, familiarizei-me com Maria, José, os pastores, os magos e até mesmo com os anjos; eu considerava Belém como minha própria aldeia e sentia-me belemita! E hoje, mais do que nunca, somos todos filhos de Belém.
Que extraordinário poder de evocação tem o Presépio, para quem dele se aproxima com um espírito de criança! Na sua homilia pronunciada na "Praça da Manjedoura", no dia 22 de Março de 2000, o Papa disse-nos: "Hoje dirigimos o olhar para um momento de há dois mil anos, mas em espírito abraçamos todos os tempos... Celebramos um Menino recém-nascido, mas incluímos todos os homens e mulheres, onde quer que estejam. Hoje... proclamamos com força, em todos os tempos e praças, e a cada pessoa: "A paz esteja convosco! Não tenhais medo!"" (Ed. port. de L'Osservatore Romano de 25 de Março de 2000, pág. 9, n. 5).
A paz entre os homens, a paz entre os povos, não pode nascer e crescer, se não existir antes em cada homem, em cada povo. Agora, temos que dirigir o nosso olhar para além de Belém e incluir a Terra Santa num único horizonte. A alegre empresa que hoje festejamos deve levar a instaurar a paz em toda a Terra de Cristo. Tudo pela justiça, tudo pelo diálogo e nada com o recurso à violência. O caminho é muito íngreme e longo. A porta que abre este caminho é ainda mais estreita do que a entrada baixa desta Basílica da Natividade. Quantas ruínas devemos desaterrar, ruínas que são materiais, mas sobretudo morais!
Todos nós temos a obrigação de nos perdoarmos uns aos outros. Todos nós precisamos uns dos outros. Por isso, devemos encorajar-nos reciprocamente. A misericórdia de Deus sempre desce a um nível mais profundo do que a miséria do homem.
Deste modo, com os Anjos do Campo dos Pastores, cantemos: "Glória a Deus, e Paz aos homens de boa vontade!".
Jesus, Maria e José, oxalá a terra inteira acolha a mensagem de Belém!