MENSAGEM DO SANTO PADRE
POR OCASIÃO DO 40º ANIVERSÁRIO DA CRIAÇÃO
DA FUNDAÇÃO JOÃO PAULO II PARA O SAHEL
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Dirijo as minhas saudações aos corpos diplomáticos presentes, aos representantes das instituições internacionais e nacionais e a todos os participantes na comemoração do 40º aniversário da criação da Fundação João Paulo II para o Sahel.
Este diálogo de alto nível, que se centra no tema da desertificação, dá-me a oportunidade de recordar o seu santo fundador, através do apelo solene que lançou ao mundo inteiro a favor desta parte de África, a 10 de maio de 1980, em Uagadugu. Foi uma voz suplicante e cheia de solicitude que ainda hoje ressoa para os pobres e vulneráveis do Sahel. «A voz dos pais e das mães que viram os seus filhos morrer sem compreender, ou que verão sempre nos seus filhos as consequências da fome que sofreram; a voz das gerações futuras que já não têm de viver com a terrível ameaça à sua existência» (Homilia em Uagadugu, 10 de maio de 1980). Era a voz dos que não tinham voz, a voz dos inocentes que morriam por falta de água e de pão.
Assim, a Fundação João Paulo II para o Sahel foi criada e erigida pelo santo Papa para que o seu apelo continuasse a ser um sinal eficaz do amor da Igreja pelos seus filhos e filhas da África Ocidental. A Santa Sé segue a Fundação com particular interesse através do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, consciente de que as suas atividades contribuem para melhorar a situação humanitária e social das populações do Sahel.
Como o meu predecessor justamente salientou, os desertos externos podem ser um reflexo dos desertos internos, e «o modo como o homem trata o ambiente incide sobre o modo como trata a si mesmo e vice-versa» (Bento XVI, Carta Encíclica Caritas in veritate, n. 51).
A nossa ação solidária e responsável nasce da nossa fé em Deus criador e do amor ao próximo (cf. Mt 22, 37-40).
Cuidar da casa comum e cuidar de cada pessoa, criada à imagem e semelhança de Deus são, portanto, atitudes que andam de mãos dadas. Fazem parte da caridade e testemunham o amor de Cristo, sinal vivo da caridade.
Cada encontro com uma pessoa ou com um povo em situação de pobreza ou de vulnerabilidade provoca-nos e questiona-nos. Como podemos ajudar a eliminar, ou pelo menos a aliviar, a sua marginalização e o seu sofrimento? O povo de Deus deve estar na linha da frente, sempre e em todo o lado, para responder ao grito silencioso dos muitos pobres de todo o mundo, particularmente no Sahel, para lhes dar voz, para os defender e para se solidarizar com eles perante tanta hipocrisia e tantas promessas não cumpridas (cf. Mensagem para o 4º Dia Mundial dos Pobres, 15 de novembro de 2020).
Alguns países desta região da África Ocidental continuam a viver crises que ameaçam cada vez mais a paz, a estabilidade, a segurança e o desenvolvimento. Estes fenómenos, ligados ao terrorismo, à precariedade económica, às alterações climáticas e às lutas intercomunitárias, agravam a vulnerabilidade dos Estados e a pobreza dos seus cidadãos, tendo como consequência a migração dos jovens. Este contexto torna a tarefa da Fundação cada vez mais difícil, mas cada vez mais indispensável.
Neste dia de comemoração, fazendo eco do grito sentido de São João Paulo II, reitero o seu apelo a todas as pessoas de boa vontade do mundo inteiro: trabalhai pela segurança, pela justiça e pela paz no Sahel!
A paz permite o desenvolvimento humano integral, que se constrói dia após dia na prossecução da ordem querida por Deus, e só pode florescer quando cada um reconhece a própria responsabilidade na sua promoção (cf. Paulo VI, Mensagem para o Dia Mundial da Paz, 1 de janeiro de 1974). Lanço um apelo a todos os atores, em África e no resto do mundo, em particular aos decisores políticos e económicos. A sua responsabilidade está em jogo.
Já não é tempo de esperar, é preciso agir! Ninguém pode negar o direito fundamental de cada ser humano a viver com dignidade e a desenvolver-se plenamente. «Se cada um vale tanto, é preciso afirmar com clareza e firmeza que a simples constatação de ter nascido num lugar com menos recursos ou menos desenvolvimento não justifica que algumas pessoas vivam com menos dignidade». «Por conseguinte, é um ato de caridade igualmente indispensável lutar para organizar e estruturar a sociedade de modo a que o próximo não se encontre na miséria. É caridade estar perto de uma pessoa que sofre, e é também caridade fazer tudo, mesmo sem ter contacto direto com ela, para mudar as condições sociais que causam o seu sofrimento» (Carta Encíclica Fratelli tutti, nn. 106 e 186).
Faço votos de que esta comemoração da criação da Fundação João Paulo II para o Sahel permita identificar, promover e realizar, com determinação, todas as iniciativas necessárias para a construção da justiça e da paz, para um desenvolvimento humano integral e sustentável de todas as populações do Sahel. Concedo-vos a minha Bênção. E, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim.
Francisco
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